Resultado das instituições financeiras melhora com serviços e mudanças na estratégia
Um dos destaques da semana foi a divulgação dos resultados dos dois maiores bancos privados brasileiros, Itaú Unibanco (ITUB4) na quarta-feira (03) e Bradesco (BBDC4) na quinta-feira (04). Na semana anterior, o Santander Brasil (SANB11) já havia divulgado os números. As semelhanças entre os três desempenhos indicam que algo mudou na maneira de os bancos fazer negócios. Vamos analisar esses três resultados individualmente pela ordem em que foram divulgados e depois vamos apresentar nossas conclusões.
Os números dos três gigantes de varejo mostraram uma melhora excepcional em relação aos períodos anteriores. Somados, os lucros de Itaú Unibanco, Bradesco e Santander foram de 17,9 bilhões de reais no 3T21. Isso representa um avanço de 5 por cento em média frente aos 17,1 bilhões do 2T21, e um ganho ainda mais expressivo de 28,5 por cento ante os 13,9 bilhões do 3T20.
Santander Brasil (SANB11)
Primeiro banco de varejo a divulgar seu resultado, o lucro do Santander Brasil, em termos absolutos, não é tão grande quanto o do Itaú Unibanco e o do Bradesco. No entanto, o maior banco internacional que atua no Brasil se destacou pela rentabilidade patrimonial, superior à dos demais. O retorno sobre capital próprio (ROE) foi de 22,4 por cento, recorde histórico para o banco.
A margem financeira bruta cresceu 17,6 por cento ante o 3T20, devido ao crescimento das operações com pessoas físicas e Pequenas e Médias Empresas (PME). A carteira de crédito manteve a trajetória de crescimento e chegou a 450 bilhões de reais, crescimento de 13,3 por cento, sendo que os empréstimos para pessoas físicas cresceram 21,3 por cento. As receitas com prestação de serviços e tarifas bancárias cresceram 13,4 por cento na comparação anual, para 4,8 bilhões de reais. Só as receitas de cartões chegaram a 1,2 bilhão de reais, alta de 31 por cento.
Itaú Unibanco (ITUB4)
O Itaú Unibanco lucrou 6,8 bilhões de reais, aumento de 3,6 por cento ante o 2T21 e de 34,8 por cento frente ao terceiro trimestre de 2020. O resultado foi levemente acima do esperado, e a rentabilidade patrimonial do banco foi de 19,7 por cento, perto dos níveis históricos do banco e acima dos 18,9 por cento do trimestre anterior e dos 15,7 por cento do mesmo período do ano passado.
A carteira de crédito cresceu 5,9 por cento em relação ao trimestre anterior e atingiu 962,3 bilhões de reais, um crescimento de 13,6 por cento em comparação com o 3T20. A receita de serviços também cresceu para 11,5 bilhões de reais. Foi um aumento de 8,26 por cento em relação ao 3T20 e de 4,85 por cento em relação ao 2T21. A comparação não considera a participação do Investimento na XP.
Diferente do trimestre anterior, quando o destaque da margem financeira foram as operações com o mercado, a margem financeira com os clientes se destacou com alta de 4,7 por cento, com destaque para o aumento da carteira de crédito e melhor mix de produto (crédito para PF e PME).
Os ganhos com serviços foram beneficiados pelo segmento de seguros, que cresceu 11,5 por cento. Ao comentar seus resultados, o banco informou que pretende dar ênfase a esse segmento nos próximos meses para acelerar o crescimento de suas atividades, devido às mudanças no Open Banking e Open Insurance.
Bradesco (BBDC4)
O resultado do Bradesco (BBDC4) no trimestre foi sólido e superou levemente as expectativas do mercado. O lucro líquido recorrente foi de 6,8 bilhões de reais no trimestre, um crescimento de 7,1 por cento ante o 2T21 e de 34,5 por cento ante o 3T20. O retorno sobre o patrimônio líquido (ROE) atingiu 18,3 por cento, em linha com o 2T21 e 5,4 pontos percentuais acima do 3T20.
A carteira de crédito expandida do banco cresceu para 773,3 bilhões de reais, alta de 16,4 por cento na comparação anual. Em linha com os demais bancos, o número foi impulsionado pelo crescimento de 58 por cento na carteira de pessoas físicas. A margem financeira foi de 15,7 bilhões de reais, em linha com a do 2T21 e 2,7 por cento acima da do 3T20.
Outro destaque ficou por conta da recuperação da divisão de seguros, que evoluiu mais de 100 por cento no trimestre, motivado pela redução da frequência dos eventos relacionados à Covid-19. Por fim, vale ressaltar o bom trimestre nas receitas com cartões, conta corrente, consórcios e operações de crédito. Todos cresceram em comparação com os trimestres anteriores.
Ao divulgar os resultados, o Bradesco atualizou o guidance deste ano. A projeção do crescimento da Carteira de Crédito expandido subiu de 9 / 13 por cento para 14,5 / 16,5 por cento. A receita de prestações de serviços também foi revisada para cima, passando de 1 / 5 por cento para 2 / 6 por cento. A Provisão para Devedores Duvidosos (PDD) Expandida caiu de 14 / 17 bilhões de reais para 13 / 16 bilhões de reais.
Analisando os resultados
Há três pontos em comum na melhora dos resultados de Santander Brasil, Itaú Unibanco e Bradesco. O primeiro é que a linha de negócios com melhor desempenho foi a das pessoas físicas e PME. Nesses casos, o setor foi beneficiado pelo auxílio emergencial concedido pelo governo ao longo dos três primeiros trimestres. Na base da pirâmide empresarial, o microempreendedor é praticamente uma pessoa física em termos financeiros, daí a semelhança.
O segundo ponto é que os três bancos conseguiram manter baixa a inadimplência. Uma das explicações foi o auxílio governamental para as famílias. O brasileiro de baixa renda tem uma predisposição elevada a pagar as contas em dia para manter o “nome limpo”, e o dinheiro do governo veio a calhar. Outra explicação foi que os bancos refinaram seus modelos de concessão de crédito e foram extremamente cautelosos, monitorando de perto tanto os limites de crédito quanto a saúde das carteiras.
O terceiro ponto é que todos os três bancos, sem exceção, compensaram a compressão das margens pelo aumento da receita de serviços. Historicamente, um terço do resultado do Bradesco vem de sua azeitada operação de seguros e previdência. Os números pioraram devido à pandemia, mas agora vêm retornando aos níveis iniciais.
E, finalmente, os gigantes do varejo bancário prosseguem em suas jornadas de digitalização. No caso do Bradesco, os bancos digitais next e Digio possuem cerca de 12 milhões de clientes que não possuem relacionamento bancário com o banco. É um cenário semelhante ao do Itaú Unibanco. Seu banco digital, o Iti, atingiu 10 milhões de clientes, com adição de 2,2 milhões apenas no terceiro trimestre. Desses 10 milhões, 85 por cento não possuem contas no banco “tradicional”. No caso do Santander, subsidiárias como Sim e Pi buscam aumentar a base de clientes da mesma maneira. O avanço em sua digitalização e suas estratégias digitais continuam gerando externalidades positivas e devem continuar ajudando nos próximos resultados, principalmente na melhoria da eficiência operacional.
A competição no setor vem sendo debatida há bastante tempo e sendo incentivada pelos órgãos reguladores, principalmente com a entrada das fintechs e bancos digitais. Enquanto outros players tentam criar um banco digital separadamente, o Itaú Unibanco investe em se tornar mais ágil e operar de maneira mais parecida com as fintechs. Ao apresentar seus resultados ao mercado, os bancões frisaram que não pretendem deixar espaços abertos para a concorrência dos recém-chegados.
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Abraços,
Equipe Levante