As últimas semanas de 2021 foram marcadas por um movimento rápido de mudança de estratégia pelo Federal Reserve (Fed), o banco central americano. Durante o quarto trimestre, a estratégia gradualista do Fed com relação à inflação foi alterada para uma política contracionista. Foi definido o “tapering”, que é a retirada dos estímulos econômicos.
O ano passado se encerrou com o prognóstico de que a injeção mensal de dinheiro na economia, que começou em US$ 120 bilhões e agora está em US$ 90 bilhões, se encerre ainda neste primeiro trimestre. Com o balanço do Fed chegando à cifra astronômica de US$ 8,8 trilhões, a expectativa é que o “tapering” seja mais breve e mais intenso do que se esperava anteriormente.
O fim das políticas de estímulo deverá abrir espaço para uma alta dos juros americanos. O prognóstico mais comum é de três elevações de 0,25 ponto percentual até dezembro deste ano, o que faria os Fed Funds, equivalentes à taxa Selic no Brasil, encerrarem 2022 a 0,75% ao ano.
Essas projeções, que se cristalizaram ao longo dos últimos dias de 2021, serão confirmadas (ou não) nesta quarta-feira (05), com a divulgação das Minutas da reunião mais recente do Fed, encerrada no dia 15 de dezembro.
Como o mercado antecipa os movimentos, os juros americanos de prazo mais longo já começaram a subir. Na terça-feira (03), a taxa dos títulos do Tesouro com dez anos de prazo chegou a um máximo de 1,71% ao ano. Para comparar, o fechamento de 2021 foi de 1,51%. Apesar de juros de 1,71% ao ano parecerem baixos na comparação com as taxas brasileiras, eles representam uma “normalização” do cenário monetário americano.
No comunicado divulgado logo após a reunião de dezembro, o Fed indicou que a aceleração abrupta do “tapering” reflete “a evolução da inflação e a melhora adicional no mercado de trabalho”. No comunicado, o banco central americano também deixou claro que “está preparado para ajustar o ritmo de compras se isso for garantido por mudanças nas perspectivas econômicas”.
Tradução: se perceber um aquecimento do mercado de trabalho e uma permanência na alta da inflação, o banco central americano não terá pruridos em elevar os juros, apesar do crescimento das infecções pela variante Ômicron do coronavírus.
Um dos pontos que pode ser confirmado pelo documento a ser divulgado na tarde de hoje é a percepção dos membros do Fomc (Federal Open Market Committee), o Copom americano, sobre a Ômicron. Apesar de a visão geral considerar – corretamente – as medidas de restrição como contracionistas, uma aceleração das contaminações pode ser inflacionária.
Como? Ao aumentarem o atrito entre as engrenagens da economia, as medidas de restrição podem provocar uma elevação dos preços. Isso já vem ocorrendo, por exemplo, com os automóveis, um item importante na cesta de preços dos Estados Unidos.
A alta dos preços pode ser reforçada por um aquecimento do mercado de trabalho. Nesta quarta-feira, a empresa de processamento de folhas de pagamento ADP divulga seu relatório mensal de empregos no setor privado referente a dezembro.
Em novembro, o número de americanos empregados cresceu com a criação de 534 mil vagas, acima do esperado e mostrando que o mercado de trabalho continua se fortalecendo. Novos números elevados podem reforçar as expectativas de que a alta das taxas será ainda mais rápida e intensa do que se previa no fim de 2021.
E Eu Com Isso?
Os contratos futuros do Ibovespa iniciam a sessão da quarta-feira com uma leve alta. No entanto, os contratos do índice americano S&P 500 estão estáveis, oscilando entre os terrenos positivo e negativo. A expectativa dos investidores é elevada com a divulgação do nível de emprego e com as minutas da reunião do Fed, o que deverá elevar a volatilidade da sessão.
Fique atento aos novos desdobramentos.
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