A Tesla (TSLA) publicou nesta segunda-feira (8) o seu Formulário 10-K, relatório anual obrigatório emitido por todas as companhias de capital aberto nos Estados Unidos. No capítulo sobre riscos, a companhia informou que modificou em janeiro deste ano a sua política de investimentos para permitir a alocação em “ativos de reserva alternativos”, tais como ouro, fundos lastreados em ouro e ativos digitais. Logo na sequência, ela anunciou que adquiriu cerca de 1,5 bilhão de dólares em Bitcoins.
Ela também anunciou que pretende aceitar em breve a moeda como meio de pagamento nos seus negócios, observando as “leis aplicáveis” e apenas em uma “escala limitada”.
Contabilmente, a Tesla terá que classificar o investimento no balanço como um “Ativo Intangível de Vida Indefinida”. Na prática, isso significa que ela terá que marcar o ativo a mercado em toda divulgação e realizar os ajustes necessários nos seus resultados, o que pode influenciar nas suas margens operacionais em caso de queda no nível de preços do Bitcoin.
E Eu Com Isso?
Na sessão desta segunda-feira (8), as ações da Tesla (TSLA) apresentaram uma performance acima do índice S&P 500: alta de 1,3 por cento contra 0,74 por cento. O anúncio também gerou euforia na cotação do Bitcoin, que fechou em alta de 14,2 por cento. Ao que tudo indica, o movimento de alta deve continuar nesta terça-feira (9).
Enxergamos a nova política de investimentos da Tesla bastante ousada, em consonância com o estilo de gestão Elon Musk. Na nossa visão, porém, a necessidade de realizar revisões periódicas no valor do ativo pode gerar volatilidade nas suas margens no futuro. Embora não tenha efeito-caixa, essa questão tem potencial de atrapalhar a interpretação do mercado em seus números.
Por exemplo: caso o preço do Bitcoin caia 20 por cento desde o momento da compra até o fim deste trimestre, a Tesla terá que passar 300 milhões de dólares no seu resultado na linha de despesas. Isso poderia reduzir a sua margem operacional em aproximadamente 3 por cento em determinado trimestre.
Sobre a sua utilização enquanto na “economia real”, seguimos reticentes com seu uso enquanto moeda. Os livros de economia monetária nos ensinam as funções básicas de uma moeda: unidade de conta – e isso ela é, reserva de valor e meio de troca. Sobre estas duas últimas funções, ainda não enxergamos a sua capacidade em atender de forma plena tais requisitos.
A elevada volatilidade do ativo reduz a sua capacidade de reservar valor, o que também pode desincentivar o seu uso enquanto meio de troca no futuro. Na nossa visão, foi justamente a perspectiva de ela ser utilizada em breve por uma companhia de grande relevância e o incentivo de um dos empreendedores mais conhecidos no mundo que animaram os investidores.