A decisão de elevar a taxa Selic em 1,5 ponto percentual, para 10,75% ao ano, anunciada na noite da quarta-feira (2) pelo Copom (Comitê de Política Monetária) confirmou totalmente as expectativas dos investidores. E, no Comunicado em que anunciou e justificou a decisão, os membros do Copom mostraram uma postura cautelosa em relação à condução da política monetária ao longo de 2022.
Vamos analisar brevemente os principais pontos do Comunicado. Como de hábito, o Copom começa com uma avaliação da conjuntura em que nota uma piora do cenário internacional. “A maior persistência inflacionária aumenta o risco de um aperto monetário mais célere nos Estados Unidos, tornando as condições financeiras mais desafiadoras para os países emergentes”, informa o texto, acrescentando que “a nova onda da Covid-19 adiciona incerteza quanto ao ritmo de atividade, [e] pode postergar a normalização das cadeias globais de produção.”
A economia brasileira também não traz boas notícias. Apesar de notar que o mercado de trabalho no quarto trimestre foi um pouco melhor do que o esperado, o Comunicado é claro ao afirmar que a inflação ao consumidor “seguiu surpreendendo negativamente” e que a inflação subjacente está elevada. O relatório Focus indica projeções de inflação de 5,4% para 2022 e de 3,5% para 2023, ambas acima da meta.
Para agravar o quadro, o Copom adota a hipótese de bandeira tarifária “vermelha patamar 1” em dezembro de 2022 e dezembro de 2023. “Nesse cenário, as projeções para a inflação de preços administrados são de 6,6% para 2022 e de 5,4% para 2023.”
Como não poderia deixar de ser, a política fiscal também foi lembrada. “Políticas fiscais que impliquem impulso adicional da demanda agregada ou piorem a trajetória fiscal futura podem impactar negativamente preços de ativos importantes e elevar os prêmios de risco do país”, informa o Comunicado. Os membros do Comitê frisaram que a incerteza “mantém elevado o risco de desancoragem das expectativas de inflação”. Tradução: ao não conseguirem manter fechadas as portas do cofre, Executivo e Legislativo tornam mais provável que a inflação supere as metas.
Para o Comitê, isso justifica uma alta dos juros para até 12% ao ano no primeiro semestre, e encerrando 2022 em 11,75%. Além disso, o Copom indicou que a Selic esperada para 2023 segue em 8%, um patamar que poderá manter elevados os juros reais em comparação com as principais economias internacionais. “Essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego”, informou o Comunicado. “É apropriado que o ciclo de aperto monetário avance significativamente em território contracionista.” Resumindo, economia mais fria.
No entanto, diferentemente do que ocorreu em várias reuniões durante o segundo semestre de 2021, o Copom evitou se comprometer para o futuro. Mesmo informando que “antevê como mais adequada, neste momento, a redução do ritmo de ajuste da taxa básica de juros”, o Comunicado afirma que “os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados para assegurar a convergência da inflação para suas metas”.
Ou seja, mesmo deixando claro que por enquanto não vai elevar novamente a Selic em 1,5 ponto percentual, o Copom alertou que essa decisão não é definitiva. Vai depender “da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação para o horizonte relevante da política monetária.”
E Eu Com Isso?
A quinta-feira começa com um movimento de queda nos mercados internacionais. Resultados abaixo do esperado de empresas relevantes como Facebook e Paypal provocaram uma forte pressão vendedora nesses papéis, que acabou se espalhando para outras empresas dos setores financeiro, de pagamentos e de tecnologia.
As notícias são negativas para a Bolsa.
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