No mesmo dia em que chefes dos Três Poderes se reuniram no Palácio da Alvorada e decidiram pela criação de um comitê de gerenciamento da crise de Covid-19, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), foi a público no fim da tarde para passar um recado a seus pares – e uma mensagem velada ao governo federal.
Segundo o deputado, o Congresso pretende colocar em pauta somente projetos relacionados ao combate à Covid-19 nas próximas duas semanas. Em complemento ao anúncio, Lira se dirigiu de forma mais contundente ao dizer que o sinal amarelo está ligado no Congresso e que quer “união” nesse momento – significando a convergência de ideias e estratégias para superar o grave momento da pandemia no País.
O presidente também disse que está evitando ao máximo CPIs sobre a pandemia ou o apoio a um lockdown, “mas tudo tem limite”, uma vez que entende que os deputados não vão votar “com compromisso de não errar com o País, se, fora daqui, erros primários, erros desnecessários, erros inúteis, erros que são muito maiores do que os acertos cometidos seguem sendo praticados”
Ainda, Lira citou remédios amargos que poderiam ser usados em caso de inércia nas políticas de combate à pandemia, referindo-se à possibilidade extrema de um impeachment – opção que não é visada pelo presidente da Câmara, mas também não pode ser descartada.
Os recados ocorrem após reunião entre o governo e outros Poderes no Palácio da Alvorada. Nos bastidores, circularam informações de que a reunião teve momentos mais tensos e que um grande grupo de parlamentares não aceitam mais o nome de Ernesto Araújo à frente do ministério das Relações Exteriores, além de pedirem uma mudança radical de postura do governo em relação à Covid-19.
E Eu Com Isso?
O discurso de Lira pegou até seus próprios aliados de surpresa, tendo sido interpretado como um ultimato para que Bolsonaro mantenha seu recuo – percebido por todos no discurso presidencial feito nesta terça (2) – e reforce o combate à pandemia nesse momento crítico.
O sinal amarelo, citado pelo próprio presidente da Câmara, de fato, está ligado, em meio às fortes cobranças de deputados e senadores por uma nova estratégia contra o vírus e aos sucessivos recordes diários de mortes por Covid-19 no Brasil. Vale lembrar que o Centrão, como grupo político, compõe a base aliada do governo, mas jamais estaria disposto a eventualmente compartilhar o ônus de um desastre na gestão da pandemia. Um cenário de impeachment, porém, ainda nos parece muito distante.
Apesar de ter sido velado e muito bem calculado para não gerar maior tensionamento entre os Poderes, o discurso de Lira deve repercutir negativamente no pregão desta quinta (25).
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