Estamos chegando ao final de 2021 sem ter muito o que comemorar na economia. É certo que houve avanços importantes em marcos regulatórios, como no saneamento, que abrem a perspectiva de mais investimentos e todos os efeitos envolvidos na atividade e emprego, além do próprio desenvolvimento, assim como as concessões especialmente na área de transportes. No setor bancário também houve inovações importantes e o 5G sinaliza acesso mais fácil à tecnologia, o que pode ajudar os vários ramos de atividade. Só que nada disso estabelece uma base estrutural de maior crescimento. Daí a frustração dominante com o que fica deste ano.
Nesta última semana até tivemos dados mais positivos do emprego, que segue em recuperação. Mas o rendimento médio continua em queda com a abertura de vagas de pior qualidade e a corrosão provocada pela inflação na faixa dos dois dígitos. Condições que freiam o consumo, também prejudicado pelos juros em alta. Além disso persistem as incertezas relacionadas às contas públicas, com todas as manobras que envolveram a PEC dos Precatórios, a elaboração do orçamento e as sinalizações de mais gastos, como o reajuste da polícia federal. Fora a despesa em si, já vista como uma falta de compromisso fiscal, com interesse eleitoreiro, ainda pode desencadear pressões por parte de outras categorias, como da Receita. Cabe observar que são situações colocadas direta ou indiretamente pelo governo, inclusive através de negociações com a base de apoio no Congresso, numa clara demonstração de perda de força da equipe econômica, que sofreu várias baixas ao longo do ano, com a saída de vários integrantes que tentavam manter postura mais austera, sem ceder à política.
É com esse cenário que vamos entrar em 2022. Um cenário de muitos desafios, que podem ser ampliados pelas incertezas relacionadas às eleições e instabilidades do mercado, onde fatores externos também podem ter peso relevante. Fatores que vão desde as mudanças das políticas implementadas pelos bancos centrais, pra fazer frente a inflação, até os novos fechamentos provocados pela Ômicron. A pandemia permanece como um dos grandes desafios globais para o próximo ano.
O investidor deve estar atento às movimentações das peças desse tabuleiro, onde as jogadas parecem pouco previsíveis, nem sempre muito técnicas. Basta ver as críticas contraditórias em relação até a atuação do Banco Central que, com exageros ou não, ainda é o principal guardião de alguma estabilidade. Mas cujas decisões e sinalizações muitas vezes também provocam efeitos inversos aos esperados.
Na verdade, vamos entrar em 2022 torcendo para que possam ser estabelecidas condições mais favoráveis a partir de 2023, inclusive pelo resultado que virá das urnas. Boa parte dos desafios do próximo ano deve ficar de herança para o vencedor das eleições que, tomara, consiga resgatar a estabilidade e assegurar um potencial de crescimento bem superior ao indicado pelas projeções. Aliás, potencial é o que não nos falta. Que tenhamos prósperos e felizes próximos anos.
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