Federal Reserve deverá indicar aumento de juros que começa já em 2022 e não vai parar tão cedo
Contra números não há argumentos. E os números da economia americana mostram uma situação de aquecimento generalizado, comprovado tanto pelos índices de preço quanto pelos indicadores de emprego. Comecemos pelos números mais recentes. Na sexta-feira (10) o Bureau of Labor Statistics (BLS) divulgou que o índice de preços ao consumidor (Consumer Price Index – CPI) de novembro foi de 0,8 por cento.
No acumulado em 12 meses, a inflação para o consumidor subiu 6,8 por cento, o nível mais alto desde novembro de 1982. Para comparar, nos 12 meses até outubro, a taxa acumulada era de 6,2 por cento. Não se via uma inflação tão elevada há quase 40 anos. Excluindo itens voláteis como alimentos e energia, o núcleo do CPI, denominado “core index” subiu 0,5 por cento em novembro, o que elevou a variação em 12 meses para 4,9 por cento, acima dos 4,6 por cento de outubro.
O índice de energia subiu 3,5 por cento entre outubro e novembro, enquanto o índice da gasolina saltou 6,1 por cento. Em uma base anual, eles são 33 por cento e 58 por cento maiores, respectivamente. Custos de habitação, que representam cerca de um terço do CPI, aumentaram 0,5 por cento. As despesas com hotéis subiram 3,2 por cento e aumentaram 26 por cento em 12 meses. Os custos de vestuário voltaram a subir após uma série de quedas mensais, registrando um aumento de 1,3 por cento no mês.
Emprego aquecido
Na véspera, na quinta-feira (09) o Departamento do Trabalho havia divulgado uma queda recorde nos pedidos iniciais de seguro-desemprego. O resultado da semana encerrada em 4 de dezembro foi de 184 mil pedidos, uma queda de 43 mil pedidos em relação ao nível revisado da semana anterior. Foi o menor número semanal de pedidos desde os 182 mil pedidos na semana encerrada em 6 de setembro de 1969. A média móvel de quatro semanas caiu para 218,75 mil pedidos, uma diminuição de 21,25 mil pedidos em relação à média revisada da semana anterior.
A inflação está tão elevada que ocorreu algo raríssimo: ela se tornou um assunto político. Em geral, presidentes americanos falam pouco do assunto, pois os preços nos Estados Unidos são relativamente previsíveis. No entanto, a inflação se tornou uma questão espinhosa para a Casa Branca, pois os preços em alta, especialmente dos combustíveis, vêm piorando os índices de aprovação do presidente Joseph Biden. E também preocupam os democratas, pois no ano que vem haverá eleições para renovar parte do Congresso, e o partido teme perder sua finíssima vantagem no Senado.
O presidente americano tentou até minimizar o problema. Após a divulgação do resultado, a Casa Branca emitiu um comunicado em que Biden afirmava que os preços caíram nas últimas semanas para muitos dos itens que impulsionaram a maior parte do aumento da inflação.
Endurecendo a política monetária
Após os números da inflação de novembro, a expectativa foi que o Federal Reserve (Fed), o banco central americano deve prosseguir com os planos para reduzir mais rapidamente o programa de compra de títulos públicos e hipotecários. A expectativa agora é que, na reunião da próxima semana, Jerome Powell, presidente do Fed, indique que o corte das aquisições vai dobrar.
Desde o início da pandemia, o Fed vem injetando mensalmente 120 bilhões de dólares na economia, por meio da compra de 80 bilhões em títulos públicos e 40 bilhões em títulos hipotecários. No início de novembro, Powell declarou que o programa seria reduzido em 15 bilhões por mês já em novembro. Ou seja, a partir de janeiro deveriam ser adquiridos “apenas” 90 bilhões de dólares em ativos, com sucessivas reduções mensais até junho do ano que vem.
No entanto, Powell deverá anunciar que o corte vai subir para 30 bilhões de dólares por mês já em dezembro. Assim, em vez de terminar em junho, o programa terminaria já em março. E isso seria a justificativa para o Fed começar a elevar os juros ainda no primeiro trimestre do ano que vem.
A estimativa é de três altas dos Fed Funds em 2022, mais três em 2023 e mais duas ou três em 2024, de maneira a mandar os juros, hoje na prática em zero, para algo entre 2,5 e 3,0 por cento daqui a três anos.
Na ponta do lápis, os Estados Unidos já estão com juros reais fortemente negativos. As taxas de longo prazo, dos títulos do Tesouro com dez anos de prazo, vêm oscilando ao redor de 1,5 por cento ao ano. Com a inflação divulgada na sexta-feira, os juros reais americanos estão negativos em mais de cinco pontos percentuais.
Impacto nos preços dos ativos
O problema de a inflação americana estar tão elevada é que, se a história se repete, ela chegará ao mesmo patamar do primeiro governo de Ronald Reagan, que foi quando os Estados Unidos elevaram fortemente os juros, o que desacelerou a economia mundial. Também provocou a crise da dívida dos países emergentes, que naquela época eram chamados de “em desenvolvimento”, levando a inadimplências em série tanto do Brasil quanto dos demais países da América Latina.
O resultado, desta vez, deverá ser diferente. Naquele momento, a única fonte de capital para os países eram os empréstimos bancários. Se os bancos cortassem o crédito, não haveria alternativa. Agora, há um amplo e variado mercado de capitais, com fontes inesgotáveis de recursos. O problema é que o provável endurecimento da política monetária deverá desinflar os preços de vários ativos que têm estado em alta. Por exemplo, imóveis nos Estados Unidos e alternativas mais especulativas, como os Spacs.
Ou seja, a partir de 2022 será necessário escolher os investimentos com critério. A pressão de alta causada pela liquidez abundante vai arrefecer. Não acabar, mas arrefecer, o que exigirá mais critérios na escolha dos investimentos. E para isso você sempre pode contar com a equipe de analistas da Levante.
–
Um abraço, e bons investimentos.
Equipe Levante