O presidente Jair Bolsonaro, por meio das suas redes sociais nesta terça (15), anunciou que desistiu de criar o programa Renda Brasil neste mandato e, portanto, vai manter o Bolsa Família.
Em vídeo mais enérgico, o presidente desautorizou, mais uma vez, a proposta da equipe econômica para compensar os gastos com o novo programa. Dessa vez, a ideia era congelar salários de aposentados e pensionistas. Insatisfeito com a medida, que seria impopular, Bolsonaro insinuou que quem lhe apresentasse tal projeto seria demitido – “cartão vermelho”.
Como comentei ontem mesmo, a ideia envolvendo o congelamento de benefícios previdenciários era uma ideia estudada pela equipe de Paulo Guedes e havia sido adiantada pelo secretário da Fazenda, Waldery Rodrigues. Ressaltei a necessidade de aprovação do presidente para o projeto continuar, o que não aconteceu, muito pelo contrário. A comunicação falha foi a gota d’água para o presidente, que resolveu arquivar, de vez, o Renda Brasil, na falta de soluções viáveis de financiamento.
Importante notar alguns aspectos desse novo capítulo envolvendo atritos entre o Planalto e o ministério da Economia. O primeiro deles deve se referir ao potencial prejuízo para a economia, em 2021, na falta de um auxílio para a população mais vulnerável. Com o fim do auxílio datado para dezembro e a não continuidade, espera-se uma revisão para baixo das projeções de PIB para o ano que vem.
Em seguida, mais uma vez o ministério da Economia foi desautorizado. Apesar do cartão vermelho não ter sido, de fato, para Paulo Guedes (o recado foi, na verdade, para Waldery Rodrigues – que, inclusive, tem clima para sua permanência no governo bastante comprometida), as negativas do presidente demonstram que, ao contrário do que se viu, o “Posto Ipiranga” tem cada vez menos autonomia. O ministro tendo menos força, a agenda econômica liberal é esvaziada. Ao menos, o aparente conflito do Renda Brasil com o teto de gastos, para 2021, está pacificado, mas não é exatamente uma vitória no atual contexto.
No dia de ontem, O Ibovespa acabou minimizando seus ganhos – descolando do exterior – e o dólar e DI futuros apresentaram altas, em função do político. O desgaste entre as partes deixa os investidores mais apreensivos e o aumento das incertezas envolvendo o futuro fiscal do país. Para o pregão de hoje, os efeitos já devem ser bem menos sentidos, com outras notícias sobrepostas.
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