Copom e o fato inesperado dos juros previsíveis
Um velho ditado dos corredores de Brasília reza que três pessoas só serão capazes de guardar um segredo se duas delas estiverem mortas. A exceção são as reuniões do Comitê de Política Monetária, o Copom. Além do presidente e dos sete diretores do Banco Central (BC), em geral participam 20 chefes de departamentos e de gabinetes do BC. Quase 30 pessoas. Mesmo assim, não se tem notícia de nenhum vazamento do que acontece nos bastidores do Copom.
O que vem a público é apenas a decisão sobre alterar ou manter a taxa Selic, no segundo dia da reunião, e a ata do que foi tratado, uma semana depois. O encontro é tedioso, ou há debates acalorados? O tom das conversas é solene ou descontraído? Reina a harmonia, ou há divergências e rancores? Tudo é mortalmente sério, ou alguém solta uma piada de vez em quando? Nada disso é publicado. Por isso os profissionais do mercado financeiro, gestores de fundos e de tesouraria, em especial, dedicam tantas horas a tentar prever, por meio da análise dos indicadores econômicos, qual será a decisão do Copom.
Isso mudou. Nos últimos tempos, o Copom não tem sido uma fonte de surpresas. A reunião que vai começar nesta terça-feira (10) e que terminará amanhã, na quarta-feira (11), deverá reduzir a taxa referencial Selic em meio ponto percentual, para 4,5 por cento ao ano. Será, novamente, um recorde de baixa, a menor Selic da história desde o início do Plano Real. E, novamente, será um movimento absolutamente coerente com os indicadores econômicos, de inflação abaixo do centro da meta de 4,25 por cento e sem sinais de descontrole, apesar dos suspiros dos índices na virada de novembro para dezembro.
Há dois fatos surpreendentes no parágrafo anterior. O primeiro é a baixa dos juros em si. O segundo é que esse movimento é amplamente esperado pelo mercado e já está, inclusive, plenamente refletido nas curvas de juros e nos preços dos ativos financeiros. Um Copom tedioso é eletrizante em termos econômicos.
E Eu Com Isso?
Ao ter certeza do comportamento de longo prazo das taxas de juros, as empresas podem calibrar melhor suas necessidades de capital para custear suas operações e seus investimentos. Ao poderem se dar ao luxo de prever com uma razoável precisão quanto vão pagar pelo dinheiro, os empresários sentem-se mais confortáveis em investir. Juros são uma das variáveis mais cruciais da economia. E o custo do dinheiro no longo prazo indica se uma atividade empresarial é lucrativa (e deve continuar) ou se é deficitária (e deve fechar as portas o mais rápido possível).
Na impossibilidade de estimar os juros, os empreendedores e investidores adicionam uma gordura contra os possíveis solavancos do mercado. Isso encarece produtos e desestimula a colocação de projetos em prática. Com a previsibilidade, é possível operar sem essa gordura e reduzir os custos, elevando a competitividade da economia. Por isso, um Copom sem surpresas é, paradoxalmente, uma grata surpresa.
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