Na noite desta terça-feira (23), em uma decisão inesperada, anunciada após o fechamento do mercado, o Banco Central (BC) ordenou que Visa e Mastercard suspendessem o início do processamento de pagamentos e transferências de recursos por meio do WhatsApp Pay. Essa funcionalidade havia sido lançada no dia 15 de junho, em uma parceria do aplicativo controlado pelo FaceBook com a Cielo, o Banco do Brasil, o Nubank e o Sicredi.
O regulador antitruste, Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) também ordenou a suspensão da parceria. Como a Cielo possui alta participação no mercado de pagamentos e o WhatsApp possui uma vasta base de usuários (estima-se mais de 100 milhões de pessoas no Brasil), o acordo poderia dificultar a replicação de um serviço e outros concorrentes semelhantes, com alto potencial de prejudicar a concorrência no mercado.
Como o acordo não foi enviado para análise com antecedência, o regulador optou por suspender a iniciativa.
No pregão de 15 de junho, dia do anúncio da novidade, as ações da Cielo (CIEL3) chegaram a subir 35 por cento e fecharam em alta de 14 por cento. A empresa é a única adquirente listada na B3. Agora, parte dessa alta deve ser revertida e esperamos por um impacto negativo nas as ações da Cielo no curto prazo.
O Banco Central (BC) não quer abrir as portas para o estabelecimento de um monopólio virtual de pagamentos, ainda mais controlado por uma empresa internacional, que não está sujeita à fiscalização do BC.
No comunicado, divulgado pelo BC, a autoridade monetária afirma que a motivação para a decisão é “preservar um adequado ambiente competitivo, que assegure o funcionamento de um sistema de pagamentos interoperável, rápido, seguro, transparente, aberto e barato”. Esse é o objetivo que o próprio Banco Central espera alcançar com seu recém-lançado sistema de pagamentos instantâneos (PIX), que deve entrar em operação em novembro.
O PIX também não cobrará tarifa de pessoas físicas e vai permitir serviços de saques em redes varejistas como alternativa ao sistema bancário. Mais detalhes serão dados apenas na próxima reunião do Fórum de Pagamentos Instantâneos, em agosto.
A entrada do WhatsApp no mercado brasileiro de pagamentos não se trata apenas de proporcionar às centenas de milhões de brasileiros – muitos deles desbancarizados – mais uma maneira de pagar contas e transferir dinheiro. Também representa a entrada das gigantes de tecnologia no mercado bancário brasileiro através do Facebook. A principal inovação seria a dispensa do uso das tradicionais maquininhas.
Apesar de o aplicativo não divulgar formalmente o número de usuários que possui no País, a estimativa é que esse contingente supere 100 milhões de pessoas, o que é muito mais que a clientela dos grandes bancos de varejo. Não por acaso, a notícia movimentou o mercado.
Definitivamente os tempos de domínio da Cielo no mercado de pagamentos ficaram para trás, com forte aumento da concorrência em plataformas abertas e mudanças na regulamentação do setor.
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