
Faltando apenas 31 dias para 2026, os investidores estão dedicados a traçar cenários para o próximo ano. A segunda semana do mês terá as últimas reuniões do ano do Comitê de Política Monetária (Copom) e de seu equivalente americano, o Federal Open Market Committee (Fomc).
Deve haver poucas surpresas em relação aos resultados. No caso do Copom, na sexta-feira (28) havia 95 por cento de probabilidade de manutenção da taxa Selic nos atuais 15 por cento ao ano. No caso do Fomc, a ferramenta FedWatch mostrava uma expectativa de 84 por cento de corte dos Fed Funds em 0,25 ponto percentual, para a faixa entre 3,50 e 3,75 por cento ao ano.
Para traçar essas projeções com mais precisão, os participantes do mercado contam com os indicadores econômicos que devem ser divulgados nos próximos dias, em especial os índices de inflação e de emprego. Os dados de inflação tiveram sua divulgação afetada pela paralisação das atividades do governo americano (“shutdown”) por 43 dias, o que torna mais difícil fazer previsões.
Por isso, os membros do Fomc não poderão contar com índices de inflação como o Consumer Price Index (CPI) e o Personal Consumption Expenditure (PCE), conhecido como a “inflação do FED” (referindo-se ao banco central americano) para tomar sua decisão. Os números de novembro só serão divulgados após a reunião. A publicação do CPI de novembro está agendada para 18 de dezembro, e a divulgação do PCE de novembro ainda não tem data prevista.
Alguns números relevantes deverão ser divulgados nesta semana. Entre eles estão o relatório de empregos do setor privado elaborado pela empresa ADP e diversos indicadores de atividade do ISM, mostrando a temperatura dos negócios na indústria e nos serviços. No entanto, os membros do Fomc estão tendo de pilotar a política monetária por instrumentos, sem ter acesso aos dados primários.
Um indicador de risco, a cotação do bitcoin, está em forte baixa no início da manhã. A criptomoeda mais negociada é cotada a 86,5 mil dólares, queda de 5,5 por cento em relação à sexta-feira. Os investidores estão reticentes com relação a uma falha crítica na plataforma DeFi Yearn Finance, que trouxe preocupações sobre liquidez e sobre a criação de tokens não autorizados.
Petrobras (PETR4) divulga plano plurianual 2026-2030
Na noite da quinta-feira (27), a Petrobras (PETR4) divulgou seu plano de investimentos para os próximos cinco anos, prevendo aportes entre 91 bilhões e 109 bilhões de dólares no período. Considerando um câmbio de 5,35 reais por dólar, o montante total equivale a aproximadamente 535 bilhões de reais. Mesmo diante de um cenário de preços mais baixos do petróleo, o plano mantém o foco no crescimento da companhia, preservando a sustentabilidade financeira.
Para 2026, ano com maior grau de precisão nas projeções, a Petrobras estima investimentos de cerca de 16,9 bilhões de dólares, ou aproximadamente 95 bilhões de reais. Para os anos de 2029 e 2030, há previsão de redução nos investimentos, embora, em nossa avaliação, o impacto seja menor em comparação à análise detalhada do próximo ano.
Os recursos continuarão sendo majoritariamente direcionados ao segmento de Exploração e Produção, que deverá receber 76,3 por cento da alocação em 2026. Esse percentual tende a crescer nos próximos anos, à medida que a Petrobras avança seu plano de expansão nos segmentos de Refino, Transporte e Comercialização.
No segmento de Refino, Transporte e Comercialização, a empresa pretende alocar 16,5 por cento dos recursos, com foco na ampliação da produção de diesel, cuja participação na produção total deve passar de 40 por cento para 45 por cento.
Já o segmento de Gás e Energias de Baixo Carbono receberá 6,7 por cento do montante total, com investimentos prioritariamente voltados para etanol e biodiesel, acompanhando as tendências globais de transição energética.
A Petrobras também apresentou projeções de geração de caixa, que servirão para financiar tanto o plano de investimentos quanto a remuneração aos acionistas. Para 2026, a expectativa é gerar entre 190 bilhões e 200 bilhões de reais em Fluxo de Caixa das Atividades Operacionais nos próximos 12 meses.
Considerando investimentos de aproximadamente 95 bilhões de reais no próximo ano e aplicando a fórmula de pagamento de dividendos, estimamos uma distribuição de proventos entre 40 bilhões e 45 bilhões de reais, equivalente a um dividend yield de 10 por cento a 11 por cento.
O endividamento da companhia permanece em nível confortável, com relação dívida líquida/EBITDA em 1,5x, patamar que a empresa pretende manter nos próximos anos.
Axia (AXIA3) propõe grande distribuição de proventos e busca Novo Mercado
A Axia Energia, antiga Eletrobras, informou ao mercado que a decisão de propor a distribuição de quase 40 bilhões de reais em reservas de lucros, em forma de proventos, marcou um dos movimentos corporativos mais relevantes do setor elétrico brasileiro nos últimos anos. A proposta, embora tenha sido imediatamente associada à ideia de um mega dividendo, é mais complexa e envolve uma engenharia societária que busca equilibrar governança, planejamento tributário, flexibilidade financeira e previsibilidade para os acionistas.
O plano consiste em transformar essas reservas acumuladas em uma nova classe de ações preferenciais, chamadas PNC, que seriam distribuídas gratuitamente aos acionistas na forma de bonificação.
Essas ações não representam um dividendo em dinheiro imediato, mas sim um crédito econômico que pode se materializar no futuro através de pagamento de proventos, recompras ou conversões em ações ordinárias.
A criação das PNCs responde a uma conjuntura regulatória e tributária que vem pressionando empresas brasileiras a encontrar modelos mais eficientes de distribuição de lucros. Com a perspectiva de taxação de dividendos em breve, muitas companhias buscam estratégias para antecipar o reconhecimento de reservas e, ao mesmo tempo, preservar a capacidade de escolher o melhor momento para realizar pagamentos em dinheiro.
A estrutura desenhada pela Axia dá à administração a possibilidade de decidir, exercício a exercício, se converterá PNCs em dividendos, se recomprará parte delas ou se as transformará em ações ordinárias até 2031. Esse longo prazo oferece grande margem de manobra, permitindo adaptação a diferentes cenários fiscais, regulamentares ou setoriais.
Além da questão tributária, o movimento está inserido em um esforço mais amplo de fortalecimento da governança corporativa. A empresa retomou estudos para migrar para o Novo Mercado da B3, segmento que exige o uso exclusivo de ações ordinárias e padrões elevados de transparência e direitos aos acionistas.
A classe PNC, mesmo sendo preferencial, foi desenhada com direito a voto, justamente para não violar os princípios de igualdade e não criar assimetrias que comprometeriam uma eventual migração. Esse desenho reforça o compromisso declarado da companhia com práticas de governança que atendam às expectativas de investidores institucionais e internacionais, muitos dos quais consideram imprescindível a presença no Novo Mercado para incluir o papel em seus portfólios.
Para os acionistas, a proposta abre um leque de potenciais benefícios, mas também exige compreensão dos riscos e da natureza mais gradual desse tipo de mecanismo. Em tese, reconhecer quase 40 bilhões de reais como reserva distribuível deveria representar uma sinalização positiva sobre a robustez financeira da empresa e sua disposição de retornar valor aos investidores.
E Eu Com Isso?
No entanto, a ausência de pagamento imediato significa que parte desse valor só será percebida ao longo dos próximos anos, dependendo de decisões futuras da administração e das condições de mercado. Ainda assim, o fato de que cada PNC carrega um direito econômico explícito tende a ancorar expectativas positivas sobre o valor das ações, sobretudo se o mercado acreditar na capacidade da empresa de gerar caixa e se beneficiar das mudanças de governança.
A proposta será levada à votação em assembleia de acionistas no fim de 2025, etapa crucial para sua implementação. Até lá, investidores acompanharão atentamente não apenas a evolução regulatória e tributária, mas também a performance operacional da Axia, seu plano estratégico e sua eventual mudança de segmento de governança.
Em um setor que exige investimentos pesados e possui forte influência estatal, a capacidade de construir previsibilidade e confiança pode ser tão valiosa quanto os próprios dividendos prometidos. Assim, a iniciativa da Axia representa não apenas uma movimentação financeira, mas um gesto simbólico: o de tentar redefinir sua relação com o mercado após anos de transformações estruturais.
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