O movimento dos mercados nesta sexta-feira (20) está sendo marcado pelo peso das declarações das autoridades econômicas, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos. Por aqui, os investidores ainda calculam o impacto da fala de Paulo Guedes na quinta-feira (19), quando o ministro da Economia aventou a hipótese de o País vender parte de suas reservas internacionais para reduzir a dívida pública. Nos Estados Unidos, a questão é a continuidade ou não de programas de estímulo à economia instituídos durante a pandemia, e que poderão ser cancelados devido à troca de governo.
Começando pelo Brasil. Desde antes da estabilização da economia, na primeira metade dos anos 1990, o debate sobre as reservas cambiais emerge periodicamente. Sua acumulação acelerou-se a partir de 1992, quando o Brasil começou a praticar uma taxa de juros consistentemente mais alta do que a internacional, e manteve uma taxa de câmbio consistente com a inflação. Isso atraiu bastante capital internacional, o que permitiu a consolidação de reservas cambiais. Foram elas que serviram como fiança nos primeiros anos do Plano Real, e foram elas que permitiram ao Banco Central (BC) enfrentar ao trauma da flutuação do câmbio no início de 1999 sem que a economia caísse em uma hiperinflação nem tivesse de recorrer ao calote dos compromissos externos.
Mesmo durante a trágica aventura econômica do governo de Dilma Rousseff, quando o BC foi leniente com a inflação, não se aventou a hipótese de tocar nas reservas. Ainda hoje, esse enorme ativo em moeda forte garante a solvência para os investidores internacionais. Se o investidor mudar de ideia e resolver tirar seu dinheiro do País, as reservas garantem que haverá dólares para ser entregues. Com cerca de 360 bilhões de dólares, elas são o principal ativo monetário do governo brasileiro. Não são tão grandes quanto as estatais e as propriedades da União, mas são líquidas e denominadas em moeda forte. Por isso, sua gestão, que deveria ser eminentemente técnica e decidida com base apenas em critérios econômicos, carrega um componente político elevado e potencialmente volátil. Assim, essa declaração de Guedes pode trazer volatilidade ao mercado de câmbio nesta sexta-feira.
Já nos Estados Unidos, o ruído político também está afetando a gestão da economia. Steve Mnuchin, secretário do Tesouro americano (o equivalente a ministro da Economia) solicitou que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) devolva 70 bilhões de dólares emprestados pelo Tesouro para programas de estímulo à economia. Além disso, Mnuchin informou que alguns desses programas, que expiram no dia 31 de dezembro, não serão renovados. Assim, 2021 deverá começar com a economia mais incerta, algo visto como uma tentativa de piorar os primeiros dias da gestão do presidente eleito Joseph Biden, cuja posse está prevista para 21 de janeiro. Inédita em tempos de crise, essa divergência entre o Tesouro e o Fed – que vem mantendo o estímulo à economia – acrescenta mais volatilidade ao mercado.
A sexta-feira começa com os contratos futuros do Ibovespa e com os contratos futuros do índice americano S&P 500 próximos à estabilidade. Por aqui, os negócios devem ser esvaziados devido ao feriado parcial do Dia da Consciência Negra, cuja celebração foi antecipada em parte devido à pandemia, o que favorece o aumento da volatilidade. No entanto, o movimento geral do mercado brasileiro permanece positivo.
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