Cenário Macroeconômico
No campo político, o ambiente segue permeado por incertezas. A votação da LDO de
2026 foi novamente adiada a pedido do governo, segundo decisão da Comissão
Mista de Orçamento (CMO) do Congresso. O adiamento reflete a dificuldade de
articulação política e o impasse sobre as prioridades fiscais para o próximo exercício,
já que o governo busca recompor receitas e acomodar novas despesas obrigatórias.
O Boletim Focus divulgado nesta segunda-feira (20) mostrou leve ajuste nas
projeções de mercado para os principais indicadores macroeconômicos. A mediana
das expectativas para o IPCA de 2025 recuou de 4,72% para 4,70%, sinalizando
continuidade do processo de desinflação, ainda que em ritmo moderado. Para 2026,
a projeção passou de 4,28% para 4,27%, o que reforça a percepção de convergência
gradual da inflação.
Em relação ao PIB, o mercado revisou marginalmente para cima a estimativa de
crescimento em 2025, de 2,16% para 2,17%. Para 2026, a projeção foi mantida em 1,80%,
sugerindo cenário de expansão mais contida.
No câmbio, a mediana das projeções para o dólar em 2025 recuou de R$ 5,45 para R$
5,43, acompanhando o arrefecimento do estresse recente. Para 2026, a estimativa
permaneceu estável em R$ 5,50. Já a expectativa para a Selic foi mantida em 15,00%
ao ano em 2025 e 12,25% ao ano em 2026, indicando que o mercado ainda vê o ciclo
de afrouxamento monetário em ritmo cauteloso, com o Banco Central equilibrando a
queda dos juros à frente com as incertezas fiscais e externas.
Os mercados internacionais iniciaram a semana com tom positivo. As bolsas de Nova
York subiram com alívio nas tensões comerciais entre Estados Unidos e China,
impulsionadas pelo avanço das ações de tecnologia. O Dow Jones encerrou o dia em
alta de 1,12%, o S&P 500 avançou 1,07% e o Nasdaq ganhou 1,37%.
No Brasil, o Ibovespa acompanhou o movimento externo e encerrou a segunda-feira
em alta de 0,77%, aos 144.509 pontos. O dólar, por sua vez, recuou para R$ 5,37,
apagando parte das perdas recentes com o estresse ligado à guerra comercial.
Renda Fixa
No curto prazo, a curva de juros apresentou leve abertura nas taxas curtas,
acompanhada por redução no volume de negócios, em um pregão de liquidez
moderada. O F26 (jan/26) manteve-se praticamente estável em 14,90%, com cerca
de 2,7 mil negócios e OI estável em 4,09 milhões de contratos, refletindo continuidade
da liquidez na base da curva. Já o F27 (jan/27) — principal referência da ponta curta
— recuou de 14,02% para 13,97% (-5 bps), com redução no número de negócios (de
11,8 mil para 10,1 mil) e OI em torno de 5,38 milhões de contratos, indicando ajuste
pontual e postura mais cautelosa dos investidores, em linha com o ambiente de
estabilidade monetária.
Nos vértices intermediários, o movimento foi de fechamento mais consistente das
taxas, com realocação de posições e retomada da demanda por duration média. O
F28 (jan/28) caiu de 13,37% para 13,28% (-9 bps), com volume elevado (22,6 mil
negócios) e OI praticamente inalterado em 3,35 milhões de contratos. O F29 (jan/29)
também apresentou fechamento relevante, de 13,34% para 13,24% (-10 bps),
sustentado por forte giro de 25 mil negócios e OI estável em 3,47 milhões, refletindo
reposicionamento técnico e maior interesse pelos vencimentos intermediários.
Na parte longa, o fechamento foi mais amplo, acompanhado por aumento do
volume e manutenção do interesse aberto. O F31 (jan/31) recuou de 13,61% para 13,52%
(-9 bps), com volume elevado (11,3 mil negócios) e OI estável em 1,77 milhão de
contratos. Já o F33 (jan/33) caiu de 13,75% para 13,68% (-7 bps), com 5,3 mil negócios
e OI em torno de 589 mil contratos, reforçando a tendência de compressão das taxas
nos vértices longos.
O movimento consolidou um bull-flattening moderado, com fechamento mais
intenso nas partes intermediária e longa da curva, refletindo ajustes técnicos e
recomposição de posições após o leve bear-steepening da semana anterior. O
padrão indica retomada seletiva de posições aplicadas, em meio a menor pressão
na ponta longa e percepção de estabilidade na condução da política monetária.
Ações Brasil
A Petrobras (PETR4) anunciou, no dia de ontem (20), uma redução de R$0,14 por litro no
preço da gasolina vendida às distribuidoras. A decisão acompanha a recente queda das
cotações do petróleo no mercado internacional, além da valorização do real frente ao
dólar ao longo de 2025. A medida também deve contribuir para aliviar a inflação ao
consumidor, com expectativa de uma redução aproximada de 4,9% no preço final da
gasolina.
Do ponto de vista operacional, a redução tende a pressionar as margens da companhia. No entanto, a decisão visa preservar a competitividade da Petrobras frente aos
importadores e à crescente concorrência dos combustíveis alternativos, como o etanol,
que atualmente apresenta preços bastante competitivos em diversas regiões do país. Para os acionistas, a estratégia pode ajudar a estabilizar a demanda interna e evitar perda
de participação de mercado, o que contribuiria para manter os volumes de vendas e a
eficiência operacional das refinarias. Por outro lado, a compressão de margens pode
resultar em um lucro líquido menor no quarto trimestre de 2025.
A menor geração de caixa decorrente da queda no preço do combustível pode também
afetar a distribuição de dividendos. Atualmente, o mercado projeta que a Petrobras
distribuirá cerca de R$ 40 bilhões em dividendos nos próximos doze meses, o que
representa um dividend yield de aproximadamente 10%. Com a redução nas margens,
esse valor pode ser revisado para baixo, ainda que não de forma drástica.
Apesar da queda de preço, a solidez financeira da Petrobras não é comprometida neste
momento. No entanto, a movimentação pode sinalizar uma tendência que levará o
mercado a revisar projeções de EBITDA e os modelos de avaliação das ações da
companhia.
O cenário internacional segue relevante, com o barril de Brent sendo negociado próximo
aos US$60, ainda sujeito à volatilidade geopolítica e às incertezas sobre a demanda
global.
A política de preços da Petrobras continua sob observação por parte dos investidores.
Segundo dados da Abicom (Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis), até
o fechamento da última sexta-feira, a Petrobras vendia gasolina cerca de 8% acima do
valor praticado pelos distribuidores independentes. Nesse contexto, o corte anunciado
alinhar os preços da petroleira aos demais players do mercado. Desde o fim da paridade automática com o mercado internacional, a Petrobras passou a
adotar um modelo de precificação mais flexível. Nesse novo modelo, fatores internos
como custos locais, margens operacionais e competitividade passaram a ter maior peso
na definição dos preços dos combustíveis.
No curto prazo, o impacto financeiro da redução de R$0,14 por litro na gasolina é
relativamente limitado para a Petrobras. No entanto, a contínua queda no preço do barril
do Brent no mercado internacional representa um fator de pressão adicional sobre os
resultados da companhia.
Caso a tendência de baixa se prolongue, a empresa poderá enfrentar uma compressão de
margens em um momento em que o investidor valoriza previsibilidade e consistência nos
fluxos de caixa. Como consequência, a capacidade da Petrobras de manter seus níveis
atuais de distribuição de dividendos pode ser afetada, resultando em pagamentos
potencialmente menores.
Seguimos atentos às próximas divulgações de resultados para avaliar como a companhia
tem se adaptado a um ambiente de preços do petróleo mais baixos do que os registrados
nos últimos anos. A forma como a Petrobras equilibra competitividade de mercado,
eficiência operacional e retorno ao acionista será para seu desempenho no médio prazo.
Rede D’Or amplia radar estratégico e mira novas oportunidades em
medicina diagnóstica
As especulações sobre uma possível negociação entre a Rede D’Or e as companhias
Dasa e Alliança Saúde movimentaram o noticiário corporativo e o mercado de saúde
brasileiro nesta segunda-feira (20/10). Embora o assunto ainda esteja no campo dos
rumores, a notícia reforça o apetite estratégico da Rede D’Or em expandir sua presença
no segmento de medicina diagnóstica, movimento que se mostra coerente com sua
trajetória de diversificação e verticalização desde a aquisição da SulAmérica. A
companhia, que já possui o laboratório Richet, teria retomado as conversas após
suspender tratativas com o Fleury, por divergências quanto à precificação do ativo.
A possibilidade de novas aquisições ocorre em um contexto de forte recomposição
competitiva entre os principais players de saúde no país. Dasa, Fleury, Alliança e Rede
D’Or disputam espaço em um ambiente que exige eficiência operacional, sinergias de
custo e maior integração entre as frentes de diagnóstico, assistência hospitalar e planos
de saúde. Nesse cenário, a Rede D’Or aparece como um consolidador natural, com
balanço robusto, caixa sólido e capacidade de execução comprovada, o que lhe permite
atuar de forma ativa mesmo em um ambiente de juros elevados. Além disso, o grupo
tem demonstrado visão estratégica consistente ao identificar oportunidades que
aumentem a integração entre diagnóstico e cuidado, reduzindo custos e ampliando
margens.
O interesse da Rede D’Or por ativos de diagnóstico, como Dasa e Alliança, está alinhado
à sua tese de verticalização e expansão de serviços complementares. A medicina
diagnóstica representa uma frente relevante para ganhos de sinergia, já que é
responsável por parte significativa dos custos hospitalares e permite ampliar a eficiência
clínica e administrativa. Diferentemente do modelo de atuação baseado apenas em
crescimento inorgânico via hospitais, a entrada mais profunda em diagnósticos tende a
criar um ecossistema de saúde mais integrado, capaz de capturar valor desde a
prevenção até o tratamento.
O movimento também ganha relevância num momento em que o setor de saúde passa
por transformações estruturais, com avanços tecnológicos, digitalização de processos e
crescimento da demanda por soluções completas e convenientes. Nesse contexto,
possuir controle sobre uma rede diagnóstica que oferece vantagens competitivas
importantes: desde a agilidade na entrega de resultados até a padronização de
protocolos e o uso de dados clínicos para melhorar a gestão assistencial. Para a Rede
D’Or, que já opera com margens superiores às dos pares, a expansão nesse nicho
reforçaria sua posição como líder de um modelo de saúde integrado, mais eficiente e
centrado no paciente.
Ainda que o cenário siga incerto e as negociações não tenham sido confirmadas
oficialmente, a leitura do mercado é que a Rede D’Or segue em posição privilegiada para
liderar o próximo ciclo de consolidação do setor. A empresa combina crescimento
orgânico consistente, ganhos de eficiência e flexibilidade financeira para aproveitar
oportunidades seletivas. Mesmo diante da recente alta dos juros e da desaceleração no
consumo, a tese estrutural da companhia permanece sólida — sustentada por ativos de
alta qualidade, capacidade operacional e uma estratégia de longo prazo voltada para a
integração de negócios e expansão sustentável.
Mantemos, portanto, uma visão positiva para RDOR3, considerando que eventuais
movimentos de fusões e aquisições reforçam seu papel como protagonista na
reconfiguração do setor de saúde no Brasil. Além do potencial de sinergias e
diversificação de receitas, a empresa se beneficia de fundamentos sólidos e de uma
execução consistente, o que sustenta nossa perspectiva de valorização no médio e
longo prazo. Em um ambiente de juros elevados e seletividade crescente entre
investidores, a Rede D’Or segue sendo uma das histórias mais bem posicionadas para
capturar valor quando o ciclo de afrouxamento monetário se iniciar, consolidando-se
como um dos principais nomes de qualidade da Bolsa brasileira.
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