Uma observação rápida das notícias dos últimos dias poderia deixar em pânico o mais tarimbado dos investidores.
Há denúncias de corrupção no governo federal e uma reforma tributária confusa ameaça reduzir a competitividade das empresas e a rentabilidade dos investimentos.
Tudo isso em um cenário no qual os bancos centrais dos Estados Unidos e do Brasil discutem, mais ou menos reservadamente, se é hora de diminuir o ritmo das medidas de estímulo destinadas a conter o impacto negativo da pandemia, medidas que estão em vigor há cinco trimestres.
Em um cenário assim, a estratégia mais indicada seria fugir totalmente do risco e migrar para ativos reais.
Porém, não é isso que está acontecendo.
Um levantamento rápido mostra que essa entidade chamada mercado, que inclui empresários em busca de capital e investidores querendo melhorar a rentabilidade de seu dinheiro, continua funcionando muito bem, obrigado.
Apenas as oito operações já confirmadas para julho podem captar R$ 24,5 bilhões, em uma estimativa conservadora – considerando-se que as ações sejam vendidas no ponto central da faixa de preços e que não haja ofertas nem adicional nem suplementar.
Apenas a oferta subsequente da BR Distribuidora poderá movimentar R$ 11,5 bilhões.
E as estimativas são de que o total captado pode superar R$ 40 bilhões.
À primeira vista, essa diferença entre o que está ocorrendo no mercado e as notícias da economia e da política pode parecer inexplicável.
É como se os investidores estivessem desligados da realidade e vivendo em um universo paralelo onde não há crise.
Porém, a situação é bastante diferente disso.
O que estamos vivenciando é fruto de um longo e frequentemente sofrido amadurecimento.
Durante décadas, desde as primeiras tentativas de estabilização da economia, ainda nos anos 1980, essa entidade chamada mercado vem aprimorando suas práticas e aprendendo com os erros.
Os primeiros passos foram tateantes, os tombos e machucados foram inevitáveis.
Porém, com o passar do tempo, o amadurecimento das instituições de mercado e a consolidação das práticas tornou tudo isso mais seguro.
Como um guarda-chuva que não tem utilidade em períodos de tempo bom, mas que se torna indispensável durante as tempestades, o arcabouço legal e institucional do mercado permite-lhe cumprir sua função de conectar investidores e empreendedores mesmo em tempos difíceis na política e na macroeconomia.
A permanência de uma taxa elevada de desemprego pode reduzir o número de clientes dos postos de abastecimento da BR Distribuidora.
No entanto, esse é um risco conhecido e quantificável que entra nos cálculos de preço dos analistas, sem alterar as regras de funcionamento das companhias abertas.
Por isso a pujança do mercado em tempos de crise.
Não é uma excrecência nem uma distorção: é um resultado obtido em décadas de trabalho árduo e aperfeiçoamento contínuo.
Indicadores
A taxa de desocupação foi de 14,7% no trimestre fechado em abril, 0,4 ponto percentual acima do trimestre encerrado em janeiro (14,2%).
Com isso, o número de desempregados variou 3,4%, com mais 489 mil pessoas desocupadas, totalizando 14,8 milhões buscando um trabalho no país.
Essa taxa e o contingente de desocupados mantêm o recorde registrado no trimestre encerrado em março, o maior da série desde 2012.
Os dados são da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Contínua, divulgada nesta quarta-feira (30) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
E Eu Com Isso?
O último pregão do semestre começa com um movimento de queda das ações, devido a ajustes técnicos dos pregões internacionais provocados pelo encerramento do período.
Mais uma vez, o noticiário internacional e o cenário político interno podem amplificar a volatilidade das ações.
Apesar de as notícias mostrarem evoluções importantes, o dia deve ser impactado pelo rebalanceamento de portfólios com o fim do semestre e possíveis desdobramentos negativos do mundo político.
As notícias são negativas para a Bolsa em um cenário de volatilidade.
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