
A sexta-feira começa sob tensão nos mercados globais, com os contratos futuros dos principais índices americanos em baixa no pré-mercado. Investidores temem que o “shutdown” do governo dos Estados Unidos tenha provocado perda de dados oficiais, como já ocorreu em paralisações anteriores. Informações atrasadas ou ausentes dificultam leituras de atividade e inflação. Sem números confiáveis, os investidores ampliam sua aversão ao risco.
A preocupação surge em um momento sensível para a política monetária americana. A inflação segue resistente. O consumo mostra força. O mercado de trabalho perde tração, mas ainda pressiona salários. Esse conjunto sustenta a tese de que o Federal Reserve (FED), o banco central americano, pode ser forçado a adotar uma postura ainda mais cautelosa e não tem espaço para cortes no curto prazo.
Nos mercados de ações, os setores mais sensíveis aos juros oscilam com intensidade. Empresas de tecnologia mostram volatilidade alta. Bancos reagem às expectativas sobre a curva de rendimentos. Companhias ligadas ao consumo sofrem com a perspectiva de juros elevados por mais tempo. No mercado de renda fixa, o rendimento dos títulos públicos americanos de prazos mais longos segue elevado.
Qual a justificativa disso? Desde o fim do 3T25, o FED explicitou que estava dando mais atenção à desaceleração do mercado de trabalho americano, e diminuindo o foco na inflação, que segue rodando acima das metas. O raciocínio subjacente é que a política das tarifas comerciais fez a inflação mudar de patamar e que, para o FED, esse é um efeito que ainda (atenção aqui) pode ser considerado temporário.
No entanto, para que saber com certeza se o efeito das tarifas nos preços é temporário ou permanente, é preciso observar os dados com cuidado. O que ficou prejudicado pelo “shutdown”. Na dúvida, os investidores embutem um excedente de risco em suas avaliações. O que provoca a queda das cotações em Wall Street e pode levar a uma realização de lucros por aqui.
E Eu Com Isso?
Além da queda dos contratos futuros, as cotas do Exchange Traded Fund (ETF) EWZ iShares MSCI Brazil também estão em queda no pré-mercado, o que indica um movimento de baixa nesta sexta-feira.
Hapvida (HAPV3) desaba após 3T25 fraco, com sinistralidade elevada e queima de caixa
A Hapvida (HAPV3) protagonizou um dos pregões mais tensos do ano na B3 após divulgar um 3T25 marcado por deterioração operacional e financeira. As ações chegaram a cair mais de 47 por cento ao longo do dia, atingindo mínima histórica de 17,29 reais e levando a companhia a perder mais de 7 bilhões de reais em valor de mercado — recuando para um market cap em torno de 9 bilhões de reais. O papel enfrentou sucessivas interrupções de negociação, com cerca de dez leilões apenas nas duas primeiras horas de pregão, dado o ritmo acelerado de venda e o volume intenso, que superou 50 milhões de ações negociadas. A volatilidade extrema refletiu a leitura predominantemente negativa dos números divulgados, que reforçaram um quadro de pressão operacional, menor previsibilidade e deterioração das margens.
O ponto central foi a sinistralidade, que voltou a subir de maneira relevante no trimestre, mostrando avanço tanto na comparação trimestral quanto anual. A maior frequência de utilização, o aumento do custo assistencial e a pressão adicional das novas unidades hospitalares elevaram a sinistralidade caixa a patamar pior que o esperado, ampliando o descasamento entre custos e reajustes. Além disso, a adição líquida de beneficiários ficou abaixo do esperado, em parte impactada por maior competição em mercados relevantes como São Paulo. O conjunto desses fatores reforça que a operação segue distante de um patamar sustentável de rentabilidade.
A receita até mostrou crescimento moderado, impulsionada por ticket médio mais alto, mas insuficiente para compensar o avanço dos custos médicos. O EBITDA ajustado recuou fortemente, retornando a níveis similares aos registrados logo após a fusão com a Notredame Intermédica, evidenciando perda de eficiência e falta de captura de sinergias. Mesmo com a presença de efeitos contábeis positivos que ajudaram o resultado reportado, eles não alteram a leitura estrutural mais desafiadora: a margem encolheu de maneira relevante e não há clareza de quando o ciclo de pressão poderá ser revertido.
Outro ponto que pesou na percepção de risco foi o fluxo de caixa, que veio negativo em cerca de 52 milhões de reais após capex — forte contraste em relação ao resultado positivo do ano anterior. A combinação de EBITDA mais fraco, desembolsos extraordinários e investimentos maiores reduziu a conversão de caixa e elevou a necessidade de financiamento. A dívida líquida aumentou no trimestre, levando a alavancagem para 1,0x, enquanto a projeção de novos investimentos em rede própria mantém a pressão sobre liquidez e balanço para os próximos trimestres.
O lucro líquido ajustado também decepcionou, vindo 34 por cento abaixo das estimativas, e o prejuízo contábil reforça a percepção de que a companhia ainda enfrenta volatilidade elevada em seus números, com diversos efeitos não recorrentes influenciando o resultado. Além disso, o ressarcimento ao SUS — que já foi fonte de pressão em trimestres anteriores — voltou a impactar o período e deve seguir afetando a empresa por pelo menos mais um ano, segundo a própria Hapvida, adicionando mais um vetor de incerteza ao desempenho financeiro futuro.
E Eu Com Isso?
A reação do mercado, portanto, é consistente com a leitura de que o 3T25 foi um trimestre fraco em praticamente todas as frentes relevantes: margens comprimidas, custos crescentes, queima de caixa, menor previsibilidade operacional e intensificação da concorrência. O tombo expressivo das ações — que levou a empresa ao menor valor de mercado desde o IPO — reflete o aumento sensível da percepção de risco e a dúvida sobre a capacidade de execução no curto prazo.
Diante dessa combinação de fatores e de uma visibilidade limitada sobre a trajetória de margens e sinistralidade em 2026, adotamos uma postura mais cautelosa para a tese. Os resultados reforçam a necessidade de revisar para baixo projeções operacionais e financeiras, com menor expectativa de expansão de rentabilidade e maior incerteza sobre conversão de caixa. Entendemos que a companhia continua sendo um player relevante no setor, mas o momento exige prudência, até que haja sinais claros de estabilização operacional e melhoria consistente dos indicadores. Até lá, mantemos visão cautelosa e preferimos aguardar evidências de recuperação antes de reavaliar o posicionamento.
JBS (JBSS32) divulga resultados do 3º trimestre de 2025 em meio ao ciclo desafiador
A JBS (JBSS32) divulgou o resultado do terceiro trimestre de 2025, em um ambiente global desafiador, combinando resiliência operacional com impacto direto dos ciclos de oferta de matéria-prima.
A companhia registrou receita de 22,6 bilhões de dólares, crescimento em relação ao ano anterior, impulsionado pela maior demanda global e por volumes superiores em diversas regiões. Apesar disso, o lucro líquido recuou para 581 milhões de dólares, refletindo pressões de custos em alguns segmentos, sobretudo na produção de carne bovina na América do Norte, onde os preços do gado atingiram níveis historicamente elevados e a oferta permanece reduzida.
Esse cenário contrastante com expansão de receita, mas margens apertadas em áreas críticas. A empresa destacou que os custos com gado permaneceram em patamar elevado e que a disponibilidade do rebanho segue abaixo da média histórica, pressionando a rentabilidade da operação. A valorização do real ao longo do trimestre também reduziu a competitividade de exportações brasileiras, limitando o repasse de preços em mercados internacionais.
Apesar das pressões, a JBS demonstrou força nas operações de alimentos processados e nas unidades brasileiras e australianas, que apresentaram bom desempenho operacional e contribuíram para suavizar o impacto das margens negativas na América do Norte. As exportações mantiveram ritmo firme, e linhas de maior valor agregado ganharam relevância, ampliando a resiliência da companhia em meio à volatilidade global.
O EBITDA ajustado consolidado alcançou cerca de 1,8 bilhão de dólares, abaixo do registrado no ano anterior, evidenciando o efeito direto da pressão de custos sobre a estrutura de margens. Ainda assim, o desempenho demonstra controle operacional e disciplina na gestão de despesas. A alavancagem manteve-se em 2,4 vezes, dentro dos parâmetros razoáveis para a continuidade dos investimentos e para a liquidez.
Mais uma vez a força da diversificação geográfica auxiliou na manutenção de um bom nível dos números. Enquanto ciclos pecuários desfavoráveis pressionaram uma parte relevante do portfólio, outras unidades avançaram de maneira consistente, protegendo parcialmente os resultados. Esse equilíbrio é um dos pilares da companhia e segue sendo fundamental para sua capacidade de atravessar fases mais difíceis do setor.
E Eu Com Isso?
O ciclo atual da pecuária na América do Norte permanece como ponto central de atenção para o mercado, já que a oferta reduzida deve continuar limitando margens até que novas fases de recomposição do rebanho se consolidem.
Para os próximos trimestres, o desempenho da empresa dependerá do comportamento dos custos de matéria-prima, do câmbio e da demanda global por proteínas. Caso a oferta de gado continue restrita, a pressão sobre as margens poderá persistir. Em contrapartida, operações que vêm apresentando ganhos de eficiência e aumento de volumes podem contribuir para manter o caixa robusto e a rentabilidade em níveis adequados.
A JBS segue firme, com desempenho sólido em um ambiente complexo, mas enfrentará meses que exigem disciplina operacional e sensibilidade estratégica para ajustar o mix de produtos.
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