Contra números não há argumentos. Nesta sexta-feira (30) foi divulgado que, no primeiro trimestre de 2021, o Produto Interno Bruto (PIB) da Zona do Euro encolheu 1,8 por cento em relação ao mesmo período do ano passado. Na véspera, no dia 29, os Estados Unidos divulgaram um crescimento econômico de 6,4 por cento no primeiro trimestre ante o trimestre anterior. Na comparação com o primeiro trimestre de 2020, o PIB avançou de 21,56 trilhões de dólares para 22,05 trilhões de dólares, alta de 2,2 por cento (dessazonalizado). E duas semanas atrás, no dia 16 de abril, a China surpreendeu ao divulgar um crescimento de 18,3 por cento no PIB no primeiro trimestre, frente aos três primeiros meses de 2020.
Como explicar tamanha disparidade em economias bastante conectadas? A explicação reside em um fator externo às variáveis macroeconômicas: a velocidade da vacinação. As principais medidas “não farmacológicas” para atenuar a pandemia são as medidas de isolamento social, o uso de máscaras e a higienização sistemática. As máscaras e a higienização não afetam a economia. Porém, as medidas de isolamento, que são essenciais, revelam-se particularmente danosas para o setor de serviços, que é muito relevante nas economias mais desenvolvidas. Mais isolamento, menos gente na rua consumindo serviços e menos crescimento do PIB.
Assim, se estabelece uma relação direta entre vacinação e retomada do crescimento. China e Estados Unidos vacinaram bastante, e suas economias cresceram aceleradamente. Na Zona do Euro, a vacinação foi mais lenta, daí a retomada ainda não ter chegado com tanta força. No entanto, à medida que a população europeia for sendo imunizada, espera-se uma regularização das atividades. Se confirmada, essa expectativa será uma bênção para países que dependem do turismo. Em Portugal, por exemplo, a economia se retraiu 3,3 por cento no primeiro trimestre, o pior resultado do grupo. A chegada do verão, com centenas de milhões de europeus ansiosos por atividades coletivas e ao ar livre após muitos meses de isolamento deverá provocar um fluxo intenso de turistas.
E o Brasil? Por aqui, a vacinação tem sido lenta. Pela lógica, isso deveria atrasar o movimento de retomada. Porém, é preciso levar alguns pontos em consideração. O primeiro é que o Brasil é, historicamente, bom de vacina. Desde as campanhas contra a poliomielite, prevalentes nos anos 1970, até a mais recente imunização contra a gripe, o País vem aperfeiçoando seus métodos. Atualmente, se houver vacina, é possível imunizar 2 milhões de brasileiros por dia. Assim, em pouco mais de dois meses haveria 70 por cento de brasileiras e brasileiros vacinados, permitindo quase normalizar as relações da economia. E nesse aspecto a chegada, ontem, de um milhão de doses do imunizante da Pfizer BioNtech é uma excelente notícia. Em termos absolutos, esse lote permite imunizar 500 mil pessoas, o que é pouco. Em termos relativos, o desembarque das vacinas, com direito a transmissão ao vivo pela televisão, estabelece relações regulares entre as autoridades sanitárias brasileiras e um dos maiores produtores de vacinas do mundo, o que permite prever um aumento rápido e expressivo da oferta de doses.
A perspectiva de aumento da oferta das vacinas não é a única notícia positiva. Nos últimos dias, a taxa de câmbio tem recuado. Na quinta-feira (29), o dólar fechou a 5,34 reais. No fim de março, ele estava cotado a 5,63 reais, tendo atingido um máximo de 5,73 reais no dia 12 de abril. Na ponta do lápis, o dólar caiu 5,2 por cento em relação ao real ao longo de abril e essa queda foi provocada por vários motivos. Entre eles, a garantia de manutenção de liquidez elevada e estímulos econômicos nos Estados Unidos, os recordes nos preços das commodities que o País exporta, e uma relativa distensão na área fiscal, com a aprovação do Orçamento. O dólar não é apenas uma relação entre moedas, mas também é um dos principais indicadores de expectativas da economia. Assim, uma apreciação do real em relação à moeda americana mostra uma redução das tensões. E expectativas são um ingrediente essencial para a tomada das decisões econômicas.
Indicadores econômicos
A taxa de desocupação no trimestre encerrado em fevereiro ficou estável em 14,4 por cento em relação aos 14,1 por cento do trimestre anterior, mas subiu 2,7 pontos percentuais na comparação com a taxa do trimestre encerrado em fevereiro de 2020, que foi estimada em 11,6 por cento. O número de desempregados no Brasil foi estimado em 14,4 milhões, o maior contingente desde 2012, início da série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua. O resultado representa uma alta de 2,9 por cento, ou de mais 400 mil pessoas desocupadas frente ao trimestre anterior (setembro a novembro de 2020), ocasião em que a desocupação foi estimada em 14,0 milhões de pessoas. Os dados foram divulgados nesta sexta-feira (30) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
E Eu Com Isso?
O último pregão de abril começa com um movimento de realização de lucros tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos. Os contratos futuros de Ibovespa e do índice americano S&P 500 estão em baixa, indicando uma pausa após vários dias de alta.
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