A companhia energética EDP Energias do Brasil (ENBR3), controlada pela EDP em Portugal, divulgou na noite de sexta-feira (19), após fechamento do mercado, seus números referentes ao quarto trimestre de 2020. A EDP apresentou um forte resultado consolidado, acima do esperado em termos de receita líquida, Ebitda e lucro líquido.
No segmento de geração, a companhia foi beneficiada pela compensação do GSF de 389 milhões de reais, sendo estes o efeito da extensão do prazo das usinas líquido dos passivos reconhecidos e associados ao GSF passado (com a EDP tendo aprovada a adesão à repactuação do risco hidrológico no Ambiente de Contratação Livre (ACL), através da Resolução ANEEL nº 895/2020).
Também pesou positivamente para os resultados consolidados da companhia a aprovação pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) do reajuste tarifário anual de 21 por cento para a parcela B, referente aos itens administráveis sob responsabilidade da distribuidora, aplicado em outubro de 2020. O aumento considerável do reajuste se deu principalmente pela alta do IGP-M, porém seu efeito médio percebido pelo consumidor foi de 4,82 por cento – em decorrência das diferenças entre tarifa praticada e tarifa justa a ser cobrada ocorridas desde o reajuste anterior e que estão sendo compensadas neste reajuste tarifário.
Em relação ao seu Ebitda consolidado, a companhia apresentou uma alta de 59,9 por cento no a/a, totalizando 1,397 bilhão de reais no 4T20. No acumulado do ano, a alta foi de 16,0 por cento, com 3,381 bilhões de reais em 2020. Ajustando o Ebitda sem os itens não recorrentes, como a remuneração do GSF, e linhas sem efeito caixa, como o maior reconhecimento do valor novo de reposição (VNR) e o impacto do IFRS no segmento de transmissão, este resultado ainda se mostrou robusto, apresentando alta de 35,8 por cento no a/a, com 817,6 milhões de reais no 4T20, e alta de 12,2 por cento no acumulado a/a, totalizando 2,538 bilhões em 2020.
O lucro líquido consolidado apresentou um aumento de 40,2 por cento na comparação do trimestre em relação ao mesmo período no ano anterior, de 699,9 milhões de reais no 4T20, além de alta de 12,7 por cento no acumulado ano contra ano, encerrando 2020 com 1,508 bilhão de reais.
Em relação à sua política de dividendos, a companhia divulgou que seus dividendos distribuídos referentes ao exercício de 2020 serão de 599 milhões de reais, correspondente a 1 real por ação, resultando em um retorno em dividendos de 5,3 por cento.
Outro destaque da EDP Brasil se deve ao seu nível de endividamento, com a companhia tendo encerrado o ano de 2020 com alavancagem consolidada, excluindo os efeitos não caixa, em 2,4 vezes Dívida Líquida/Ebitda.
E Eu Com Isso?
Analisando individualmente o resultado, verificamos que estes vieram sólidos e surpreenderam positivamente o mercado. Os volumes do 4T20 mostraram uma forte recuperação, com números superiores aos observados pré-pandemia. No entanto, após as falas do presidente Jair Bolsonaro este final de semana, sinalizando uma possível intervenção no setor elétrico, acreditamos que todo o setor deve sofrer com o risco de ingerência política. Dessa forma, esperamos um impacto negativo no preço das ações da companhia para o curto prazo, independentemente de seus resultados.
Como consequência da pandemia do coronavírus, o consumo de energia apresentou forte queda, principalmente para o setor industrial. Desta forma, no segmento de distribuição, a companhia não comercializou toda a energia contratada por falta de demanda. Este excedente foi vendido então no mercado spot (sobrecontratação), auferindo ganhos para a companhia pela alta do PLD no período, devido a questões hidrológicas, uma vez que a pluviosidade se manteve baixa, com eventuais racionamentos praticados. Assim, esta sobrecontratação também foi benéfica para os números robustos apresentados pela EDP.
Dessa forma, verificamos que o aumento significativo do reajuste tarifário, impactado pela alta do IGP-M, a sobrecontratação e a compensação do GSF no período foram elementos chave para o bom desempenho da companhia, apresentando o melhor resultado de sua história, pelo terceiro ano consecutivo. O controle eficiente de seus custos gerenciáveis também foi um ponto crítico para seu bom desempenho, tendo apresentado uma queda de seu PMSO consolidado recorrente 2,8 por cento no a/a e queda de 3,6 por cento no acumulado no ano.
Análise Complementar
Somado ao bom fechamento de 2020, a companhia conta com a chegada de seu novo presidente, João Marques da Cruz, que será responsável por dar continuidade aos projetos de expansão desta nos segmentos prioritários da companhia no país de distribuição, transmissão e geração de energia distribuída. Miguel Setas, o ex-presidente, que deixou o cargo na última sexta-feira (19), afirmou que a EDP continuará com seus investimentos/aquisições no segmento de transmissão, além de investimentos em suas concessionárias de distribuição (SP e ES), bem como na Celesc, estatal na qual é a principal acionista privada. Também adiantou a intensificação de projetos nos segmentos renováveis, como a geração solar, onde pretendem desenvolver usinas de pequeno, médio e grande porte.
Miguel Setas tornou-se presidente do Conselho de Administração da EDP Brasil e continuará a acompanhar a evolução dos negócios da companhia no Brasil enquanto atua paralelamente em novas funções junto à matriz portuguesa. João Marques da Cruz atuou por 15 anos como membro do conselho de administração executivo da EDP de Portugal, além de ter sido diretor-geral da TAP e presidente do Instituto do Comércio Externo de Portugal (ICEP). A expectativa é que o executivo continue o excelente trabalho que a companhia vem performando.