Será uma surpresa gigantesca se o Copom (Comitê de Política Monetária) anunciar outra decisão nesta quarta-feira (04) a não ser uma elevação de 100 pontos-base (ou um ponto percentual) na taxa de juros referencial Selic.
A expectativa dos investidores é praticamente unânime em uma elevação da taxa para 5,25% ao ano.
Não será, ainda segundo as expectativas, o último aperto na política monetária.
A edição mais recente do Relatório Focus, divulgada na segunda-feira (02), mantém os prognósticos para a Selic chegando a 7% ao ano em dezembro, e permanecendo no mesmo patamar até dezembro de 2022.
Queda de juros só no ano seguinte.
Mesmo assim, modesta: as projeções para a Selic de dezembro de 2023 são de 6,50% ao ano.
Há uma discussão entre os investidores se faz sentido realizar esse aperto na política monetária agora. Os indicadores mostram que, apesar da recuperação, a economia ainda está em um ritmo aquém do esperado. Há quase 15 milhões de brasileiras e brasileiros procurando emprego inutilmente.
E a alta dos índices é atribuída, em boa parte, a uma elevação dos preços dos alimentos e da energia, não a uma demanda aquecida – a causa mais tradicional dos processos inflacionários.
Mesmo assim, a alta dos juros é justificável.
Por quê?
Em primeiro lugar, uma das funções mais importantes do BC é ancorar as expectativas da economia brasileira.
Em português, garantir não só que os preços permaneçam sob controle, mas assegurar que a sociedade e os agentes econômicos, empresários, investidores e trabalhadores, acreditem nessa estabilidade.
Sem essa crença, haverá movimentos preventivos de elevação dos preços como defesa contra uma inflação esperada no futuro.
Em segundo lugar, inflação no Brasil é um assunto sério.
Apesar de o País ter domado a hiperinflação em 1994, a estrutura de indexação permanece intacta. Se você tem dúvidas disso, pergunte a alguém que teve de renovar seu contrato de locação nos últimos meses e encarou um proprietário querendo reajustar os preços pelos mais de 30% de variação do IGP-M.
Assim, uma desancoragem das expectativas pode levar a uma aceleração dos índices e transformar o que é uma inflação pontual em um processo mais estrutural e sustentável. E, portanto, mais difícil de combater.
Por isso a necessidade de o BC ser rígido e impiedoso com a taxa de juros, apesar de uma contração da política monetária não ser o remédio mais indicado para a situação atual da economia brasileira. O risco de uma aceleração estrutural da inflação é muito elevado.
E Eu Com Isso?
O dia começa com os contratos futuros do índice americano S&P 500 em baixa devido aos dados fracos do emprego nos Estados Unidos, e também devido às expectativas ruins com o nível de emprego não-agrícola (“non-farm payroll”) de julho, que deverá ser divulgado nesta sexta-feira (06).
As notícias são negativas para a Bolsa.
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