Câmbio: custo Brasil vai cair

Câmbio: custo Brasil vai cair

O empresário capixaba Victor Farias tem uma longa experiência no mercado de fintechs. Já fundou a empresa de pagamentos Pag! e sua iniciativa mais recente é o LiftBank, um banco 100 por cento digital dedicado apenas a empresas. Farias é otimista com o mercado. No entanto, ele não se anima tanto quando pensa em um custo específico. O LiftBank oferece cartões de crédito e terminais de processamento, as famosas maquininhas. Entre seus custos, estão as tarifas pagas às principais bandeiras internacionais de cartão. Nada mais justo. O problema é que, devido aos entraves no mercado brasileiro de câmbio, sua empresa é obrigada a manter uma conta internacional para fazer apenas um pagamento diário a cada uma das bandeiras. Custo mensal: 30 mil dólares.

Esse custo não é uma exclusividade do LiftBank. Problemas parecidos se repetem para todas as empresas brasileiras que precisam, de uma maneira ou de outra, operar com moedas internacionais. Por isso, as propostas do Banco Central (BC) de tornar o mercado de câmbio mais flexível e competitivo podem remover alguns dos maiores e menos perceptíveis aspectos do custo Brasil.

Atualmente, o empresário brasileiro que atua no mercado de câmbio é, legalmente, comparado ao que atua com explosivos. Sua atividade é regulamentada rigorosamente e sujeita a uma fiscalização pesada. Há algumas razões para isso. Durante quase todo o século passado, dólar no Brasil sempre foi uma mercadoria estratégica. O País importava quase tudo que necessitava, e só conseguia pagar essas compras vendendo café. Assim, era preciso garantir que os dólares laboriosamente ganhos fossem usados com critério.

O tempo passou, o País se internacionalizou e, apesar de ainda ser fechada, a economia está muito mais aberta ao mundo do que no passado. As regras que regem o câmbio, porém, permaneceram as mesmas. Apenas bancos autorizados pelo BC a operar no câmbio podem, legalmente, enfiar dólares para o Exterior ou trazê-los para o País, o que cria uma reserva de mercado e, claro, eleva os custos. Não é a única distorção. O Brasil é um dos poucos países mais ou menos respeitáveis que mantém um mercado paralelo de dólar reconhecido pelas autoridades. É o câmbio turismo, sempre negociado com ágio em relação ao dólar “oficial”, ou comercial.

As mudanças propostas pelo BC, que ainda vão demorar para entrar em vigor, preservam essa função dos bancos, mas autorizam fintechs, capazes de oferecer custos menores, a concorrer nesse mercado. Também permitem que bancos brasileiros financiem importadores de produtos brasileiros, algo que até agora não era permitido. E facilitam a vida das empresas exportadoras, que possuem um acesso estrutural ao dólar, e agora terão mais liberdade para decidir o que fazer com suas receitas obtidas no Exterior.

A legislação também facilita que estrangeiros tenham contas em reais. Alguns Bancos Centrais de outros países querem ter essas contas ou para comprar títulos brasileiros ou, no caso dos países de fronteira, para facilitar as transações de importação e exportação do dia a dia.

A legislação não prevê autorizar pessoas físicas a terem contas em dólares no Brasil, mas facilita o envio e a recepção de recursos para quem tem parentes estudando ou trabalhando fora do País.

Enquanto isso, os mercados não estão olhando para o câmbio e sim para a política, aqui e lá fora. O dia começa novamente com os investidores em compasso de espera das definições da guerra comercial. Agora, os EUA desejam colocar na “lista negra” (que restringe o acesso a componentes e tecnologia americanos) oito empresas chinesas de tecnologia, que desenvolvem reconhecimento facial e outras ferramentas de inteligência artificial. Segundo as autoridades em Washington, a restrição seria uma resposta a acusações de que essas empresas teriam violado direitos humanos contra minorias muçulmanas na província de Xinjiang, no extremo oeste chinês.

A China ameaça retaliar (como já fez em outras situações). Ou seja, mais impasses e demora para os dois países chegarem a um acordo no curto prazo, ainda que pequeno, e dar um pouco de alívio aos investidores aflitos com a disputa comercial e uma sequência de dados que mostram os desempenhos das indústrias a nível global mais devagar.

Por aqui, o burburinho de ontem quanto a uma eventual saída de Paulo Guedes do governo foi desmentida, inclusive por ele. É sempre necessário separar o ruído do que são realmente mudanças. Não faltaram revezes nos últimos dias. O problema para o mercado são os efeitos colaterais sobre a confiança e articulação do governo, que ficam abalados.

Na aguardada conclusão da reforma da Previdência, a votação em segundo turno no Senado deve ficar para o dia 22. A partilha dos recursos do leilão do pré-sal entre os Estados e a União continua sem definição. Porém, Rodrigo Maia, presidente da Câmara, e Davi Alcolumbre, presidente do Senado, devem se reunir hoje para tentar encontrar uma forma mais “justa” de divisão.

E Eu Com Isso?

A reunião entre autoridades americanas e chinesas em Washington ainda está mantida, mas o sentimento é que todos estão pisando em ovos. Além disso, a economia chinesa apresentou novos sinais de desaceleração. O indicador do nível de atividade do setor de serviços caiu para 51,3 em setembro, ante 52,1 em agosto. A queda foi maior que as expectativas, que eram de um indicador de 52 no mês passado, e reforçou a percepção de que a atividade econômica está mais fraca. O clima será negativo para os ativos locais. 

Leia também: Setor imobiliário – os bons tempos estão de volta

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