Uma frase recorrente no mercado é “contra fluxo não há argumentos”. Por isso, a melhor maneira de explicar a sustentação das cotações nos últimos dias é o retorno do dinheiro internacional ao pregão. As estimativas são de que, nos nove primeiros dias deste mês, o ingresso de recursos internacionais no mercado foi de quase 8 bilhões de reais. Apenas na segunda-feira (9), a entrada foi de 4,5 bilhões de reais. Não por acaso, o primeiro pregão da semana movimentou quase 40 bilhões de reais, um recorde. E, também não por acaso, o Ibovespa avançou 2,56 por cento e as cotações do dólar recuaram para 5,388 reais, baixa de 0,1 por cento em relação à sexta-feira (6).
Há dois grandes motivos para explicar a retomada do interesse internacional pelas ações brasileiras. A primeira é a confirmação da vitória de Joseph Biden na eleição presidencial americana, que estampou os noticiários no sábado (7). A vitória do candidato democrata veio na medida. Foi indiscutível, mas não foi acompanhada da esperada “onda azul”, em que os democratas levariam a Presidência, manteriam o controle da Câmara dos Deputados e conquistariam a maioria no Senado americano. Se isso tivesse ocorrido, seria fácil aprovar medidas intervencionistas que desagradam ao mercado. Com a maioria republicana no Senado, as propostas serão mais equilibradas. E espera-se que Biden seja menos belicoso em suas relações com os demais países do que Trump, o que vai favorecer o comércio internacional. Em especial com a China, um grande parceiro comercial do Brasil.
O outro motivo para a alta foi o anúncio pelo laboratório americano Pfizer de uma vacina com 90 por cento de sucesso na prevenção do coronavírus. Confirmada ou não, viável ou não, a vacina é a primeira de várias que estão sendo testadas. E seu sucesso permite tentar prever uma data em que o coronavírus estará controlado, o que aponta para uma tentativa de normalização das relações econômicas. Claro que o mundo pós-vacina será radicalmente diferente do que era antes do surgimento da pandemia. No entanto, a existência de uma prevenção que dispense as medidas de isolamento social vem sustentando a alta do petróleo e de várias commodities. Não por acaso, uma das principais altas na B3 foram as ações da Petrobras.
Esse movimento foi ajudado pelos preços relativos. Passada a incerteza da eleição e com uma vacina viável aparentemente a caminho, fica claro que os ativos brasileiros estão muito baratos em dólar. Mesmo considerando-se uma taxa de câmbio abaixo de 5,40 reais, as ações brasileiras estão sendo negociadas a preços muito convidativos.
INDICADORES – O setor de serviços cresceu 1,8 por cento em setembro em comparação com agosto. Foi a quarta alta consecutiva. O ganho acumulado de 13,4 por cento nesse período, no entanto, ainda é insuficiente para compensar as perdas de 19,8 por cento acumuladas de fevereiro a maio. Assim, o volume de serviços ainda se encontra 18,3 por cento abaixo do recorde histórico, alcançado em novembro de 2014 e 8,0 por cento abaixo de fevereiro de 2020. Os dados são da Pesquisa Mensal de Serviços (PMS), divulgada hoje (12) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Os contratos futuros de Ibovespa iniciam a sessão com uma leve alta, na contramão dos mercados internacionais e dos contratos futuros de S&P 500. Na sessão de ontem ocorreu o inverso: queda no Brasil e avanço nos pregões internacionais. Apesar de não se descartar a hipótese de uma realização de lucros no curto prazo, o cenário permanece positivo.
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