A semana teve definições no campo político que tiraram de cena preocupações que vinham tendo influência nos negócios. Saiu o acordo sobre o teto da dívida nos Estados Unidos, afastando o risco do temido calote. No Brasil, na última hora, com forte liberação de emendas e algumas perdas, especialmente na área ambiental, o governo conseguiu salvar a reestruturação ministerial. Mas deixando mais clara a fraqueza da articulação política, que pode dificultar avanços da agenda econômica, inclusive no que diz respeito à Reforma Tributária. Mas passou essa etapa, assim como deve garantir a aprovação do arcabouço fiscal no Senado. Então, fica um certo alívio quanto a essas questões.
Do ponto de vista da atividade tivemos dados que mostram resiliência do mercado de trabalho, mesmo com desaceleração da geração de vagas. O que é favorável em termos de perspectivas para a economia. E ainda a expansão surpreendente de 1,9% do PIB no primeiro trimestre, muito acima do esperado. Dado a ser comemorado, que melhora as projeções para o ano, com possibilidade de avanço acima de 2,5%, mesmo que o ritmo perca força a partir do segundo trimestre.
Mas a composição do PIB deve ser observada com atenção porque revela evoluções bem distintas dos vários ramos de atividade. O bom resultado veio principalmente da ótima performance da agropecuária, que avançou 21,6%, favorecida pela safra recorde de grãos, com destaque para a soja. Isso mostra a economia ainda muito atrelada às commodities. A indústria, por exemplo, recuou 0,1%, na terceira queda consecutiva e a sétima queda nos últimos dez trimestres. Porém, a extrativista teve expansão de 2,3%, de eletricidade, gás e água, 1,7%, enquanto, a construção civil caiu 0,8% e a de transformação 0,6%.
Embora o agro tenha peso de apenas 8% no PIB, acaba tendo reflexos em outros ramos de atividade. Serviços que se mantiveram em recuperação, com alta de 0,6%, apesar da desaceleração dos últimos trimestre confirma essa influência: os ligados a transporte e logística estiveram entre os destaques. Se nota uma certa resiliência do consumo, que cresceu 0,2%, em meio aos reflexos da manutenção de juros elevados. A recuperação do emprego, com aumento da massa salarial, e programas de transferência de renda, tem dado alguma sustentação.
Vale observar que, além da queda da indústria, os investimentos produtivos caíram, o que tem a ver com juros, endividamento das empresas, início do novo governo e incertezas quanto à atividade. Exportações também tiveram leve queda, mais do que compensa da pelo recuo mais acentuado das importações, o que favorece o saldo comercial, apesar de queda da queda das compras externas ser um termômetro de menor demanda para consumo e investimentos.
Enfim, o PIB trouxe uma sinalização positiva quanto ao crescimento da economia neste ano, mas a composição não deve comprometer à expectativa de início do corte dos juros no segundo semestre, já que não se vê expansão maior da demanda.
Especificamente em relação ao corte juros ainda se conta com outros fatores. O próprio presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, admitiu que o cenário está clareando e a inflação parece engrenar uma melhora. O IGPM de maio, com queda de 1,84% e recuo de 4,47% em 12 meses reforça essa tendência, embora os reflexos da baixa dos preços do atacado possam levar um tempo para chegar no varejo. Só que nas últimas semanas o mercado, como tem mostrado o Focus, vem cortando as projeções para o IPCA, referência para as metas de inflação. No último relatório a previsão média caiu para 5,71% depois de ter passado dos 6%. E o IPCA, mesmo com alguns dados preocupantes, como a disseminação dos aumentos e pressão de serviços, vem rodando abaixo das projeções e ainda pode incorporar a baixa dos preços de commodities e do impacto ainda não repassado integralmente do corte dos preços dos combustíveis nas refinarias. A tendência de baixa não deve se alterar com a mudança no ICMS sobre a gasolina, que entrou em vigor nesta quinta feira.
Fato é que temos um cenário de melhora das perspectivas para a inflação junto com as de crescimento da economia, dando abertura para o início do corte dos juros. Aliás, uma sinalização do Copom nesse sentido, na reunião deste mês, já poderia ajudar a clarear as relações entre governo e Banco Central, que trazem tantas incertezas.
Em junho também haverá reunião do Conselho Monetário do Nacional, que deve definir as metas para os próximos anos, podendo ou não mexer nas de mais curto prazo. É possível que se discuta também o horizonte das metas. que em princípio, na prática, não mudaria muita coisa. Este deve ser o terceiro ano de estouro da meta, o que mostra que o BC tem trabalhado com horizonte ampliado, levando em conta as condições de cenário. Caso contrário, os juros deveriam ter subido mais. Ainda sobre os juros, persistem dúvidas quanto à possível parada ou não da elevação das taxas nos Estados Unidos, diante das sinalizações do FED e dos dados contraditórios de emprego e atividade. Mas tanto lá como aqui se percebe a vontade das autoridades monetárias em afrouxar as políticas, para não comprometer tanto a atividade.