Sabe aquele investimento ma-ra-vi-lho-so (aqui vale o exagero verbal) que paga 100 por cento dos juros de mercado medidos pelo CDI e é isento de impostos? Aquele que é anunciado como reservado “só para você, que é um cliente mais do que especial”? Então. Se optar por essa maravilha entre as aplicações financeiras e deixar seu suado dinheiro lá por um ano, ao fim de 12 meses, você terá 1 por cento de perda real. Na ponta do lápis, os juros reais brasileiros estão negativos pela primeira vez desde o início do Plano Real, em 1994.
Na quarta-feira (17), em que o Comitê de Política Monetária (Copom) confirmou os prognósticos e reduziu a taxa referencial Selic para 2,25 por cento ao ano. Pela primeira vez, a autoridade monetária resolveu correr o risco de manter os juros referenciais abaixo da taxa de inflação prevista para os próximos 12 meses. E o Copom pode não parar por aí. Nas entrelinhas do comunicado divulgado após a reunião, é possível ler que o Comitê não descarta a possibilidade de um pequeno corte adicional de 0,25 por cento, mandando a Selic para 2 por cento ao ano.
Apesar de o movimento já ser esperado – o corte de 0,75 ponto percentual decidido ontem era uma certeza – a medida tem efeitos importantes, tanto simbólicos quanto práticos.
Em termos simbólicos, juros reais negativos indicam que a velha prática de deixar o dinheiro estacionado em aplicações de renda fixa sem risco e se beneficiar de taxas de juros de dois dígitos acabou – aparentemente, para sempre. Não se descarta a hipótese de os juros voltarem a subir em um futuro não tão próximo, caso a inflação mostre sinais de descontrole. Mesmo assim, uma Selic acima de 10 por cento hoje parece absurdamente improvável. E juros reais elevados o suficiente para justificar uma volta do velho rentismo parecem igualmente improváveis, exceto em caso de catástrofe econômica.
Em termos práticos, o investidor brasileiro terá de sair do ambiente protegido das aplicações de baixa volatilidade (que são incorretamente apregoadas como “sem risco”) e terá de aprender a lidar com investimentos estruturalmente mais voláteis, sob pena de perder dinheiro. Sim, perder. A partir de agora, a opção pela baixa volatilidade quer dizer prejuízo, e não mais um “ganho menor” ou uma “defesa contra a inflação”.
Assim, não é exagero dizer que a decisão do Copom anunciada no fim da tarde da quarta-feira foi um divisor de águas no cenário brasileiro dos investimentos. O investidor brasileiro terá de sair da infância e lidar com seu dinheiro como adulto, sob pena de ver seu patrimônio duramente conquistado ser corroído pelo tempo.
INDICADORES – O Banco Central (BC) divulgou, na manhã desta quinta-feira (18) o IBC-Br, o índice de atividade econômica que funciona como uma prévia do Produto Interno Bruto (PIB). Considerando-se os dados dessazonalizados, a produção de bens e serviços encolheu 9,73 por cento em relação a março e 13,87 por cento em relação a abril de 2019. A queda em relação a março já era esperada, e foi levemente menor do que as previsões de retração de 10,2 por cento. Em março deste ano, ainda segundo os dados dessazonalizados, o IBC-Br havia recuado 6,16 por cento.
INTERNACIONAL – Os pedidos de seguro-desemprego recuaram no Estados Unidos na semana encerrada em 13 de junho. O número de pedidos iniciais caiu para 1,508 milhão, uma queda de 58 mil pedidos em relação ao índice revisado da semana anterior. A média das últimas quatro semanas foi de 1,773 milhões, uma queda de 234,5 mil pedidos em relação à média quadrissemanal anterior.
A quinta-feira será um dia de volatilidade no mercado. Apesar de a baixa de juros ser um movimento importante, ela já era esperada e estava expressa nos preços. No curtíssimo prazo, a quinta-feira começa indicando uma realização de lucros, com baixa nos contratos futuros de Ibovespa e do índice americano S&P 500. Como disse, o dia começará com leve queda, no entanto acredito que terminará em alta após a digestão das notícias pelo mercado.
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