Denise Campos de Toledo EECI

2023 com incertezas e menos otimismo, apesar do retrato mais favorável de 2022

Em termos de desempenho da economia brasileira, 2022 parece estar dado e com retrato favorável. Teremos crescimento acima do previsto, inflação abaixo das projeções iniciais, com evolução das contas públicas também mais positiva. O IBC-Br do Banco Central reforçou essa perspectiva. A alta de 1,2% de junho para julho veio bem melhor que as expectativas, alavancado, principalmente, pelo setor de Serviços, responsável também pela maior fatia da retomada do emprego. A dinâmica do PIB é diferente, mas há algumas semanas o mercado vem reforçando os prognósticos, já com a projeção média de crescimento em 2,39%, conforme o último relatório Focus do BC. E ainda está em fase de ajustes para cima. Muitos analistas contam com algo na faixa de 2,8%. Sendo que o governo, no Boletim Macrofiscal, ajustou a própria projeção para 2,7%.
Quanto à inflação, o mercado já cortou a previsão média do IPCA deste ano para 6,4%. A do governo está em 6,3%. E podem vir novos cortes, principalmente, se persistir a tendência de acomodação de preços de commodities no exterior, como do petróleo, que permitiu cortes adicionais nos preços dos combustíveis.
Agora não dá pra surfar no otimismo por causa desse embalo mais positivo dos indicadores. Muitos dados melhoraram por condições específicas, por interferências do governo, até pela proximidade das eleições. A inflação cedeu, principalmente, pelo corte de tributos, com destaque o ICMS, que assegurou redução importante dos preços da gasolina. Isso tem feito toda diferença na evolução do IPCA. Mas os consumidores continuam tendo o orçamento castigado, por exemplo, pela alimentação mais cara e outros aumentos de preços que pesam no orçamento. Condição que tem prejudicado até o desempenho das vendas do comércio. Além disso, mesmo com a revisão baixista, as projeções para o IPCA deste e do próximo ano seguem acima do teto da meta, o que antecipa à manutenção dos juros elevados por mais tempo.
O Banco Central pode até interromper o ciclo de alta dos juros com a Selic em 13,75% ao ano, inclusive, pelo movimento desigual dos vários ramos de atividade. Mas os cortes podem ficar lá para o final de 2023, quando, de acordo com as projeções do Focus, a taxa básica deve recuar até 11,25%.
Os juros elevados podem comprometer um desempenho melhor da economia, ainda que haja um carregamento maior da expansão de 2022. E vale observar que esta expansão também decorre, em parte, de intervenções, de estímulos dados pelo governo, como liberação do FGTS, antecipação 13º dos aposentados, aumento do Auxílio Brasil para R$ 600,00, voucher caminhoneiros e taxistas, além dos tradicionais gastos maiores com obras em ano de eleições e os gastos e contratações para campanhas.
Nas perspectivas para o próximo ano ainda é preciso considerar o cenário externo, com riscos de retração dos Estados Unidos, da Zona do Euro e do Reino Unido, fora a possível expansão menor da China. Reflexos da crise energética da Europa, da elevação maior dos juros na tentativa de derrubar a inflação, que vem se mantendo persistentemente mais elevada. Sendo que a China ainda enfrenta os efeitos de restrições de atividade agora combinadas com a escassez de energia pelas condições climáticas e outros desarranjos setoriais. Tudo isso pode levar à perda de ritmo da demanda e dos preços de commodities, relevantes para o retorno das exportações e a atividade de vários setores, além da geração de tributos. Sem esquecer que a mudança de patamar dos juros externos também pode mexer com fluxo de capitais para o mercado local. 
Se 2022 parece dado em termos de desempenho da economia e dá margem até para uma certa comemoração, 2023 guarda muitas incertezas, por todos esses fatores, além, é claro, da política a ser implementada por quem sair vitorioso das urnas e a capacidade de articular as propostas com o Congresso. A política também vai pesar muito no que se pode esperar do próximo ano, que ainda deve ser um período de ajustes na área fiscal, com discussão de temas relevantes, como o teto de gastos e programas permanentes de renda. Mas isso só vai se delinear, de fato, a partir de novembro, após o segundo turno. Vale ressaltar que o nosso mercado, por enquanto, tem até convivido bem com as incertezas, tanto locais como externas.

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