Semana que vem tem reunião do Copom, do Comitê de Política Monetária do Banco Central, para a definição da nova taxa básica de juros. O avanço dos vários índices de preços acima das projeções, como aconteceu com o IPCA, com alta de 0,87% em agosto, e com o IGP 10, com variação de -0,37% em setembro, quando o mercado apostava em um recuo de -0,52, tem gerado a expectativa de elevação mais acentuada da Selic.
No último relatório Focus, na média, a projeção ficou em 8% antes da virada do ano. E, pra passar um recado mais duro de compromisso do BC com o controle desse processo, passou-se a cogitar um aumento mais pesado na taxa nesta próxima reunião, falando-se em 1,2 ou até 1,5 pp. O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em declarações nesta semana, até admitiu que a inflação continua acima das expectativas e antecipou que os juros vão subir até quanto for necessário para atingir a meta. Só que também afirmou que não vai alterar o plano de voo da política monetária, a cada número novo de alta frequência de inflação que seja divulgado.
São recados que levam a um certo ajuste nas expectativas do mercado. Por um lado, se pode contar com a Selic atingindo um patamar mais alto, até que haja uma convergência das projeções para a meta, que no ano que vem é de 3,5%. Porém não se deve esperar muito por ajustes mais pesados dos que os que vêm sendo sinalizados, o tal plano de voo do BC. Na última reunião do Copom, a indicação era de mais um ajuste de um ponto na taxa básica agora na reunião de setembro, com a Selic indo a 6,25% a.a.
De qualquer modo, há muito questionamento quanto a essa possibilidade de não alteração do ritmo, porque a inflação tem incomodado. Sempre fica o receio de o dragão acordar e começar a ganhar mais força. Sucessivas pressões de alta e um espalhamento maior dos reajustes, com aumento da difusão dos aumentos podem sustentar os índices em alta. São pressões em várias frentes. Tem reajustes das tarifas de energia, elevação dos preços dos combustíveis, correções na área de serviços, com retomada da atividade. Ainda é preciso considerar o fato de o dólar continuar em um patamar mais alto, influenciando a formação de vários preços, além de algumas commodities mais caras no exterior e a falta de insumos na indústria, que prejudica a produção e acaba se revertendo em mais custos.
Em horizonte maior, ainda há riscos relacionados à crise de energia, mais quebras de safras e o impacto da proximidade das eleições, que pode complicar mais o controle da inflação em 2022. Tanto que as projeções para o IPCA do ano que vem já passam de 4%.
Por enquanto, ainda tendo como referência o relatório Focus, podemos fechar este ano com inflação e juros básicos empatados, em 8%. Mas será que isso será suficiente pra levar a inflação para a meta, como afirmou Campos Neto, ou ele já começa a considerar como referência a meta de 2023, no pós-eleições, que, talvez, tenha um ambiente mais tranquilo?
A única certeza é que na semana que vem devemos ter mais uma elevação da Selic de, no mínimo, um ponto. Agora é aguardar a decisão e os novos planos de voo. Sem deixar de considerar que, em algumas reuniões, o Copom acabou sancionando as expectativas do mercado, até porque também quer assegurar a convergência das projeções para a meta. E o que temos visto nas últimas semanas são as projeções se afastando cada vez mais da meta.
Em meio a essas incertezas, a melhor indicação é para os investidores que apostam em aplicações pós fixadas, atrelada aos juros. As taxas vão subir. Resta ver se o aumento do rendimento será apenas nominal ou também em termos reais, na corrida contra o avanço da inflação.
—
A Coluna da Denise Campos é publicada toda sexta-feira em nossa Newsletter ‘E Eu Com Isso’.
—