O cenário inflacionário, que determina as decisões de política de juros, teve alterações nos últimos dias, aqui e no exterior. Ainda são indicações a serem confirmadas, mas esfriaram as apostas em relação a altas mais fortes das taxas, tanto nos Estados Unidos como no Brasil.
Nos Estados Unidos o Federal Reserve confirmou a esperada elevação das taxas em 0,75, para o intervalo de 2,25 a 2,5%. Embora a inflação ainda mostre resistência, com bons números do mercado de trabalho, a economia americana entrou em recessão técnica, no segundo recuo consecutivo do PIB, de 0,9%, no último trimestre. Paralelamente, há uma acomodação dos preços de commodities. Condições que podem ajudar o Fed a alcançar o objetivo de derrubar a inflação, que chegou a 9,1% no acumulado em 12 meses até junho, para a meta de 2%, sem necessidades de manter ajustes mais pesados dos juros. Já cresceu a aposta na elevação de 50 pontos na próxima reunião.
A queda dos preços de commodities também favorece as perspectivas inflacionárias para o Brasil. O IGPM mostrou recuo além do previsto em julho, para 0,21%, ante 0,59% em junho. Fora a perda de ritmo do IPA, o IPC também teve desaceleração pelo efeito, principalmente, do corte de tributos sobre combustíveis e serviços, como de energia. Reforçando a tendência, a Petrobras anunciou o segundo corte seguido do preço da gasolina nas refinarias, o que, em alguma medida chega no varejo. Em relação aos preços das commodities ainda há incertezas quanto a evolução futura. Custos de energia ainda são uma grave ameaça na Europa. Mas vale observar que o petróleo depois de chegar a US$ 120 o barril recuou para a faixa dos US$ 100. Foi o que deu condições para os cortes da gasolina aqui. E ainda tem a possibilidade de recessão global, em parte, pelo efeito dos movimentos de aperto monetário, o que tende a restringir o consumo, favorecendo a contenção de preços.
Nesse contexto esfriaram as pressões também quanto a altas maiores da Selic aqui no Brasil. Já não se conta muito com um avanço dos juros básicos além dos 13,75%, que devem atingir na reunião da semana que vem do Copom. O que ainda traz algumas dúvidas é o fato de as projeções para o IPCA de 2023 continuarem acima do teto da meta. E fica também a preocupação com o cenário político e eventuais problemas no andamento das eleições, dada a polarização e discussões quanto à segurança do sistema eleitoral. De qualquer modo, a tendência parece ser de uma pausa nos ajustes da Selic, após a próxima correção, para observação do cenário.
Mas é preciso aguardar o comunicado do Comitê pra se ter maior certeza quanto a isso. Afinal, por mais que se tenha indicações mais favoráveis, o cenário externo e interno ainda tem muitas incertezas. No que se refere à trajetória da inflação, por exemplo, há risco de a injeção de recursos, assegurada pela PEC das Bondades, reforçar pressões de preços, como de serviços. Sem esquecer do risco fiscal que aumentou, com a mesma PEC, pelo drible no teto de gastos neste ano e a ampliação de despesas que pode persistir, em parte, no próximo ano, pela dificuldade política de reversão de alguns benefícios. Isso, independentemente dos números positivos registrados pelas contas públicas nos últimos meses, como o superávit de R$ 14,43 bi do governo central em junho, o maior para o mês desde 2011.
Os investidores devem ficar atentos ao impacto que a mudança nas expectativas sobre os juros podem ter sobre o ganho esperado nas várias aplicações, pré e pós fixadas, e possíveis ondas de aversão ao risco, com maior volatilidade dos ativos, justamente por todas as incertezas citadas.