A edição mais recente do Relatório Focus, divulgada na manhã desta segunda-feira (17), traz a redução da expectativa de inflação para 2025 para 4,46 por cento, abaixo dos 4,55 por cento esperados da semana anterior. Há quatro semanas, a projeção era de 4,70 por cento. Pela primeira vez neste ano, o Focus traz uma expectativa dos profissionais de mercado de que a inflação de 2025 ficará abaixo do teto da meta, que é de 4,50 por cento.
Um raciocínio simplista poderia ser: como i) a expectativa de inflação está dentro da meta e ii) expectativas são importantes para as decisões do Banco Central (BC), é possível esperar um aumento da probabilidade de o Comitê de Política Monetária (Copom) indicar uma redução da Selic antes do esperado.
Esse raciocínio é válido, mas é preciso observar esse resultado com cautela. O espaço entre a projeção e o teto da meta é de apenas 4 pontos-base (centésimos de ponto percentual). E é apenas uma projeção, não um número concreto de inflação.
O impacto mais importante dessa expectativa de desaceleração da inflação é poder reforçar as expectativas dos investidores de um corte de juros pelo Copom mais cedo do que o esperado. Porém, isso não necessariamente terá uma influência muito grande na atuação efetiva do BC.
Em sua reunião mais recente, realizada na primeira semana de novembro, o Copom manteve os juros em 15 por cento ao ano como esperado. Na Ata divulgada após a reunião, o texto indicou que os juros não deverão subir, mas também não trouxe nenhuma perspectiva de corte nas taxas.
É fato que a comunicação do Copom tem sido consistente ao indicar a desancoragem das expectativas de mercado como um dos principais motivos para a manutenção da política monetária apertada. Agora, com uma melhora das expectativas de inflação, os investidores esperam que haja sinalizações mais claras de um corte na Selic.
E Eu Com Isso?
O primeiro pregão da semana começa com uma leve alta nos contratos futuros dos principais índices americanos no pré-mercado. A melhora das expectativas de inflação no Relatório Focus pode ter uma influência positiva nos ativos brasileiros.
Raízen (RAIZ4) registra aumento do endividamento e resultados pressionados no 2T26
A Raízen (RAIZ4) divulgou seus resultados referentes ao segundo trimestre do ano-safra 25/26. Os números seguem refletindo um ambiente operacional desafiador, deterioração contínua da estrutura de capital, com aumento do endividamento.
A companhia reportou uma dívida líquida de 53,4 bilhões de reais, representando um crescimento de 48,8 por cento em relação ao mesmo período do ano anterior. Com isso, a alavancagem, medida pela relação dívida líquida/EBITDA ajustado, alcançou 5,1x, um patamar considerado bastante elevado.
A receita líquida totalizou 59,9 bilhões de reais no trimestre, queda de 17,8 por cento na comparação anual. Já os custos operacionais somaram 57,2 bilhões de reais, retração de 16,6 por cento em relação ao 2T25. Com isso, o lucro bruto foi de 2,7 bilhões de reais, recuo de 37,8 por cento frente ao mesmo período do ano anterior.
As despesas operacionais permaneceram estáveis em 1,49 bilhão de reais, redução de 20,5 por cento em relação ao ano anterior. O EBITDA ajustado foi de 2,8 bilhões de reais, queda de 39,7 por cento em comparação com o 2T25, refletindo o cenário mais adverso enfrentado pela companhia.
Os investimentos realizados somaram 1,7 bilhão de reais, redução de 29 por cento em relação ao mesmo trimestre do ano anterior. Apesar da continuidade dos projetos de expansão no segmento de etanol de segunda geração (E2G), a empresa tem buscado reduzir a alocação de capital a fim de preservar o caixa e reequilibrar sua estrutura de capital.
O resultado financeiro líquido foi negativo em 2,7 bilhões de reais, uma deterioração de 61 por cento em relação ao 1T26, pressionado principalmente pelo aumento do custo da dívida e pelas taxas de juros ainda elevadas.
Como consequência, a companhia encerrou o trimestre com um prejuízo líquido de 2,3 bilhões de reais, confirmando mais um período desafiador para a Raízen.
A Raízen passa por um processo de revisão estratégica do portfólio, com o objetivo de reduzir sua alavancagem e fortalecer a estrutura de capital. Os esforços de desinvestimento incluem a alienação de usinas recentemente.
A companhia anunciou a venda da Usina Continental, localizada no interior de São Paulo, por 750 milhões de reais. Com isso, a empresa passa a deter 24 usinas e capacidade de moagem de 73 milhões de toneladas por ano-safra.
E Eu Com Isso?
O ano-safra 2026 tem se mostrado particularmente desafiador para a Raízen, marcado por pressões operacionais e financeiras. A combinação de margens comprimidas, menor geração de caixa e aumento da alavancagem resultou em desempenho financeiro mais fraco e deterioração de importantes indicadores de rentabilidade e solvência.
Diante desse cenário, a companhia vem implementando medidas estratégicas voltadas à reestruturação de sua dívida, que ainda não têm surtido efeito, dado que a relação dívida líquida/EBITDA segue em trajetória de aumento.
Do ponto de vista de valuation, a Raízen está sendo negociada a um múltiplo EV/EBITDA de 6,6x em relação aos últimos doze meses.
Entretanto, é importante destacar que a companhia permanece exposta à volatilidade dos preços das commodities, o que, combinado ao seu beta elevado, acima da média do mercado, reflete maior sensibilidade da ação aos movimentos macroeconômicos e financeiros.
O setor de cosméticos atravessou o terceiro trimestre de 2025 enfrentando uma combinação desafiadora de consumo enfraquecido, endividamento elevado das famílias e inflação persistente, fatores que comprimiram o poder de compra e afetaram principalmente categorias discricionárias como perfumaria e maquiagem. Embora historicamente resiliente, a indústria de beleza e higiene pessoal sente de forma mais intensa o efeito dessa mudança no comportamento do consumidor, que tem priorizado itens essenciais e reduzido a fatia destinada a produtos de maior valor agregado. Nesse contexto, o desempenho das principais companhias indica que o ciclo de desaceleração que começou no segundo trimestre se aprofundou, pressionando volumes, reduzindo a frequência de compras e elevando a competição entre marcas.
Dentro desse ambiente, a Natura (NATU3) apresentou um trimestre que reflete esse cenário mais hostil. A receita da marca recuou 0,2 por cento no Brasil, movimento que, embora moderado, desencadeou uma retração mais expressiva no faturamento consolidado da holding. O impacto foi ainda mais evidente na Avon, cuja receita doméstica caiu 13 por cento e reforçou um padrão de perda de tração já observado ao longo dos últimos trimestres. As quedas acentuadas, sobretudo na divisão Hispana da Avon, revelam uma fragilidade estrutural nas categorias que dependem de lançamentos, renovação de portfólio e maior elasticidade de demanda — justamente os segmentos mais penalizados pela retração do consumo. Ao mesmo tempo, produtos de uso diário e higiene pessoal continuam apresentando maior resiliência, mas não são suficientes para compensar a pressão sobre as linhas premium e de perfumaria.
O movimento de reestruturação observado na Avon — desde a revisão da estratégia de portfólio até a ampliação da presença no varejo físico — reforça a necessidade de adaptação das empresas a um consumidor mais seletivo e menos impulsionado por tendências. A expansão para redes farmacêuticas e perfumarias busca recuperar capilaridade e melhorar visibilidade, mas ocorre em um momento de queda generalizada da demanda, o que reduz o potencial de alavancagem no curto prazo. De forma semelhante, outras líderes globais, avançam em processos de reorganização de portfólio e revisão de marcas locais, um sinal de que a pressão não é pontual nem restrita ao Brasil, mas parte de um ajuste mais amplo nos mercados latino-americanos.
Mesmo entre as gigantes com maior diversificação, o ambiente segue desafiador. A L’Oréal também registrou queda nas vendas na América Latina no trimestre, mostrando que a desaceleração é transversal e não apenas uma questão de posicionamento competitivo. Apesar de alguns nichos pontuais de crescimento, como produtos profissionais e itens de consumo massivo, o setor opera sob um quadro de acomodação após anos de expansão acelerada. No Brasil, embora a companhia destaque o país como um dos mercados mais equilibrados da região, o desempenho ainda reflete um consumidor mais cauteloso, que ajusta prioridades e reduz despesas consideradas “não essenciais”.
Por fim, o desempenho do trimestre reforça que a indústria de cosméticos está passando por um momento de inflexão, no qual o histórico de resiliência não é suficiente para amortecer por completo a desaceleração macroeconômica. A capacidade de adaptação será determinante para atravessar os próximos meses com maior estabilidade. As empresas que conseguirem equilibrar reposicionamento de marcas, racionalização de portfólio e expansão disciplinada de canais podem se proteger melhor da queda de demanda. Assim, o fechamento do 3T25 sinaliza um setor ainda pressionado, que permanece dependente de melhorias macroeconômicas para recuperar o ritmo e voltar a entregar crescimento mais consistente.
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