Política sem Aspas, por Felipe Berenguer

Coronavírus e popularidade: o mandato Bolsonaro sob perspectiva – pt. 2 | Política sem Aspas

Dando continuidade à coluna da semana passada, abordaremos hoje a popularidade do governo Bolsonaro em meio à pior pandemia do século XXI, assim como as implicações políticas e estratégicas das escolhas feitas durante a gestão da crise de saúde.

Na última ocasião, trouxe uma série de dados envolvendo a Covid-19 no Brasil e no mundo para complementar os dados que serão apresentados nesta coluna, referentes à avaliação do atual governo. Optei por não incluir, contudo, pesquisas eleitorais de 2022 – apesar de alguns institutos já estarem simulando cenários, o distanciamento do pleito torna os resultados pouco críveis. Como sempre falo, pesquisas são um retrato do filme que é uma corrida eleitoral. Nesse caso, acabamos de dar início ao longa-metragem de 2022 e o retrato atual pouco terá relevância.

Em que pese as diferenças socioeconômicas de cada época, um bom ponto de partida é analisar a atual avaliação de governo sob perspectiva histórica, desde a redemocratização. Com isso, diante do nosso período de maior pujança democrática e universalidade do voto, é possível traçar alguns comentários sobre o atual governo – e eventuais perigos e oportunidades à frente.

Para fazer a comparação, utilizei o instituto de pesquisa cuja série histórica de avaliação de governo é a mais antiga: o MDA Pesquisas, em conjunto com a Confederação Nacional do Transporte (CNT), realiza pesquisas com essa temática desde o fim do primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso, em meados de 1998. Colocando em perspectiva, temos esse quadro de avaliação durante diferentes governos:

Levante Investimentos - Avaliação dos Governos - Série Histórica

Uma das considerações mais interessantes deste atual governo é que não há, até agora, uma tendência predominante na avaliação – seja ela negativa, como foi, por exemplo, nos governos Dilma II e Temer, ou positiva, como ocorreu no governo Lula II. Vale colocar, também, em perspectiva comparada a possibilidade de um impeachment do atual presidente – tema que vai e volta dos noticiários, mas recentemente tem sido engrossado após fala do próprio presidente da Câmara dos Deputados e em função da atual conjuntura de crise de Covid-19 – e a avaliação do governo Dilma II, em que a presidente não terminou seu mandato. Se observarmos no detalhe, a aprovação (Ótimo/Bom) da ex-presidente era menor que 10% logo antes da abertura do processo de impeachment, enquanto a avaliação negativa (Ruim/Péssimo) batia recordes, acima dos 70%. Com todos os índices rondando a casa dos 30%, Bolsonaro parece ainda não correr riscos de impeachment, pressupondo – com base na literatura especializada sobre o tema – que um dos pilares para se destituir um líder eleito é seu baixo/baixíssimo apoio popular.

Uma explicação plausível para tal fenômeno é a postura mais radical de Bolsonaro em sua comunicação com a população, conferindo-lhe estabilidade no que diz respeito à base de apoio, mas permitindo que sua avaliação negativa também seja ineditamente elevada para um presidente com avaliação positiva em 30%.

O recrudescimento da pandemia também coincide com os períodos de aumento na avaliação ruim e péssima de Bolsonaro, com picos em abril de 2020 (variando de 43% a 50%, a depender da pesquisa consultada) e crescente neste último mês de março de 2021. Segundo a pesquisa XP/Ipespe, a avaliação negativa do governo passou de 31% (out/20) para 45% (mar/21). O mesmo se observa na pesquisa Datafolha, com a avaliação negativa saltando de 32%, em dezembro do ano passado, para 44% na mais recente divulgação, de março deste ano.

Em ambos os casos, contudo, este aumento se dá pela diminuição das avaliações “Ótimo/Bom” do presidente, que haviam subido durante grande parte do segundo semestre de 2020. Muitos atribuem essa alta ao auxílio emergencial e, apesar de estudos comprovando essa causalidade ainda não terem sido publicados, tudo indica que há forte conexão entre os dois fenômenos. O gráfico abaixo corrobora com essa visão (optamos pelos números da pesquisa XP/Ipespe por conta da sua frequência mais elevada em relação às outras pesquisas):

Levante Investimentos - Pagamento do Auxílio Emergencial

No entanto, o que prende o presidente à estratégia é justamente o fato de que, apesar da grave crise que assola o País, sua popularidade continua relativamente estável quando se comparam grande parte das pesquisas feitas desde o início do mandato. Isso prova a resiliência de seu eleitorado – cerca de 25 a 30% da população brasileira, que tem forte ligação ideológica e identitária com Bolsonaro. Nos gráficos abaixo, é notório esse piso de popularidade – independentemente da frequência e metodologia, Bolsonaro nunca teve menos de 25% de avaliação “Ótima/Boa”, percentual eventualmente suficiente para colocá-lo, por exemplo, em um segundo turno eleitoral dada a conjuntura política brasileira.

Levante Investimentos - Avaliação do Governo Bolsonaro

Com mais de metade do mandato já exercido, o presidente teve que realizar modificações significativas na sua equipe ministerial, passou de autônomo para praticamente dependente de sua base aliada no Congresso, precisou recuar em momentos cruciais como nas formas eficazes de combate à Covid-19, mas, pessoalmente, nunca mudou sua postura de liderança.

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Bolsonaro continua esticando e afrouxando a corda em vários aspectos da estratégia política, sempre buscando um tom mais beligerante, invocando o patriotismo para justificar seus atos e bradando um combate ao status quo e à política tradicional. A maior ironia do presidente – e que explica a força de sua narrativa – é, justamente, poder governar com o apoio e uso dos instrumentos tradicionais de Brasília enquanto transmite uma mensagem completamente oposta.

Por óbvio, o presidente não contava com a maior crise sanitária do século XXI e suas consequências para as eleições de 2022 são incertas enquanto a pandemia não acabar. O governo, decerto, foi surpreendido pela segunda onda em maior intensidade e gravidade do que a onda registrada em 2020, podendo pagar caro para controlar a situação nos próximos meses. Não à toa, a pressão do Legislativo aumentou consideravelmente desde o início do ano e os custos de coalizão – o quanto o governo precisa efetuar concessões para manter sua base aliada consistente – ficaram mais caros.

Mesmo com uma administração fortemente questionável, sendo o Brasil, hoje, pária internacional e até mesmo um risco sanitário para o resto do mundo, o atual governo não se desmorona – como algumas análises, mais superficiais, afirmam. Pelo contrário, nesse momento, o governo corre atrás do prejuízo para evitar que a Covid-19 chegue muito fresca na mente do eleitorado nas eleições do ano que vem. Por mais esdrúxulo que pareça, a mudança de tom sobre as vacinas já tem imensa força na percepção do eleitorado – especialmente, para aqueles mais alinhados ao bolsonarismo. Não foi a saída de Sérgio Moro, não foi a perda do apoio de parte do mercado financeiro e não será o desembarque de parte substancial dos militares que irá fazer Bolsonaro sucumbir. O maior perigo – e o Planalto sabe – continua sendo a pandemia.

No entanto, com a provável resolução da Covid-19 ainda em 2021, o presidente vai depender muito mais dele mesmo (e da sua administração, claro) do que qualquer possível adversário que surja em seu caminho para se reeleger. 

Leia a primeira parte: Coronavírus e popularidade: o mandato Bolsonaro sob perspectiva (pt. 1) | Política sem Aspas.

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