Duas notícias, uma internacional e outra 100 por cento brasileira, azedaram o humor dos investidores no fim da tarde da quarta-feira (18). A notícia internacional foi a decisão da cidade de Nova York de fechar as escolas após a taxa de contaminação dos estudantes superar 3 por cento. A decisão foi anunciada na tarde de ontem. Não foi exatamente uma surpresa. Desde o fim das férias escolares de verão no Hemisfério Norte, que em geral cobrem os meses de julho e de agosto, pais, professores e autoridades estavam monitorando de perto a taxa de infecções escolares pelo coronavírus. Até o início de novembro havia uma esperança de que o percentual de casos permaneceria em um patamar baixo o suficiente para garantir a continuidade das aulas presenciais. No entanto, a decisão da quarta-feira provou o contrário.
O fechamento das escolas, ainda que temporário, foi o proverbial balde de água fria nas expectativas dos investidores. Até ontem, a esperança era de que seria possível controlar a proliferação da Covid-19 até que pelo menos as três vacinas mais promissoras, da Pfizer, do Moderna e da Sinovac, chegassem ao mercado. No entanto, a decisão de suspender as aulas mostrou que ainda não é possível descartar a hipótese de manter as medidas de isolamento social por mais tempo. O reflexo sobre os mercados internacionais foi forte na quarta-feira, e deverá continuar reverberando nesta quinta-feira.
Por aqui, a notícia ruim veio do campo fiscal. A agência de classificação de risco Fitch afirmou ontem que manteve a classificação de risco da dívida soberana brasileira em BB-, ainda dois degraus abaixo do que é considerado grau de investimento. No entanto, a notícia ruim foi a que a perspectiva foi rebaixada de estável para negativa devido aos níveis elevados do déficit fiscal e da dívida pública em 2020. Na linguagem formal das agências, isso quer dizer que a probabilidade de a nota brasileira ser rebaixada no futuro é maior do que a probabilidade de ela permanecer estável.
A Fitch alertou para os riscos do cenário político atual do País, afirmando que eles dificultam o progresso das reformas estruturais e a consolidação fiscal. Segundo a agência, as dúvidas a respeito do compromisso dos políticos com a situação das contas públicas são os maiores riscos da nota brasileira. O respeito ao teto de gastos é visto como essencial para que o País não piore na escala de classificação. “Na visão da Fitch, a flexibilização do teto de gastos para acomodar novas despesas pode prejudicar essa âncora e a confiança do mercado”, diz o comunicado. “Apesar de a equipe econômica estar comprometida em retomar sua agenda de reformas em 2021, o ambiente político permanece fluido, reduzindo a visibilidade e previsibilidade do processo”, acrescentou a agência.
As duas notícias, do fechamento das escolas e do possível rebaixamento da classificação de risco brasileira, fizeram o Ibovespa recuar 1,1 por cento na quarta-feira (18). No início desta quinta-feira os contratos futuros do índice brasileiro apresentam uma leve alta, e os contratos futuros do índice americano S&P 500 estão indicando uma leve baixa. Apesar de o fluxo de recursos internacionais ainda justificar uma valorização das ações, não se descarta uma sessão de volatilidade.
–
* Este conteúdo faz parte do nosso boletim diário: ‘E Eu Com Isso?’. Todos os dias, o time de analistas da Levante prepara as notícias e análises que impactam seus investimentos. Clique aqui para receber informações sobre o mercado financeiro em primeira mão.