Uma das medidas mais urgentes para conter o avanço da dívida pública nos próximos anos é a venda de ativos e privatizações por parte do Governo Federal. A mais importante delas deve ser a polêmica privatização da Eletrobras (ELET3/ELET6), que o governo pretende realizar em duas etapas.
A primeira seria uma capitalização mediante oferta subsequente de ações (follow-on) primária. Neste caso, a Eletrobras emitiria novas ações e a União não participaria da transação, o que resultaria na diluição da sua participação e na perda do controle estatal. Com os recursos levantados, a companhia iria pagar uma outorga para o Tesouro Nacional e renovaria a concessão das suas hidrelétricas por mais 30 anos.
Após a destinação dos recursos levantados na oferta, a equipe do governo prevê que as ações da Eletrobras valorizem aproximadamente 50 por cento. A estimativa da equipe econômica é que a companhia passe a negociar a um múltiplo Preço sobre Patrimônio Líquido de pelo menos 1,2 vezes (0,8 vezes atualmente).
A segunda etapa viria da privatização de fato, com a União, o BNDES e o BNDESPar vendendo suas respectivas parcelas remanescentes no capital da Eletrobras, que, de acordo com os cálculos do governo, poderia valer 62 bilhões de reais. O governo ficaria apenas com uma “Golden share” (super ação), sendo, assim, capaz de intervir em algumas decisões estratégicas. A “Golden share“, entre outras medidas, foi reincluída nas negociações políticas para diminuir a resistência da aprovação do Projeto de Lei, necessário para a privatização, no Congresso.
E Eu Com Isso?
A privatização da Eletrobras – como qualquer processo deste tipo no Brasil – é uma novela plurianual com capítulos nem sempre animadores para a ala mais “liberal” do governo e da sociedade.
Ao longo desta semana, os rumores de privatização voltaram a agitar o mercado e as ações ordinárias ELET3 – curiosamente a mais líquida e representativa do capital social – sobem 2,9 por cento, contra alta de 1,5 por cento do Ibovespa.
Acreditamos que a notícia de hoje não deve fazer preços e esperamos impacto neutro no preço das ações da Eletrobras (ELET3/ELET6) no curto prazo.
Porém, quaisquer movimentações em Brasília a respeito do assunto podem voltar a interferir no preço das ações da empresa. Um exemplo recente foi o apagão no Amapá, fato que colocou as discussões a respeito do modelo privado na cadeia de energia novamente em cheque.
Dessa forma, as ações da companhia nem sempre acabam refletindo os seus fundamentos, e as suas ações ganham um caráter especulativo/de maior risco. A volatilidade anualizada das ações (métrica geralmente utilizada para medir risco) no ano está na casa dos 75 por cento contra 46 por cento do Ibovespa.
Conforme vimos falando, temos uma visão mais cética quando se trata do assunto privatização, em especial no caso de empresas do porte da Eletrobras.