
Na segunda-feira (03) o Ibovespa fechou pela primeira vez acima de 150 mil pontos. Qual a importância desse fato? Como ocorre com a maioria das questões subjetivas, a resposta é um desconfortável meio termo. É um fato que níveis “psicológicos” têm importância na formação de expectativas. Na prática, um dólar a 4,99 reais não é muito diferente de um dólar a 5,00 reais. No entanto, a mera mudança de 4 para 5 é capaz de alterar a percepção dos investidores. Da mesma forma, um Ibovespa a 149.900 pontos está apenas 0,07 por cento abaixo de um índice a 150 mil pontos. Mas essa pequena diferença é capaz de alterar as projeções e as estimativas.
Dito isso, o desempenho do mercado tem sido bastante positivo. Em reais, a valorização acumulada do Ibovespa em 12 meses até o recorde da segunda-feira foi de 15,28 por cento. Em dólares a alta foi ainda mais expressiva, 24,74 por cento, devido à depreciação da moeda americana em relação ao real. Porém, o Ibovespa está muito mais “caro” do que estava 12 meses atrás?
Para responder a essa pergunta vamos fazer duas comparações entre as relações Preço x Lucro (P/L). É um indicador bastante simples: mostra em quanto tempo (em anos) o lucro por ação de uma determinada empresa iria “devolver” ao investidor o valor pago pela ação. Assim, um P/L de 10 quer dizer que, mantidos o preço do dia da compra e o lucro por ação do exercício imediatamente anterior, o investidor teria seu dinheiro de volta em 10 anos.
Não é o mais perfeito dos indicadores, mas é um dos mais usados porque permite comparar empresas de setores diferentes e de mercado diferentes, sendo independente de moedas. Permite, por exemplo, comparar a Petrobras (PETR4) com uma petrolífera mexicana, americana ou europeia.
O P/L médio das 15 ações de maior participação do Ibovespa era de 13,6 na segunda-feira (3). O mesmo resultado 12 meses antes, no dia 4 de novembro de 2024 (o dia 3 foi um domingo) era de 12,4. Nesse período, essas ações brilharam no pregão. Apesar das quedas de Petrobras, a valorização média foi de 27,4 por cento, quase o dobro da alta do Ibovespa. No entanto, o P/L subiu 9,45 por cento, cerca de um terço da alta das ações.
Assim, apesar de as cotações terem avançado bastante, as empresas não estão tão mais caras. Como os lucros aumentaram, o avanço dos preços foi parcialmente compensado.
Isso permite prever novas altas? Fazer projeções sobre o comportamento futuro de ativos financeiros é um exercício excelente para o desenvolvimento da humildade. Nada garante que essa trajetória de valorização continue. Inclusive, os papéis brasileiros estão em queda no pré-mercado em Wall Street. Porém, enquanto as empresas brasileiras apresentarem bons resultados, há justificativas para que os investidores coloquem dinheiro me suas ações.
E Eu Com Isso?
O pregão desta terça-feira (4) começa com quedas de cerca de 1 por cento nos contratos futuros dos principais índices americanos e nas cotas do Exchange Traded Fund (ETF) EWZ iShares MSCI Brazil negociadas em Nova York no pré-mercado. Há duas razões para isso. A primeira é a perda de entusiasmo em torno das ações de inteligência artificial diante de resultados não muito positivos referentes ao terceiro trimestre. A segunda é a fraqueza dos dados econômicos dos Estados Unidos, além da divergência de opiniões entre os diretores do Federal Reserve (FED), o banco central americano, quanto à trajetória para os juros nos próximos meses.
BB Seguridade (BBSE3) lucra 2,6 bilhões de reais no 3T25, alta de 13,1 por cento
Na noite da segunda-feira (03), a BB Seguridade (BBSE3) divulgou seus resultados referentes ao terceiro trimestre de 2025, reportando lucro líquido de 2,56 bilhões de reais, um crescimento de 13,1 por cento em relação ao mesmo período de 2024. O desempenho reflete o cenário de juros ainda elevados, que favorece parte das subsidiárias do grupo.
A Brasilprev apresentou lucro de 532,4 milhões de reais, avanço de 14,8 por cento frente ao 3T24. O resultado foi impulsionado pela valorização das carteiras de investimento, beneficiadas pela marcação positiva ao mercado.
Já a Brasilseg lucrou 949 milhões de reais, 7,2 por cento acima do mesmo período do ano anterior, diante do crescimento dos prêmios ganhos e redução da sinistralidade, e aumento do resultado financeiro.
A Brasilcap também teve evolução, com lucro de 61,3 milhões de reais, alta de 31,7 por cento em comparação ao mesmo período do ano anterior. A melhora decorre da maior rentabilidade das aplicações financeiras, em linha com o comportamento das taxas de juros, além do fortalecimento da eficiência operacional.
A BB Corretora lucrou 943,8 milhões de reais, crescimento de 9,4 por cento na base anual. O resultado reflete o aumento das receitas de corretagem, impulsionado pela retomada da demanda por produtos de seguros e previdência e pela aceleração da digitalização dos canais de venda.
O resultado financeiro da holding atingiu 63,6 milhões de reais, avanço expressivo de 36,5 por cento em relação ao 3T24. Esse desempenho está associado ao patamar ainda elevado da taxa Selic e à gestão eficiente das carteiras pós-fixadas, que continuam sendo uma importante fonte de rentabilidade para o conglomerado.
As despesas gerais e administrativas somaram 64,6 milhões de reais, representando uma queda de 6,2 por cento frente ao mesmo trimestre de 2024, reforçando o compromisso da companhia com o controle de custos e a eficiência operacional.
No acumulado dos doze primeiros meses de 2025, o lucro líquido gerencial totalizou 10 bilhões de reais, crescimento de 16 por cento em relação ao ano anterior. Nesse contexto, a BB Seguridade negocia atualmente a um P/L de 7,4 vezes e mantém um retorno sobre o patrimônio líquido (ROE) em níveis elevados, próximos a 85 por cento.
A forte geração de caixa, aliada a margens consistentes, sustenta a política de elevada distribuição de proventos, resultando em um dividend yield de 12,9 por cento — um dos mais atrativos do setor financeiro.
E Eu Com Isso?
Entre os destaques qualitativos, a companhia ressaltou a continuidade do processo de digitalização e a ampliação da oferta de produtos integrados ao Banco do Brasil, instituição que, por sua vez, enfrenta um contexto desafiador em termos de provisões e da carteira de crédito, especialmente no segmento de agronegócios.
Este resultado do terceiro trimestre de 2025 foi marcado por aumento do lucro e um sólido desempenho operacional da BB Seguridade, sustentado por ganhos financeiros e aumento de eficiência.
O atual cenário de juros elevados continua sendo favorável para a companhia, contribuindo para margens expressivas e forte geração de resultados. No entanto, a empresa já se prepara para um ambiente de redução gradual da Selic a partir de 2026, o que deve demandar maior disciplina operacional, gestão ativa de portfólio e diversificação de produtos para preservar os altos níveis de rentabilidade no próximo exercício.
TIM (TIMS3) entrega lucro robusto e evolução estrutural em serviços de maior valor no 3T25
A TIM (TIMS3) reportou um 3T25 bastante sólido, combinando expansão relevante de rentabilidade e crescimento saudável de receita de serviços. O lucro líquido atingiu 1,2 bilhão de reais, avanço expressivo de 50 por cento a/a, refletindo ganhos de eficiência, maturidade operacional e foco no mix de clientes mais rentáveis. O trimestre também foi marcado por margens recordes, evolução contínua no pós-pago e fortalecimento do B2B — uma vertical estratégica que vem ganhando escala e ampliando a relevância no portfólio da operadora. Apesar de um cenário competitivo acirrado, a companhia segue demonstrando disciplina, execução assertiva e capacidade de capturar valor em segmentos de maior retorno, consolidando um ciclo positivo de resultados.
A receita líquida da TIM totalizou 6,7 bilhões de reais no trimestre, crescimento de 4,5 por cento a/a, sustentado principalmente pela expansão de 5,2 por cento na receita de serviços móveis, que alcançou 6,2 bilhões de reais. O pós-pago se manteve como principal motor de crescimento, com aumento de 10,9 por cento na receita e ARPU atingindo 44,10 reais, enquanto no segmento corporativo esse indicador chegou a 55,50 reais — reforçando o foco da empresa em clientes de maior valor e produtos de maior monetização. A base total de usuários permaneceu estável em 62,6 milhões, mas a migração gradual de pré-pago para pós-pago (32,3 milhões de linhas pós-pagas, +9 por cento a/a) reforça a consolidação do mix premium e sustenta a expansão de margens no médio prazo.
A rentabilidade foi o grande destaque do período. O EBITDA cresceu 7,2 por cento a/a, alcançando 3,47 bilhões de reais, enquanto a margem EBITDA atingiu 51,7 por cento, novo recorde histórico para um terceiro trimestre. Essa performance decorre de maior produtividade e controle rigoroso de despesas comerciais e administrativas, refletindo efetividade nas iniciativas de eficiência operacional e integração sistêmica. A operação de banda larga fixa, ainda que menor no contexto da companhia, apresentou recuperação gradual, contribuindo para expansão da rentabilidade mesmo em um ambiente de competição acirrada entre operadoras. A estratégia da TIM de privilegiar eficiência e qualidade em vez de expansão acelerada de footprint em fibra se mostrou acertada diante do racional econômico atual.
Do lado estratégico, a TIM reforçou sua posição como protagonista na implementação do 5G no país, alcançando cobertura em mil cidades — a maior expansão entre as operadoras e primeira a cumprir integralmente as metas regulatórias da Anatel. A companhia também destacou sua crescente relevância no mercado corporativo, com destaque para a parceria com a Vale para implantação de 5G em operações industriais. Esse movimento fortalece a presença da TIM em soluções B2B, setor no qual a empresa saiu de receita contratada praticamente nula há quatro anos para próxima de 1 bilhão de reais atualmente, demonstrando que sua estratégia de monetização de redes e serviços avançados está ganhando tração e construindo uma avenida sustentável de crescimento.
Em relação à alocação de capital e estrutura financeira, a TIM manteve postura prudente, com alavancagem medida por dívida líquida/EBITDA em 0,79x, refletindo solidez patrimonial e flexibilidade financeira para sustentar investimentos. O capex somou 974 milhões de reais no trimestre, concentrado em expansão de infraestrutura de rede e digitalização de processos — pilares essenciais para manter a diferenciação tecnológica e eficiência operacional. A modernização da estrutura de São Paulo foi concluída no período, reforçando ganhos de produtividade e experiência do cliente.
E Eu Com Isso?
A TIM também reforçou sua visão estratégica para o portfólio de clientes e monetização futura: com o pré-pago ainda representando 48,3 por cento da base, há espaço relevante para continuar migrando clientes para ofertas pós-pagas e híbridas, o que deve sustentar ARPU mais elevado e consolidar eficiência comercial. A companhia reiterou que não tem pressa em movimentos como aquisição de fatia adicional da rede neutra I-Systems, priorizando o uso racional do capital e a geração de valor de longo prazo. Esse posicionamento contrasta com a abordagem mais agressiva de concorrentes em M&A, e reforça a disciplina estratégica da TIM em permanecer focada em mobilidade, digitalização e B2B como vetores principais.
O 3T25 reforça, portanto, a solidez da TIM como uma tese de valor e eficiência, com crescimento consistente em serviços, avanço em segmentos de maior ticket, margens recordes e execução alinhada ao ciclo tecnológico do setor. O foco em clientes de maior valor, a monetização progressiva do 5G, o avanço relevante no B2B e a disciplina de capital formam uma combinação que fortalece o perfil de longo prazo da companhia. Com valuation atrativo, boa geração de caixa e estrutura financeira confortável, a TIM segue bem-posicionada para entregar resultados robustos e capturar oportunidades em digitalização, serviços corporativos e redes móveis de alta performance.
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