Há um consenso, entre cientistas e analistas políticos, de que é virtualmente inútil projetar vencedores e perdedores de disputas eleitorais no Brasil com mais de seis a oito meses de antecedência. Existem alguns motivos para isso: o primeiro deles é que nem mesmo o eleitorado está com o processo eleitoral no radar – e, dessa forma, não demonstra suas preferências de voto de acordo com convicções e sim a partir de um certo viés de memória – com esta distância até o dia das eleições; segundo, é que a história tem mostrado que as disputas por cadeiras de peso no Brasil têm sido sempre acompanhadas de eventos cuja proporção tem força para mexer significativamente com o eleitor.
Alguns exemplos desse fenômeno acima podem ser facilmente elencados. Temos a facada no então candidato à Presidência, Jair Bolsonaro, em 2018, além do trágico acidente que levou ao falecimento do pré-candidato Eduardo Campos, em 2014. No entanto, nem sempre os eventos são de natureza pessoal – a implementação do Plano Real, a partir de 1994, garantiu que Fernando Henrique Cardoso fosse eleito como sucessor de Itamar Franco – que, inclusive, relutava em apoiar seu colega tucano em um primeiro momento.
Nesta terça-feira (1), um contratempo no coração do estado de São Paulo, na gigante metrópole paulistana, surgiu como um potencial evento que pode mudar o xadrez político para 2022. Em meio às obras da Linha 6-Laranja do Metrô da cidade, abriu-se uma cratera de grandes proporções no asfalto da marginal Tietê – um dos cordões umbilicais do tráfego da capital.
Como o transporte metroviário é de competência do governo do Estado, a culpa imediatamente recaiu sobre o governador de São Paulo e pré-candidato à Presidência da República, João Doria (PSDB). Ainda que as obras sejam de responsabilidade de uma empresa privada – a linha 6 é um exemplo de PPP (Parceria Público-Privada) – e que as causas do acidente não estejam apuradas, já se calcula qual pode ser o tamanho do estrago político para os tucanos paulistas.
As obras do Metrô faziam parte da vitrine eleitoral de Doria, tendo sido retomadas em sua gestão e configurando um enorme tabu para o paulistano. Quem mora e vive em São Paulo sabe dos incontáveis escândalos de corrupção envolvendo metrôs e trens, além da enorme demora para entregar novas linhas e estações. Da mesma forma, o cotidiano do eleitor da capital paulista envolve trânsito e, nesse caso, quanto maior ele for, menos satisfeito estará o cidadão.
E Eu Com Isso?
O fato é que bolsonaristas comemoraram a feliz coincidência da abertura da cratera. Na mesma época em que o presidente tem visitado redutos paulistas atingidos pelas fortes chuvas, seu maior adversário político na região contrata, involuntariamente, um enorme problema para a campanha.
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