A rotina é bem conhecida. O principal executivo da autarquia americana conhecida como Administração de Serviços Gerais (General Services Administration ou GSA, na sigla em inglês) envia um comunicado à liderança da campanha do candidato presidencial que venceu as eleições, colocando os recursos do GSA à disposição para a transição de poder. É um ato burocrático, conhecido como “ascertainment” ou averiguação, que representa apenas o primeiro movimento formal do Executivo para começar a transição. Porém, como os tempos são em grande parte inéditos, o mero envio desse comunicado serviu para tranquilizar os mercados na tarde da segunda-feira. O comunicado de Emily Murphy, diretora da GSA, significa que a equipe de Joe Biden, vencedor do pleito, poderá ter acesso às agências federais e aos dados do governo, e também à verba de 6,3 milhões de dólares destinada para custear a troca de comando.
No entanto, Biden não está esperando para escolher sua equipe. Ao contrário, algumas de suas escolhas prometem ser históricas. Espera-se que ele indique Janet Yellen para a Secretaria do Tesouro, cargo equivalente ao de Ministro da Economia. Yellen presidiu o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) durante o segundo mandato de Barack Obama, sucedendo Ben Bernanke. A avaliação é que ela fez um excelente trabalho, mas Donald Trump a substituiu. Janet Yellen conhece profundamente o mercado de trabalho americano, e é considerada uma técnica muito qualificada para manejar as políticas de auxílio à economia. Além disso, Biden já confirmou a indicação de Antony Blinken para a Secretaria de Estado, cargo semelhante ao ministro-chefe da Casa Civil no Brasil. Blinken foi o principal assessor de política externa de Biden, o que mostra uma disposição para uma política mais global.
As escolhas não pararam por aí. Biden poderá indicar Avril Haines para a inteligência nacional. Haines é ex-funcionária da CIA e será a primeira vez que uma mulher vai assumir o cargo. Também poderá ser a primeira vez que um hispânico assuma o Departamento de Segurança Interna. Alejandro Mayorkas, nascido em Cuba, pode ser o indicado para dirigir o Department of Homeland Security, que executou as medidas mais duras da política anti-imigração de Trump. Outro nome a ser indicado é o do ex-secretário de estado de Obama, John Kerry, que poderá ser o responsável pelo clima. Kerry é um entusiasta da participação americana no Acordo de Paris, do qual Trump retirou os Estados Unidos, e sua indicação indica um comprometimento mais elevado com as mudanças climáticas.
Indicadores
Influenciada pelos alimentos, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), considerado uma prévia da inflação ficou medida pelo IPCA, em 0,81 por cento em novembro. Foi o maior índice para o penúltimo mês do ano desde os 0,85 por cento registrados em 2015, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A taxa de novembro ficou 0,13 ponto percentual abaixo do 0,94 por cento registrado em outubro. No ano, o índice acumula alta de 3,13 por cento. Já o acumulado dos últimos 12 meses é de 4,22 por cento contra 3,52 por cento registrados nos 12 meses imediatamente anteriores. Em novembro de 2019, a taxa foi de 0,14 por cento.
Os impactos das escolhas de Biden por aqui
As indicações de Biden mostram um governo americano mais alinhado com a globalização, o que pode reduzir as tensões internacionais e aumentar o apetite pelos riscos, beneficiando economias emergentes como o Brasil. Por isso, os contratos futuros do índice americano S&P 500 estão subindo 0,6 por cento na abertura, ao passo que os contratos futuros do Ibovespa avançam pouco mais de 0,3 por cento. O cenário é positivo, porém, devido ao feriado americano do Dia de Ação de Graças na quinta-feira (26), o volume de negócios do mercado está abaixo da média, o que pode amplificar a volatilidade.