Contrariando as expectativas de uma tramitação lenta, o Senado americano foi ágil e aprovou o pacote de ajuda econômica de 1,9 trilhão de dólares no sábado (06). Com isso, foi retirado o último obstáculo que impedia uma injeção recorde de recursos na economia americana. Apesar de ser uma notícia positiva, a semana se inicia com os mercados apontando para baixo.
Durante a madrugada, a remuneração dos títulos de longo prazo do Tesouro americano voltou a subir. A taxa dos títulos referenciais de dez anos avançou para 1,606 por cento ao ano ante 1,590 por cento do fechamento anterior. Já a taxa dos papéis de 30 anos subiu para 2,311 por cento ante 2,288 por cento da véspera, retornando a níveis anteriores à pandemia.
O que aumentou a percepção de risco dos investidores foi a expectativa de que uma injeção tão grande de dinheiro na economia poderá pressionar a inflação nos Estados Unidos, sem que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) esteja disposto a elevar os juros, de modo a não interromper o ainda incipiente processo de recuperação econômica. Jerome Powell, presidente do Fed, tem sido consistente e até repetitivo em suas declarações a esse respeito.
Do outro lado do Oceano Pacífico, a situação é drasticamente diferente. O governo da China indicou uma meta de crescimento para 2021 de cerca de 6 por cento na sexta-feira (05), abaixo das previsões predominantes de 8 por cento. A revisão para baixo das estatísticas indica uma redução dos estímulos econômicos para desalavancar a economia chinesa, especialmente o setor financeiro. Essa decisão, e as advertências das autoridades monetárias chinesas sobre os “excessos” do mercado financeiro global indicou que as autoridades em Pequim, ao contrário do que ocorre nos Estados Unidos, não estão dispostas a deixar a inflação correr solta. Foi o suficiente para que, na madrugada desta segunda-feira, o índice SSE Composite da Bolsa de Xangai amargasse uma queda de 2,3 por cento.
Qual o problema da inflação? Além de tornarem mais difícil o planejamento econômico, processos inflacionários costumam provocar drásticas transferências unilaterais de renda. Quem tem remunerações fixas, como por exemplo assalariados, vê seu poder de compra desabar com a alta dos preços. Já quem tem acesso a investimentos indexados à inflação ou a ativos financeiros enriquece com o processo. Inflações desarticulam a economia e, se prolongadas, podem lacerar profundamente o tecido social. Assim, é compreensível a prudência de Pequim em tentar evitar uma inflação, ao passo que também é compreensível a tolerância temporária de Washington com preços mais altos. Por isso a sinuca dos bancos centrais, que provoca uma elevação na percepção de risco (definição menor, risco maior) e promete provocar solavancos no mercado.
Relatório Focus
A edição mais recente do Relatório de Mercado Focus, publicada nesta segunda-feira (08) pelo Banco Central (BC), mostra que a projeção para a inflação medida pelo IPCA para 2021 subiu para 3,98 por cento ante 3,87 por cento na semana passada e 3,60 por cento há quatro semanas. A projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) também recuou, caindo para 3,26 por cento ante 3,29 por cento na semana passada e 3,47 por cento há quatro semanas. A taxa de câmbio esperada para dezembro subiu para 5,15 reais ante 5,10 reais na semana passada e 5,01 reais há quatro semanas. A projeção para a taxa de juros referencial Selic para dezembro permaneceu estável em 4 por cento.
Indicadores
O Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI) subiu 2,71 por cento em fevereiro, percentual inferior ao apurado no mês anterior, quando havia registrado taxa de 2,91 por cento. Com este resultado, o índice acumula alta de 5,69 por cento no ano e de 29,95 por cento em 12 meses. Em fevereiro de 2020, o índice havia variado 0,01 por cento e acumulava elevação de 6,40 por cento em 12 meses, informou a Fundação Getulio Vargas (FGV). O Índice de Preços ao Consumidor – Semana (IPC-S) no período encerrado em 7 de março de 2021 subiu 0,67 por cento e acumula alta de 5,76 por cento nos últimos 12 meses.
E Eu Com Isso?
O dia começa com uma forte baixa nos contratos futuros de Ibovespa, que iniciam a semana em queda de 2 por cento. Os contratos futuros de S&P 500 recuam 0,6 por cento no início dos negócios, indicando um dia de baixa.
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