O mercado global e o do Brasil continuam flutuando no embalo do vai e vem dos dados e expectativas, o que envolve desde inflação, atividade, fiscal e juros, principalmente nos Estados Unidos, até possíveis implicações da guerra entre Israel e Hamas, além de outras questões geopolíticas. E a próxima semana, com definições dos juros pelo Copom e pelo FED, aumenta o nível das expectativas. Não tanto por aqui, onde, por ora se conta com manutenção dos cortes de 0,5 ponto da Selic, que deve cair para 12,25% ao ano e, em princípio, pode chegar aos 9% no ano que vem.
Essa perspectiva para os juros básicos no Brasil foi reforçada pelo IPCA-15 de outubro, com alta de 0,21%, dentro do esperado e com composição mais favorável, onde se nota menor difusão dos aumentos, com movimento baixista de serviços subjacentes e dos núcleos. Desinflação que ainda pode contar com os efeitos da recente perda de fôlego da atividade. Vale observar que no último relatório Focus a projeção de inflação para o ano caiu para 4,65%, abaixo da meta de 4,75%, e a do PIB para 2,90%.
As preocupações com o fiscal, com as dificuldades de o governo atingir as metas do arcabouço, embora até possam pesar em futuras decisões do Copom, assim como o cenário externo, por enquanto, não têm influenciado as projeções para a política monetária. A pressão maior tem sido mesmo sobre a Bolsa, o câmbio e a curva de juros. Mas essas questões, de qualquer modo, estão colocadas e têm sido destacadas pelo Copom. No comunicado da última reunião houve até ênfase maior para a necessidade de o governo perseguir as metas e de avanço das reformas.
Alguns avanços têm ocorrido no Congresso, mas lentamente e sem assegurar melhor cenário para as finanças públicas. Nesta semana foi apresentada, à CCJ do Senado, nova proposta da Reforma Tributária, ainda com mais exceções, do que a da Câmara, para a aplicação das alíquotas dos novos tributos que serão criados em substituição ao ICMS, ISS, IPI, PIS e Cofins. Por outro lado, a Câmara aprovou a taxação dos investimentos offshore e dos fundos exclusivos, enquanto houve prorrogação da desoneração da folha para os setores que mais empregam. Enfim, nada de grandes avanços em termos do ajuste esperado.
Já do lado externo, houve até uma pressão menor sobre os juros dos títulos americanos, mas a alta dos juros por lá, inclusive no que se refere à política do FED, ainda gera muitas incertezas, influenciando os mercados.
Em evento no começo da semana, mais uma vez, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, ressaltou que começa a se consolidar uma interpretação menos benigna e mais estrutural quanto à alta dos juros dos títulos americanos, que, como observou, mexeu com quase todas as curvas de juros, inclusive aqui. Entre os fatores, Campos Neto, que espera nova alta das taxas pelo FED, citou o fiscal, a piora do risco país da maior economia do mundo. Ele não deixou de falar da China que, segundo avalia, mudou o modelo de crescimento para inovação e consumo, ao invés de investimento e construção, o que deve levar à expansão menor. Condições também observadas pelo Copom nas tomadas de decisão.
Jerome Powell, presidente do FED, em pronunciamento muito aguardado, não deu qualquer indicação quanto à política de juros. Frustrou quem esperava a reafirmação de sinalizações de dirigentes da instituição de possível pausa nas elevações dos juros, considerando a possibilidade de a alta das taxas dos treasuries já estar colaborando para os resultados esperados com o aperto monetário. Só que, além de a inflação continuar rodando acima da meta, o PIB do terceiro trimestre dos Estados Unidos veio acima do esperado. As projeções estavam em 4,3%, mas o crescimento foi ainda maior, de 4,9%, com aceleração em relação à alta de 2,1% do segundo trimestre. Consumo das famílias, do governo e o mercado imobiliário contribuíram para o resultado, com o mercado de trabalho ainda aquecido.Agora é ver se virá nova alta das taxas, na reunião da próxima semana ou na última do ano. Taxas hoje entre 5,25% e 5,5%.
Todos esses fatores impedem uma definição de tendência mais consistente para os ativos, exigindo maior planejamento dos investimentos, de forma a minimizar riscos e ampliar potencial de ganhos. Isso vale até para a renda fixa no Brasil, que terá influência dos cortes da Selic, como já vêm ocorrendo, só que também oferece boas oportunidades pontuais, justamente pelas incertezas, que mexem com as expectativas e a curva de juros.