Roberto Campos Neto, presidente do BC (Banco Central), fez o que banqueiros centrais não costumam fazer: ele falou claramente o que vai fazer.
Em um evento em São Paulo, na terça-feira (14), Campos Neto declarou que o BC vai elevar os juros. “Vamos elevar a Selic aonde precisar”, disse ele.
Mais do que isso, ele explicou como o Banco Central vai fazer isso. “Não vamos reagir sempre a dados de alta frequência.”
Traduzindo, o BC não vai acompanhar informações que são divulgadas várias vezes, como os indicadores de atividade e as oscilações da taxa de câmbio.
Essas frases dão margem a várias interpretações possíveis. Uma delas é que o Copom (Comitê de Política Monetária) será mais cauteloso na sua próxima reunião, marcada para os dias 21 e 22 de setembro.
Após quatro aumentos consecutivos, a taxa referencial Selic está em 5,25% ao ano.
Os juros começaram a subir na reunião do Copom do dia 17 de março, quando a Selic foi elevada de 2% para 2,75%. Foram três aumentos sucessivos de 0,75 ponto percentual, até a reunião do início de agosto, que elevou a taxa em um ponto percentual.
As declarações de Campos Neto alteraram para baixo as projeções para a reunião da próxima semana. Os prognósticos eram de um aumento ainda mais agressivo do que os anteriores, com a possibilidade de a Selic ser elevada em até 1,25 ponto percentual e retornar aos 6,5% ao ano em que permaneceu durante boa parte de 2018 e de 2019.
No entanto, o presidente do BC reforçou a tese de um Copom mais “gradualista”, com uma alta de um ponto percentual.
Gradualista ou não, a probabilidade é que os juros continuem subindo nas duas reuniões seguintes agendadas para este ano, em outubro e em dezembro.
Segundo a edição mais recente do Relatório Focus, as expectativas para a Selic no fim do ano são de 8%. Isso indica a necessidade de o BC elevar os juros em 2,75 pontos percentuais nas três próximas reuniões.
Há bons motivos para Campos Neto ter abandonado a habitual discrição dos banqueiros centrais. Uma de suas tarefas mais importantes é ser um gestor de expectativas. Sem um balizamento claro por parte do BC, as expectativas para os juros poderiam seguir crescendo.
Por exemplo, se a expectativa para a reunião da próxima semana fosse uma alta de 1,25 ponto percentual, seria fácil que especulações elevassem o prognóstico para 1,50 ponto percentual. Ao estabelecer um parâmetro, Campos Neto cortou o combustível das expectativas de alta sem limite para a Selic.
E Eu Com Isso?
Os contratos futuros do Ibovespa iniciam o dia em leve queda, ao passo que no mercado americano há um discreto movimento de valorização.
A expectativa é de mais um dia de volatilidade elevada.
As notícias são negativas para a Bolsa em um cenário de volatilidade.
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