Na coluna de hoje, vou falar sobre os resultados do 1T21 dos grandes bancos: Santander Brasil, Itaú Unibanco, Bradesco e Banco do Brasil, comentando sobre os principais fundamentos do resultado e os impactos no preço das ações no curto prazo.
Em linhas gerais, o lucro líquido reportado pelos bancos no 1T21 veio cerca de 10 por cento acima do esperado, principalmente devido às perspectivas pessimistas com as instituições no trimestre, mas também porque alguns indicadores mostraram evolução positiva.
Resumo Resultados 1T21
A minha análise dos resultados dos bancos leva em consideração os seguintes pontos: i) custo do crédito, Provisão para Devedores Duvidosos (PDD) e inadimplência; ii) crescimento da carteira de crédito; iii) comportamento da margem financeira líquida com clientes; iv) receita de serviços em queda devido ao aumento da concorrência e; v) redução nas despesas operacionais, com fechamento de agências e corte de pessoal.
Esses pontos acima são os principais drivers para os resultados dos bancos, com o crescimento do lucro líquido e o aumento do retorno sobre o patrimônio líquido.
Em termos gerais eu diria que os melhores resultados, na ordem do mais forte e acima do consenso para o menos forte, foram: Banco do Brasil, Santander Brasil, Bradesco e Itaú Unibanco.
Na parte final, eu comento um pouco sobre múltiplos (valuation) dos bancos, principais catalisadores das ações e qual o impacto da reversão de provisões (PDD) no lucro dos bancos que deixa os múltiplos ainda mais atrativos, pois as ações estão com desempenho inferior ao Ibovespa em 2021.
Santander Brasil
De forma geral, o resultado do Santander Brasil veio um pouco acima do esperado devido à redução do custo de crédito e à ausência de PDD complementar, com recuperação de rentabilidade medida pelo retorno sobre o patrimônio líquido (ROE). As ações (SANB11) fecharam em forte alta de 8,1 por cento no dia 28 de abril, repercutindo esse resultado acima das expectativas. O resultado veio 9 por cento acima do esperado em termos de lucro líquido, que totalizou 4,012 bilhões de reais. O retorno sobre capital próprio (ROE) foi de 20,9 por cento, mantendo-se em patamares relativamente próximos aos vistos antes da crise da Covid-19, porém ainda abaixo dos 22,3 por cento observados no mesmo trimestre de 2020.
Mais uma vez não houve provisão extraordinária para devedores duvidosos (PDD). As provisões atingiram 3,2 bilhões de reais, uma queda de 7,7 por cento na comparação anual. Assim, o custo do crédito representou 2,6 por cento da carteira de crédito no trimestre (2,5 por cento no 4T20).
Itaú Unibanco
O lucro líquido do Itaú foi de 6,4 bilhões de reais, 9 por cento acima do esperado, com destaque para a melhora da rentabilidade (ROE) de 18,5 por cento (16,1 por cento no 4T20).
O ROE caiu muito no 1T20, atingindo 12,8 por cento e mostrou uma evolução gradual em todos os trimestres subsequentes, mas ainda muito abaixo do ROE visto em 4T19 de 23,7 por cento, pré-pandemia.
A PDD também teve melhora sequencial, com queda de 21,4 por cento em relação ao 4T20 e registrando uma melhora de 57,3 por cento em relação ao mesmo trimestre do ano passado. A redução nas provisões indica um cenário macroeconômico melhor, especialmente em relação ao fim do 1T20, quando os efeitos da Covid-19 ainda eram muito incertos.
Um dos pontos a se destacar do resultado foi a capacidade de controle de custos da companhia, com uma queda nas despesas operacionais de quase 1 bilhão de reais, uma queda de 6,6 por cento em relação ao último trimestre, apesar de um crescimento de 3,2 por cento em relação ao 1T20.
Bradesco
O lucro líquido recorrente foi de 6,5 bilhões de reais no trimestre, 6 por cento acima do consenso, continuando a tendência vista ao longo de 2020 após a queda do primeiro trimestre após o início da pandemia.
O crescimento anual no lucro líquido de 73,6 por cento com relação ao 1T21, impulsionou o retorno sobre o patrimônio líquido (ROE) a patamares próximos aos vistos em 2019, atingindo 18,7 por cento no trimestre, uma melhora significativa aos 11,7 por cento vistos no 1T20.
A PDD expandida, maior motivo para a forte queda no lucro dos bancos em 2020, atingiu 3,9 bilhões de reais, representando uma queda de 14,5 por cento em relação ao último trimestre e um tombo de 41,8 por cento em relação ao 1T20.
O Bradesco demonstrou foco ao melhorar sua eficiência com uma queda de 4,7 por cento nas despesas operacionais no trimestre quando comparado com 1T20, um bom número, mas que apresenta uma desaceleração em relação à redução anual de 9,3 por cento vista no trimestre anterior.
Banco do Brasil
O lucro líquido ajustado totalizou 4,9 bilhões de reais no 1T21, representando um crescimento de 44,7 por cento comparado ao 1T20 e 33 por cento superior ao 4T20. O retorno sobre patrimônio líquido (ROE) foi de 15,1 por cento no trimestre, uma melhora de 2,6 pontos percentuais na comparação anual.
O BB apresentou um melhor resultado também em sua PDD, com queda de 54,2 por cento na comparação anual, atingindo 2,5 bilhões de reais.
O bom resultado de lucro pode ser atribuído, além do forte aumento da margem financeira líquida (crescimento de 33 por cento em relação ao 4T20), ao controle de despesas operacionais, uma vez que o banco divulgou uma queda de 4,8 por cento nas despesas administrativas em relação ao 4T20. As despesas caíram para 7,7 bilhões de reais.
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Valuation
As ações dos grandes bancos, exceto Banco do Brasil, estão sendo negociadas a múltiplos preço/lucro 2021 entre 9 e 10 vezes.
Em relação ao múltiplo preço/valor patrimonial da ação (P/VPA) a faixa é de 1,7 a 1,9 vezes.
Potencial de valorização com a reversão da PDD
Acredito que os grandes bancos brasileiros, principalmente Itaú e Bradesco, são sempre bastante conservadores nas provisões para perdas com crédito, a chamada Provisão para Devedores Duvidosos (PDD).
Os quatro bancos fizeram provisões no valor total de 90,4 bilhões de reais em 2020, sendo 29,9 bilhões do Itaú, 25,8 bilhões do Bradesco, 22,1 bilhões do Banco do Brasil e apenas 12,6 bilhões do Santander.
Com a retomada da economia, o crescimento da concessão de crédito e com manutenção da inadimplência em níveis controlados, acredito que os bancos poderão fazer reversão das provisões (PDD) no fim de 2021, o que de certa forma já pode ser observado nos resultados do 1T21, especialmente nos casos de Banco do Brasil e do Santander.
Essa reversão das provisões feitas em 2020 vai significar um aumento nos lucros dos bancos em 2021. Acredito que o potencial de revisão para cima nos lucros do Itaú e do Bradesco é maior devido ao maior tamanho das PDDs desses bancos mais conservadores.
Somente como exercício: assumindo que os bancos irão reverter 15 por cento das provisões constituídas em 2020, o aumento no lucro líquido projetado (consenso) de 2021 é de 16 por cento na média.
Impacto da reversão da PDD nos lucros
A revisão para cima nos lucros dos bancos vai tornar as ações ainda mais atrativas em termos de valuation, com múltiplos preço/lucro 2021 variando de 8,0 a 8,6 vezes (9,2 a 10,1 vezes anteriormente, exceto Banco do Brasil).
Dividendos
Assumindo que os bancos deverão distribuir 50 por cento dos lucros em 2021, o retorno em dividendos (yield) projetado é de pelo menos 5 por cento para os grandes bancos (exceto Banco do Brasil).
Informações de mercado
Conclusão
Acredito que existe uma assimetria com as ações dos grandes bancos na Bolsa, pois parece que todas as más notícias estão incorporadas no preço das ações, mas a potencial revisão para cima no lucro em 2021 parece ainda não ter sido incorporada nas perspectivas de mercado.
As ações do setor de bancos ficaram para trás em 2021: Banco do Brasil (- 23,2 por cento), Bradesco (- 2,4 por cento), Itaú (- 12,5 por cento) e Santander Brasil (- 12,6 por cento), com desempenho inferior ao Ibovespa (+0,8 por cento).
Quando olho para o valuation das ações dos bancos, os múltiplos parecem atrativos em termos de preço/lucro, podendo ficar ainda mais baratos se for considerada a reversão da PDD e a revisão para cima do consenso de lucros. Adicionalmente, existe ainda a possibilidade de bons ganhos com dividendos e recompra de ações dos bancos em 2021 (o Bradesco acabou de aprovar o seu programa).
Por último, não recomendamos o investimento nas ações do Banco do Brasil, por se tratar de uma empresa estatal sujeita às interferências políticas, o que elevou muito o risco do investimento, mesmo com os múltiplos mais baixos. Neste momento, não há nenhuma ação de empresa estatal nas carteiras de ações da Levante.
Abraços,
Eduardo Guimarães.
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