Os juros baixos e a ilha de prosperidade
Ilan Goldfajn presidiu o Banco Central (BC) por quase três anos, entre 2016 e 2019. Uma conferida no Boletim Focus resume bem sua trajetória. Ao chegar, em junho de 2016, as projeções para o ano corrente eram tétricas. A expectativa para a inflação medida pelo IPCA ano era de 7,12 por cento. O prognóstico para o Produto Interno Bruto (PIB) era de um encolhimento de 3,71 por cento. Ao sair, em fevereiro de 2019, as projeções para a inflação eram de 3,85 por cento e para o PIB eram de 2,48 por cento. Durante seu mandato, Goldfajn reduziu a taxa Selic de 14,25 por cento para 6,5 por cento. Todo esse movimento ocorreu sem que o dragão da inflação sequer mudasse de posição enquanto dormia tranquilamente.
Um trabalho tão bem feito faz com que as opiniões de Goldfajn mereçam ser ouvidas. E ele diz estar estruturalmente otimista com a economia. Para ele, os juros baixos no Brasil vieram para ficar. Além de um crescimento fraco – que não é bom para a renda, mas ajuda no controle de preços –, o País está ganhando com o avanço da tecnologia, que favorece a eficiência e a produtividade, reduz estruturalmente os custos e as margens de lucro e garante uma redução na pressão de custos estruturais.
Custos fora de controle, por ineficiência ou oligopólio, sempre foram o calcanhar de Aquiles da economia brasileira. Ao lado dos desequilíbrios fiscal e monetário, eles sempre ajudaram a derrubar os programas de estabilização. A conjugação entre tecnologia e expectativas positivas permite prever um emagrecimento geral das margens. Isso vale para o custo do dinheiro. Atualmente, as grandes empresas já estão conseguindo captar a taxas bem competitivas. Segundo Goldfajn, é questão de tempo para que essa conjuntura benigna de juros baixos comece a se espalhar por empresas menores.
MUNDO – A segunda-feira começa com alguns pontos de atenção. No Reino Unido, o Parlamento Britânico se reuniu no fim de semana para votar o Brexit. O resultado decepcionou o primeiro-ministro Boris Johnson, uma vez que a proposta do governo foi derrotada por 322 votos a 306. E o prazo final, no fim do mês, parece cada vez mais difícil de ser cumprido. A partir de então, ou a União Europeia prorroga o prazo ou haverá uma saída sem acordo mesmo.
O fim de semana foi tenso na América Latina. No Chile, foi decretado Estado de Emergência pelo governo do presidente Sebastián Piñera, em uma tentativa de controlar os violentos protestos que tomaram conta do país desde que foi anunciado um aumento das passagens do metrô. O preço da passagem já voltou ao valor de antes, mas ainda assim a crescente onda de manifestações contra a desigualdade social será acompanhada. E na Bolívia as eleições presidenciais podem levar a um segundo turno entre o presidente Evo Morales, que busca seu quarto mandato, e o ex-presidente Carlos Mesa. Até a noite de domingo, Morales havia recebido 45,3 por cento dos votos e Mesa tinha 38,2 por cento (leia mais abaixo).
BRASIL – Por aqui, o presidente Jair Bolsonaro está cumprindo agenda no Oriente Médio e na Ásia, bem longe da crise instaurada em seu partido, o PSL, que ainda deverá ter muitos desdobramentos nas próximas semanas. O investidor brasileiro pouco quer saber do impasse, porém poderá adotar novamente o tom cauteloso caso comece a respingar na agenda de votações no Congresso. Esta semana, por exemplo, é esperada a votação, em segundo turno, no Senado da reforma da Previdência. Além disso, a temporada de resultados corporativos está a todo vapor, com várias companhias relevantes divulgando quais foram os seus ganhos ou prejuízos no último trimestre ao longo da semana.
E Eu Com Isso?
Apesar de o ambiente global ser de aversão ao risco dos países emergentes, os investidores permanecem premidos pelos juros baixos ou mesmo negativos nas principais economias. Neste cenário, as taxas brasileiras ainda permanecem competitivas. E a comparação com os vizinhos favorece o País. Por tudo isso, o dia será positivo para os ativos locais.
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