Muita gente já está pensando no final do ano… Como vai ser com a pandemia ainda presente? Dá para viajar, ver os parentes, amigos? Só que, pensando em economia ainda tem coisa demais para acontecer nesses dois meses. No Brasil, toda a transição econômica ainda está para ser definida.
Deixaram a conversa para depois das eleições porque rusgas políticas podem adiar decisões relevantes para o próximo ano. 2021 pode começar sem orçamento aprovado, sem o governo tendo autorização para gastar, até para custeio da máquina, porque há toda uma disputa política para a formação da Comissão Mista do Orçamento. Sem esquecer das recentes trocas de acusações entre Legislativo e Executivo, sobre quem estaria obstruindo a pauta.
Há risco de a PEC Emergencial atrasar mais ainda, não trazendo o alívio esperado em termos de margem para cortes urgentes de despesas, de forma a assegurar o respeito ao teto de gastos. Recado que seria importantíssimo para dar alguma estabilidade para o mercado.
Fora o Renda Cidadã, que continua nos planos do governo e de lideranças no Congresso, mas sem propostas mais bem elaboradas de financiamento. Programa que, se bem estruturado, com responsabilidade, poderia garantir a transição para o fim do auxílio emergencial, sem uma ruptura total com um estímulo que tem sido dos mais relevantes na retomada da atividade.
Além disso. Há inflação rodando em patamar bem acima do previsto, principalmente no atacado, com alguma ameaça potencial ao centro da meta do próximo ano, que será menor que o deste. Sendo que os índices de preços ainda podem sofrer pressão pelas incertezas fiscais e outros fatores que têm empurrado o dólar para cima.
O cenário externo também não anda dos mais favoráveis. Aí vem o Banco Central, meio na contramão das expectativas, com o discurso que é possível até dar um estímulo adicional à atividade – leia corte dos juros – quando boa parte do mercado já considera a possibilidade de algum ajuste, pra cima, da Selic em dezembro, última reunião do Copom neste ano.
O BC parece desconsiderar os riscos potenciais para a inflação, relacionados, principalmente, às incertezas fiscais. Sendo que, não por outro motivo, a curva de juros está se mantendo bem acima da taxa básica, encurtando e encarecendo a dívida pública.
E no contexto dos desafios de final de ano ainda tem a nova onda de coronavírus e de restrições de atividade na Europa; as eleições nos Estados Unidos; as eleições municipais por aqui, que podem configurar um cenário político menos polarizado para 2022; as dificuldades de avanço dos investimentos e das reformas no âmbito doméstico; o desemprego elevado e a retomada desigual de atividade, com desequilíbrios até entre oferta e demanda.
Por todo esse caminho ainda a ser trilhado, cheio de obstáculos, os dois meses que faltam para a virada do ano parecem bem distantes. Sem esquecer da distância que ainda teremos de percorrer até uma vacinação em massa, que nos livre do mal maior que tivemos de encarar em 2020, que foi a pandemia do coronavírus. Já é certo que 2021 vai começar carregando muito do que gostaríamos de deixar para trás, neste ano, que está difícil terminar.