O cenário econômico parece evoluir para o tão esperado corte dos juros. Primeiro pelo próprio comportamento da inflação. O IPCA vem rodando abaixo do esperado, com projeções em queda. Mesmo que haja novo estouro este ano, e é a previsão, o pior já parece ter passado. Houve uma boa safra agrícola, tem a acomodação maior de preços de commodities no exterior, o dólar cedeu bastante e não se vê muitos possíveis novos fatores de pressão. A Petrobras até anunciou novo corte da gasolina nas distribuidoras, que deve ter alguma repercussão no varejo, nem que seja para segurar aumentos. E tem a atividade, com avanço contido, que não deve dar espaço para muitos aumentos de preços.
É certo que o PIB do primeiro trimestre, acima do previsto, em 1,9%, jogou as projeções do ano acima de 2%. Mas sabemos que a expansão foi puxada, principalmente, pela agropecuária. O segundo trimestre começou com frustrações: vendas do comércio e serviços em queda, o que tem relação com o atual nível dos juros, tanto via custo do crédito, como pelo alto endividamento e a inadimplência das famílias. A indústria continua patinando, prejudicada há muito tempo por outras questões estruturais da economia que comprometem a atividade. Enfim, a economia pode ter performance melhor que a esperada este ano, mas sem aquecimento que possa trazer mais dificuldades no controle da inflação. Isso mesmo considerando medidas do governo que tentam dar impulsos pontuais, como carro popular, o Desenrola, além de programas de transferência de renda e até o aumento da massa salarial com a retomada do emprego que houve desde o ano passado.
Ainda tem a questão fiscal. O arcabouço e outras posturas da equipe econômica têm dado maior confiança quanto à evolução das contas e da dívida pública, a ponto de a S&P ter colocado a nota de crédito do País em perspectiva positiva, o que não acontecia desde 2019.
Sem empolgação exagerada, até levando em conta a importância que a política monetária teve para chegarmos ao atual cenário, já pode ser hora de alguma flexibilização. Talvez não na reunião da próxima semana do Copom, mas na de agosto. Porém, com alguma sinalização nesse sentido agora, até para reduzir tensões e desgastes, que possam facilitar possíveis intervenções, como na definição de novas metas. O comportamento recente do mercado tem incorporado essa expectativa de flexibilização. Nem a mudança no horizonte da meta está fora do radar. O que não pode ocorrer é a leniência com uma inflação mais elevada, medidas que passem essa ideia.
Vale ressaltar na prospecção do cenário a pausa dada pelo Federal Reserve na elevação dos juros, nos Estados Unidos, mostrando uma certa cautela quanto ao impacto represado do aperto monetário sobre a atividade. Mesmo que tenha indicado novos possíveis aumentos neste ano, diante da robustez do emprego e da inflação bem acima da meta de 2%. Combinação que também fez o BCE elevar mais as taxas, reafirmando a intenção de dar prosseguimento à atual política. Mas vamos lembrar que o nosso BC saiu na frente e já estamos há um bom tempo no topo do ranking dos juros reais. Agora é aguardar a próxima semana e, mais do que a decisão, o comunicado do Copom.