Em relação à atual conjuntura brasileira e ao comportamento do mercado, parece que sempre dá pra cavar o poço um pouco mais ao fundo. Quando parece que tudo vai melhorar, que o mercado poderá entrar numa fase menos ruim, até para aparar exageros, as incertezas ganham novo impulso, renovando as quedas da Bolsa, testando novos patamares para o dólar e na curva de juros. É o que tivemos nesta última semana.
O mercado, como se costuma falar, prefere ter certeza do tamanho do problema do que trabalhar com suposições. E, nas condições atuais, prefere lidar com o certo, mesmo que seja ruim, que é o caso da PEC dos Precatórios, com todas as mudanças fiscais que propõe, do que com o incerto, que seria o Plano B do governo. Se não houver aprovação da PEC, a tempo de viabilizar o Auxílio Brasil em 2022, se estuda a prorrogação do auxílio emergencial, possivelmente com crédito extraordinário, que dependeria da decretação de estado de calamidade, com todas as discussões que isso poderá trazer. Mas é essa a situação de incerteza que ainda prevalece, mesmo com a aprovação da matéria, em primeiro turno, na Câmara.
A reação da oposição, questionamentos quanto à forma como a votação foi conduzida e debates internos de partidos como o PSDB e o PDT, de Ciro Gomes, que até colocou a própria candidatura em stand-by, deixaram incerto o avanço da proposta, que ainda pode enfrentar resistências no Senado, apesar de o presidente Rodrigo Pacheco tratar como pauta prioritária. Não se trata mais de considerar as discussões repetitivas quanto aos impactos do ponto de vista fiscal, a margem para mais gastos e emendas políticas ou os interesses eleitoreiros, o que está pensando é a possibilidade de mais uma rodada de indefinições, quando já se assimilava a ideia de ficar com o bode na sala.
Uma situação semelhante ocorreu com a mudança na política de estímulos do Federal Reserve. O mercado viveu muitos momentos de volatilidade pelo possível corte na injeção de recursos pelo FED. Quando veio a confirmação da redução de US$ 15 bilhões/mês na compra de ativos (tapering), mas sem relação com discussões quanto à elevação dos juros, o que se viu foi uma onda de alívio, acompanhada até pelo mercado local. É menos liquidez, mas, por enquanto, com menos reflexos sobre fluxo de investimento para outros mercados, a não ser que a economia dos EUA imponha mais alterações na política monetária.
Agora é aguardar o desfecho da novela da PEC e analisar se haverá, ou não, um plano B. Fato é que o Brasil não para de produzir incertezas. E, não sem motivos, além da volatilidade, o mercado tem mostrado muita dispersão das projeções. Nem o aumento da dosagem de elevação da Selic nem a ata da última reunião do Copom conseguiram provocar maior convergência das projeções de inflação, de juros e de expansão do PIB. O relatório Focus tem trazido médias de previsões com grandes aberturas. O mercado anda exagerando em algumas ondas de pessimismo. Mas é fato que estamos tendo de lidar com várias frentes simultâneas de incerteza, que dificultam uma postura de maior equilíbrio. É o risco fiscal envolvido nas discussões em torno da PEC e do Auxílio Brasil, as dificuldades relacionadas à crise de energia, que pesa na inflação e na atividade; são as sucessivas pressões inflacionárias, afetando o potencial de impacto dos juros; há as dificuldades de retomada do crescimento, como mostram os dados da produção industrial, e a proximidade das eleições…
Difícil dar uma pausa nessas preocupações e focar na safra de balanços ou em fatos positivos, como o 5G e outros avanços. Os desafios do gerenciamento da política econômica e da política, de fato, estão ecoando mais.
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