O mercado tem refletido muito das expectativas em relação aos juros nos Estados Unidos e esta semana foi marcada por oscilações dessas expectativas tanto por falas de Jerome Powell, presidente do Federal Reserve como por indicadores acompanhados com muita atenção. Depois de sinalizar ajustes e aumento total das taxas de juros maiores, o dirigente do FED amenizou o discurso, mostrando que a situação não está definida, mesmo com a reação de alguns dados de atividade e a robustez do mercado de trabalho, que podem dificultar o controle da inflação. Portanto, é uma questão que ainda poderá deixar o mercado em alerta por um bom tempo, o que se configura através de mais volatilidade.
Já no que se refere às expectativas domésticas, ainda que só se tenha a indicação de que as proposta do novo arcabouço fiscal já está pronta para ser apresentada ao presidente Lula, para posterior encaminhamento ao Congresso, na forma de Lei complementar, sem garantia do apoio necessário para aprovação, o mercado começa a ter uma leitura mais flexível quanto à possibilidade de antecipação do início dos cortes da Selic. Depois de muitas críticas às pressões do governo por cortes dos juros básicos, cujo nível vai na contramão dos estímulos ao crescimento, se está colocando na balança o risco sistêmico de uma crise de crédito.
O caso Americanas, o tamanho do calote envolvido, especialmente juntos aos bancos, acabou impondo uma restrição forte à concessão de recursos que pode levar a dificuldades para outras empresas, de pequeno a grande porte. Risco admitido por integrantes do governo, economistas, empresários e analistas de mercado. Cenário que pode reforçar a tendência de perda de ritmo da atividade da economia, já esperada por conta dos juros elevados, o que estabeleceria condições, junto com a promessa das novas regras de gestão das finanças públicas, para começo do corte da taxa básica ou, pelo menos, uma análise menos dura do BC na próxima reunião do Copom.
Na verdade, não era o tipo de perda de ritmo da atividade esperada. O aperto deveria vir mais do lado do consumo, freando aumentos de preços, não de uma crise de crédito para as empresas. Paralelamente, ao caso Americanas, ainda tem o aumento do endividamento e da inadimplência, tornando o crédito mais restritivo de uma forma geral. Situação que como eu disse leva a prognósticos diferenciados quanto à possível antecipação de cortes da Selic, mesmo que ainda não se tenha segurança de que o arcabouço fiscal que o governo irá propor vai estabelecer regras que sejam efetivamente limitadoras dos gastos e assegurem melhor evolução da dívida e das contas públicas.
Mas o fato é que há uma abertura maior, do mercado, a uma possível maleabilidade do Banco Central, que já levou até a menos pressões da curva de juros. Sem esquecer que após 11 semanas em alta, a projeção de inflação no Focus não subiu na última semana.
É ver se não vão surgir novos ruídos, tão comuns desde a posse do novo governo, e se não haverá frustração com as regras de substituição do teto de gastos, que a equipe econômica corre para apresentar antes da reunião do Copom, dos dias 20 e 21 deste mês. Mais uma tentativa de influenciar a avaliação de cenário dos integrantes do Comitê. A ministra do Planejamento, Simone Tebet até já antecipou que o arcabouço é responsável e vai agradar ao mercado, com foco em zerar o déficit fiscal.
Pode até ser que o cenário mais benigno se confirme, com perspectivas melhores de responsabilidade fiscal. Só que, por enquanto, são mais suposições e disposição para expectativas mais favoráveis que, aliás, têm oscilado bastante. De qualquer modo, contar com eventual corte dos juros por um risco de crise de crédito não é uma condição positiva. Seria mais um gerenciamento de danos. Mas é uma crise cujos desdobramento podem ser bem nocivos para a economia. Daí a adesão maior à possível antecipação de cortes da Selic. É aguardar a avaliação do Banco Central em relação a todas essas discussões.