O que fazer com seu dinheiro em uma situação onde os riscos aumentaram
A semana foi marcada por muita turbulência política e econômica, que se refletiu no mercado financeiro. Para garantir o pagamento de um auxílio mensal de 400 reais aos brasileiros necessitados, o governo teve de abrir mão da disciplina fiscal. Embora tecnicamente o teto de gastos não tenha sido rompido, na prática o Executivo vai aumentar despesas e postergar o pagamento de precatórios cujo direito dos credores é líquido e certo.
A reação do mercado e de parte da equipe econômica foi negativa. Na quinta-feira (21), quatro auxiliares diretos do ministro da Economia, Paulo Guedes, deixaram seus cargos. A sexta-feira (22) foi marcada por rumores insistentes de que o próprio Guedes pediria para sair. Tanto que ele e o presidente Jair Bolsonaro convocaram uma entrevista coletiva para desmentir esses rumores. Mesmo assim, Guedes admitiu que o governo havia feito uma escolha: “vamos tirar nota 8 no fiscal”, disse ele.
Isso afetou os preços. O dólar oscilou muito. Na sexta-feira (22) as taxas de câmbio fecharam a 5,64 reais, em linha com a véspera, mas chegaram a um máximo de 5,71 reais com os rumores da saída de Guedes. Nesse mesmo momento o Ibovespa chegou à mínima do dia, caindo para 103,1 mil pontos. A confirmação da permanência do ministro da economia aliviou a tensão e fez o índice fechar a 106,3 mil pontos. Mesmo assim, amargando uma desvalorização de mais de 7 por cento em relação à sexta-feira anterior, quando o índice encerrou a 114,6 mil pontos.
Claro, os juros não ficaram imunes. As taxas dos contratos futuros de juros com vencimento em janeiro de 2023 encerraram a sexta-feira a 10,93 por cento ao ano, alta de 0,335 ponto percentual (ou 3,4 por cento) em relação à véspera. No momento de maior alta, as taxas chegaram a 11,45 por cento ao ano. Para comparar, em outubro de 2020 a remuneração desses contratos oscilava ao redor de 5 por cento ao ano.
E na próxima semana, nos dias 26 e 27 de outubro, haverá a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). Apesar de o Banco Central (BC) já ter “contratado’’ uma alta de um ponto percentual nessa reunião, elevando a taxa referencial Selic dos atuais 6,25 por cento para 7,25 por cento ao ano, já há prognósticos de que o aumento pode ser maior. Em sua última edição, o Relatório Focus das estimativas do mercado indicava uma Selic esperada de 8,25 por cento em dezembro. Será interessante conferir como estão esses prognósticos na edição de amanhã, segunda-feira.
Volatilidade estrutural
Em si, os números de juros, dólar e bolsa não são tão importantes. Essa breve descrição do que foi a última sessão da semana serviu apenas para sublinhar um fato: a volatilidade, companheira de viagem do investidor brasileiro, está mais presente e mais acentuada. E, independente da análise política da situação, o fato é que o aumento dos gastos públicos se contrapõe às boas práticas fiscais, ainda mais considerando-se a situação da economia brasileira. Ou seja, o cenário que vemos à frente é de mais incerteza. E incerteza é um sinônimo para instabilidade de preços.
É justamente nessas horas que o investidor se sente desorientado. Vender tudo mesmo realizando um prejuízo e buscar hedge – que nessas horas costuma ficar caro? Suportar a turbulência e manter seu patrimônio em risco por um período imprevisível? Aumentar a aposta considerando que os preços estão baixos, sem atentar ao fato de que eles podem ficar muito mais baixos e por muito tempo? O que fazer?
Nós, da Levante Ideias de Investimentos, consideramos nossa missão empoderar o investidor brasileiro na construção de seu patrimônio e na realização de seus maiores sonhos. Nossa tarefa é ajudar você a investir de forma eficiente e descomplicada. E isso é especialmente necessário em momentos como esse, em que há menos certezas e o risco de investir aumenta.
Uma frase de Rafael Bevilacqua, estrategista-chefe da Levante, define bem alguns parâmetros dessa incógnita. “O Brasil não é a Suíça, mas está longe de ser a Venezuela.” Assim, a volatilidade é algo estrutural, faz parte da paisagem. No entanto, a economia brasileira é dinâmica, diversificada, robusta e eficiente. Apesar de todo o esforço de Brasília para criar dificuldades, os empreendedores, empresários e executivos brasileiros são conhecidos por sua flexibilidade e sua resiliência. Assim, o resultado de (mais) um período de indisciplina fiscal não será o fim dos tempos, embora tenha de obrigar os investidores a reorientar suas estratégias.
Onde encontrar valor?
Você já sabe, mas não custa repetir: estratégias de investimento são caminhos individuais. Cada investidor tem de procurar o que é mais adequado tendo em vista sua tolerância ao risco, seu momento de vida e seus objetivos financeiros. Mesmo assim, e preservando a individualidade, há alguns pontos a considerar.
O primeiro é ficar fora das empresas estatais. O petróleo está em alta no mercado internacional. Na quinta-feira (21) o barril de petróleo do tipo Brent, que baliza os preços da Petrobras, chegou a 86,10 dólares, maior cotação em três anos. Um petróleo tão caro pode aguçar o apetite pelas ações da Petrobras. Resista bravamente a essa tentação. O bilionário americano John D. Rockefeller (1839-1937) dizia que o melhor negócio do mundo era uma empresa petrolífera bem administrada, ao passo que o segundo melhor negócio do mundo era uma petrolífera mal administrada. Sendo bem administrada ou não, a Petrobras é controlada pelo governo. E nunca se pode descartar a hipótese de que alguém decida fazer políticas públicas à custa dos acionistas minoritários.
O segundo ponto a considerar é que a economia brasileira deverá atravessar uma fase de crescimento fraco devido ao aumento da incerteza fiscal. Ou, para usar um jargão econômico. Na ausência de uma âncora fiscal para impedir a alta da inflação, Roberto Campos Neto terá de usar o único medicamento disponível na farmacopeia do Banco Central (BC), a âncora monetária. Ou seja, juros mais altos para impedir uma disparada de preços. A aprovação da autonomia formal do BC torna mais improvável que haja pressões políticas para uma política monetária frouxa. Assim, há boas probabilidades de a taxa Selic permanecer alta, desestimulando investimentos e consumo no mercado interno. Assim, os papéis das empresas de setores mais cíclicos têm de ser vistos com cuidado.
Finalmente, o terceiro ponto é que a economia internacional está dando sinais de expansão e o real segue depreciado em relação ao dólar. Os dois fatores tendem a melhorar os resultados de empresas exportadoras, que devem ser observadas com cuidado. Também é bom começar dedicar um pouco mais de atenção a investimentos alternativos, como papéis internacionais e criptoativos, ambos cobertos pelo time de análise da Levante.
Não há fórmulas mágicas. O risco aumentou e a probabilidade de prejuízo também. A vida para o investidor vai ficar mais difícil. Mas vale a pena recordar: em março do ano passado, quando a pandemia caiu como uma bomba sobre os mercados mundiais, a Levante lançou o Gabinete AntiCaos, que orientou os investidores naquele momento tão complicado. Agora, como ocorreu então, continuamos a postos para indicar o caminho no meio da turbulência.
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Abraços,
Equipe Levante