Divulgada na manhã desta terça-feira (15) a Ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de 2020 mostra claramente que o Banco Central (BC) não está muito otimista com a recuperação da economia em 2021, o que pode indicar que os juros ainda vão demorar mais do que o esperado para voltar a subir.
Em seus 22 parágrafos, a Ata consegue mostrar a cautela do BC apesar da linguagem neutra. Isso surge logo no parágrafo 2: “a incerteza sobre o ritmo de crescimento da economia [brasileira] permanece acima da usual, sobretudo para o período a partir do final deste ano, concomitantemente ao esperado arrefecimento dos efeitos dos auxílios emergenciais.” E isso se repete no parágrafo 12: “os dados recentes continuam refletindo uma recuperação desigual da atividade econômica [brasileira]. Prospectivamente, a pouca previsibilidade associada à evolução da pandemia e ao necessário ajuste dos gastos públicos a partir de 2021 aumenta a incerteza sobre a continuidade da retomada da atividade econômica”.
No parágrafo 11, o Copom mostra que o cenário internacional também não é dos melhores. “No curto prazo, a ressurgência da pandemia e o consequente aumento do distanciamento social em algumas das principais economias devem interromper a recuperação da demanda”, apesar de não descartar uma recuperação mais robusta no médio prazo, dependendo dos resultados da vacinação em massa.
Em vários parágrafos, a Comitê descarta os riscos de inflação. “Apesar da pressão inflacionária mais forte no curto prazo, o Comitê mantém o diagnóstico de que os choques atuais são temporários” consta do parágrafo 6. “As expectativas de inflação permanecem ancoradas”, está claro no parágrafo 12.
Tudo isso leva à única conclusão possível. Apesar da elevação da inflação, que está batendo recordes em 2020 (LEIA MAIS ABAIXO) e da perspectiva de o BC abandonar o “forward guidance” que foi criado na 232ª reunião do Copom, em agosto, não se espera um aumento dos juros no curto ou mesmo no médio prazo. A última Ata do ano foi muito mais “dovish” do que o esperado, e até mais do que o próprio Comentário divulgado na semana passada.
Indicadores I
O Índice Geral de Preços – 10 (IGP-10) variou 1,97 por cento em dezembro, abaixo dos 3,51 por cento registrados em novembro, informou nesta manhã a Fundação Getulio Vargas (FGV). De janeiro e dezembro de 2020, o índice acumulou alta de 24,16 por cento. Em dezembro de 2019, o índice subira 1,69 por cento e acumulava elevação de 6,39 por cento em 12 meses. Segundo a FGV, a principal contribuição partiu do Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA) que subiu 2,27 por cento em dezembro e 33,05 por cento em 12 meses. O Índice de Preços ao Consumidor (IPC) subiu 1,27 por cento em dezembro ante 0,55 por cento em novembro, e fechou o ano com alta de 4,72 por cento, acima da meta de inflação. O Índice Nacional dos Custos da Construção (INCC) subiu 1,12 por cento em dezembro ante 1,51 por cento em novembro. No ano, a alta foi de 8,50 por cento.
Indicadores II
No mês de novembro, o superávit da balança comercial foi de 3,7 bilhões de dólares, o que levou a um saldo positivo de 51 bilhões de dólares no acumulado do ano. Nesse mesmo período em 2019, o saldo acumulado havia sido de 42 bilhões de dólares. A causa foi a queda de 2,6 por cento nas importações nos 12 meses até novembro, mais acentuada que a queda de 1,2 por cento nas exportações nesse período, informou a FGV.
E Eu Com Isso?
A perspectiva de juros baixos no Brasil e o fato de o Colégio Eleitoral americano ter chancelado a vitória do democrata Joseph Biden (LEIA MAIS ABAIXO) estão animando os investidores no início do dia, com altas nos contratos futuros de Ibovespa e do índice americano S&P 500.