A inflação voltou para dentro da meta, e agora?

Mercados com Rafael Bevilacqua

A principal notícia econômica desta quarta-feira (26), último pregão antes do feriado americano do Dia de Ação de Graças, foi a divulgação da inflação de novembro medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15). A variação de preços foi de 0,20 por cento, levemente acima da estimativa e da inflação de outubro, ambas em 0,18 por cento.

A variação de preços em 12 meses ficou em exatos 4,50 por cento, limite superior da banda de flutuação da meta de inflação. O resultado acumulado ficou marginalmente acima da projeção de 4,49 por cento e abaixo dos 4,94 por cento nos 12 meses até outubro. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a maior variação e o maior impacto positivo vieram do grupo Despesas pessoais (0,85 por cento e 0,09 p.p.). Nesse grupo, o resultado foi influenciado, principalmente, pelas altas na hospedagem (4,18 por cento) e no pacote turístico (3,90 por cento), com impactos de 0,03 p.p. e 0,02 p.p, respectivamente.

O IPCA-15 é uma prévia do IPCA, inflação usada pelo Banco Central (BC) como parâmetro da meta de inflação. A única diferença é o prazo de medição. O IPCA-15 considera a variação de preços entre o dia 16 do mês anterior e o dia 15 do mês corrente, ao passo que o IPCA “cheio” observa a variação dos preços no mês fechado. Por isso, o IPCA-15 é uma antecipação excelente da inflação oficial.

Foi a primeira inflação dentro do teto da meta de 2025. A meta de inflação determinada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) e defendida pelo Banco Central (BC) é de 3 por cento, com 1,5 ponto percentual de tolerância para mais ou para menos. O teto da meta é de 4,50 por cento e o resultado esperado pode ficar dentro dessa faixa.

Os investidores esperam que, no horizonte de política monetária do BC, com planejamento até 2027, a inflação continue dentro da banda de tolerância, sem necessidade de alta adicional de juros, com um eventual repique isolado em janeiro de 2026, voltando a recuar depois.

A redução da expectativa do IPCA para 2025 e a possibilidade de inflação acumulada em 12 meses permanecer dentro da meta em dezembro reforçam a convicção de que a manutenção da taxa referencial Selic em um patamar elevado vem surtindo efeito.

Algumas instituições financeiras já revisaram suas projeções para dezembro, levando a inflação projetada para algo próximo ao teto da meta, o que sugere crescente convicção de convergência para o intervalo desejado. Apesar disso, a inflação ainda deve demorar para convergir ao centro da meta de 3 por cento, o que reduz a probabilidade de o BC iniciar uma redução da Selic já em dezembro.

No entanto, a edição mais recente do Relatório Focus, divulgada na segunda-feira (24) trouxe uma leve redução na Selic esperada para o fim de 2026, que caiu para 12 por cento ante os 12,25 por cento que valeram por 12 semanas. A confirmação de uma queda no IPCA-15, e uma eventual baixa no IPCA “cheio” que será divulgado em dezembro, podem levar o BC a sinalizar algo mais concreto na baixa de juros na reunião do Copom agendada para os dias 9 e 10 de dezembro.


E Eu Com Isso?

Os contratos futuros dos principais índices americanos e as cotas do Exchange Traded Fund (ETF) EWZ iShares MSCI Brazil negociados em Nova York estão em alta no pré-mercado. A confirmação de uma inflação dentro da meta pode melhorar as expectativas para os juros, o que é positivo para a bolsa. No entanto, a aproximação do feriado americano do Dia de Ação de Graças deve reduzir a liquidez, o que amplifica a volatilidade dos preços.

As notícias são positivas para a bolsa em um cenário de volatilidade


Projeto de Lei da privatização da Copasa (CSMG3) avança na ALMG e ações sobem


Na segunda-feira (24), o Projeto de Lei 4.380/2025, que autoriza a privatização da Copasa (CSMG3), avançou mais uma etapa na Assembleia Legislativa. A Comissão de Administração Pública aprovou o relatório favorável à desestatização, permitindo que a proposta siga agora para a Comissão de Fiscalização Financeira e Orçamentária (CFFO). O parecer nessa nova fase já foi apresentado e deve ser votado nos próximos dias.

A expectativa do governo é concluir a tramitação em todas as comissões ainda nesta semana, para que o texto seja liberado ao plenário na semana seguinte. O cronograma repete a estratégia utilizada recentemente durante a votação da PEC que retirou a exigência de referendo popular para a privatização da companhia.

O Executivo mineiro argumenta que a desestatização é fundamental para ampliar a capacidade de investimento da Copasa e, ao mesmo tempo, liberar recursos que poderão ser direcionados ao abatimento de dívidas do estado no âmbito do Propag, programa federal voltado à reorganização fiscal dos entes federativos.

Pelo desenho da operação, a Copasa poderá ser convertida em corporation de capital privado, mas com a manutenção, pelo estado, de uma golden share. Esse instrumento garante poder de veto em decisões estratégicas, como mudança de sede, alteração do nome da empresa ou modificações relevantes no modelo de governança.

O projeto também determina que, em até 180 dias após a sanção da lei, o governo encaminhe uma proposta de criação do Fundo Estadual de Saneamento Básico. O fundo será responsável por financiar melhorias no setor e assegurar a continuidade de investimentos em regiões vulneráveis.

Durante as discussões nas comissões, foram incorporadas diretrizes para preservar a tarifa social, garantir a universalização dos serviços, inclusive em áreas rurais e de baixa densidade populacional e estabelecer mecanismos para assegurar a modicidade tarifária.

O plano ainda prevê a preservação dos contratos de trabalho dos empregados da Copasa por, no mínimo, 18 meses após a privatização, além da possibilidade de realocação de servidores para outras entidades estatais posteriormente.


E Eu Com Isso?

A privatização da Copasa tende a reposicionar o setor de saneamento em Minas Gerais dentro do radar dos investidores, especialmente considerando a combinação de demanda estável, necessidade de expansão de infraestrutura e potencial de ganhos de eficiência operacional. A entrada do capital privado no modelo proposto pode criar um ambiente mais favorável a investimentos e acelerar a execução de projetos que hoje enfrentam limitações de orçamento público.

Do ponto de vista de risco-retorno, o processo ainda depende de definições regulatórias e do desenho final de mecanismos de modicidade tarifária, que serão determinantes para a atratividade do ativo. A presença de uma golden share, embora mantenha o Estado com relevância, mas não inviabiliza a formação de um bloco relevante de investidores capazes de influenciar a gestão e buscar melhorias de performance, desde que haja previsibilidade normativa e segurança jurídica na transição.

Se confirmada no prazo esperado pelo governo, a operação poderá marcar um dos movimentos estruturais mais relevantes no mercado mineiro em décadas, com potenciais repercussões sobre valuations do setor, equilíbrio competitivo regional e fluxo de capitais para infraestrutura.

Para o investidor, acompanhar a evolução nas comissões, os ajustes do texto e a sinalização de órgãos reguladores será essencial para mensurar riscos e identificar oportunidades na janela que se abre no pós-privatização.
Cury (CURY3) aprova dividendos de 250 milhões de reais após resultados crescentes

Nesta semana, a Cury (CURY3) anunciou o pagamento de 250 milhões de reais em dividendos intercalares, movimento que se tornou o principal destaque recente da companhia e que reforça sua capacidade de geração de caixa. A decisão ocorre em um momento em que a empresa vem registrando bons resultados ao longo de 2025, mas chama atenção pelo volume da distribuição, refletindo a confiança da administração na estrutura de capital da incorporadora.

Em um setor historicamente marcado por ciclos de alavancagem e volatilidade, a companhia vem apresentando uma combinação de crescimento e disciplina financeira que permite remunerar acionistas, ainda que o ambiente de mercado permaneça desafiador.

No terceiro trimestre de 2025, a Cury reportou lucro líquido de 255 milhões de reais, avanço próximo de 50 por cento em relação ao mesmo período do ano anterior. O EBITDA foi de 340,3 milhões de reais, e a geração de caixa operacional atingiu mais de 233 milhões de reais, reforçando a liquidez da empresa.

O ritmo de lançamentos também é relevante para avaliar a sustentabilidade da distribuição de dividendos. No terceiro trimestre, o volume lançado atingiu 2 bilhões de reais, crescimento de cerca de 27 por cento em relação ao mesmo período do ano anterior, enquanto as vendas líquidas chegaram a 1,83 bilhão de reais. Nos primeiros meses do ano, os lançamentos somaram quase 2,8 bilhões de reais em VGV, distribuídos entre São Paulo e Rio de Janeiro.

Esses números mostram que a companhia mantém uma agenda ativa de projetos, ainda que a velocidade de execução e as condições do mercado possam influenciar os resultados futuros.

A estrutura financeira da Cury contribui para essa posição, com dívida bruta de cerca de 986 milhões de reais e caixa superior a 1,4 bilhão de reais, resultando em caixa líquido positivo. A maior parte das obrigações possui vencimentos longos, até 2031, o que reduz pressões imediatas sobre o fluxo de caixa. Essa configuração permite que a companhia continue lançando projetos e distribuindo dividendos, mas qualquer mudança no mercado imobiliário ou no financiamento habitacional pode impactar a liquidez futura.

 
E Eu Com Isso?
 
Os dividendos aprovados de 86 centavos por ação resultam em um Dividend Yield estimado em 7 por cento, dependendo da cotação considerada. O P/L da companhia está em 12,5 vezes, um múltiplo que já pode ser considerado elevado para uma incorporadora, e passa a depender de crescimento e margens acima da média.

Esses indicadores sugerem que o retorno ao acionista é relevante, mas a avaliação do risco permanece importante, considerando a sensibilidade do setor a juros, crédito e distratos.

Alguns pontos continuam sendo monitorados, como os distratos, que representaram cerca de 11 por cento das vendas brutas, e a leve redução no preço médio das unidades lançadas. Apesar disso, a Cury mantém margens relativamente elevadas e retorno sobre o patrimônio significativo.

O anúncio dos dividendos reflete a capacidade atual da companhia de gerar caixa e distribuir valor aos acionistas, mas a sustentabilidade desse desempenho dependerá de condições de mercado e execução operacional consistentes nos próximos trimestres.


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