Para essa entidade chamada mercado, as declarações do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), cargo atualmente ocupado por Jerome Powell, só perdem em importância para as falas do presidente dos Estados Unidos. Powell falou na quarta-feira (13). Suas declarações têm de ser interpretadas com um grão de sal, em função disso, dediquei uma parte relavante da minha análise (abaixo) para a fala de Powell que terá uma grande repercussão nos mercados mundiais.
O presidente do Fed disse descartar a hipótese de mandar os juros americanos para baixo de zero. Em uma conversa virtual com o presidente do Instituto Peterson de Economia Internacional, Adam Posen, Powell disse que o Fed continuaria contando com outras ferramentas em seu arsenal, incluindo o “forward guidance” (orientações futuras). Powell falou sobre os programas de empréstimos e sobre a compra de títulos pelo Fed. Ele lamentou o custo humano e social da pandemia. No entanto, uma de suas declarações – e, no caso dos banqueiros centrais, cada palavra conta – permite deduzir que, para o Fed, as medidas de socorro são temporárias. “Quando esta crise acabar, colocaremos essas ferramentas de lado”, disse ele.
Powell também disse que a crise está sendo enfrentada e observou que as perspectivas permanecem altamente incertas e que o Fed pode precisar adotar medidas adicionais no futuro. Ele pediu ao governo que considere um estímulo adicional à política fiscal. “É importante lembrar que o Fed tem poderes para emprestar, mas não para gastar”, disse Powell, que disse acreditar que o desemprego vai atingir seu máximo em breve e que o mercado de trabalho começar a se recuperar quando os estados reabrirem gradualmente suas economias.
Ele observou a força sem precedentes das medidas fiscais e monetárias já tomadas, mas enfatizou a importância de garantir que a mais profunda queda desde a Grande Depressão não saia de controle. O Fed reduziu sua taxa de referência para quase zero e instituiu vários programas de empréstimos e liquidez, enquanto o Congresso destinou quase 3 trilhões de dólares em fundos de resgate.
Powell alertou que o retorno ao nível anterior de emprego antes da crise levará muito tempo, mas não é impossível. “O escopo e a velocidade dessa crise não têm precedentes modernos, são significativamente piores do que qualquer recessão desde a Segunda Guerra Mundial. Estamos vendo um severo declínio na atividade econômica e no emprego, e os ganhos de emprego da década passada já foram apagados”, afirmou Powell. No entanto, ele disse que “a recuperação pode ocorrer mais lentamente do que gostaríamos, mas ocorrerá.”
INDICADORES – O Departamento do Trabalho dos Estados Unidos divulgou que os pedidos iniciais de seguro-desemprego na semana até 9 de maio foram 2,981 milhões, uma queda de 195 mil em relação à semana anterior. Apesar de um patamar elevado, o nível de pedidos de seguro-desemprego vem se estabilizando. Além disso, o Departamento do Trabalho informou que a taxa de desemprego está se estabilizando. O desemprego ficou em 15,7 por cento, alta de 0,3 ponto percentual em relação à semana passada.
Os temores com a retomada econômica americana levaram a uma queda das ações. Os contratos futuros de índice Bovespa e do índice americano S&P 500 estão começando o dia em baixa. Trump também tem sua parcela de culpa na queda que veremos hoje. O presidente americano fez declarações polêmicas contra empresas chinesas que possuem capital aberto em Nasdaq, por tais empresas não seguirem algumas regras de contabilidade dos EUA.
Neste cenário de aumento da incerteza, teremos um dia negativo para os ativos locais.
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