Acabo de ver no noticiário que o Brasil já tem mais de 1.100 casos confirmados infectados com o coronavírus (Covid-19). Já são praticamente três dias seguidos de entrevistas coletivas na TV com o presidente da república, Jair Bolsonaro, o ministro da saúde, Henrique Mandetta e demais ministros do Governo Federal, longo pronunciamento seguido de sessão de perguntas e respostas.
Estou escrevendo a coluna Domingo de Valor desta semana na minha casa, pois a Levante fechou o seu escritório em São Paulo e determinou que todos os colaboradores trabalhassem em casa (home-office).
O momento é bastante sério e grave, medidas responsáveis são necessárias e muito importantes. O mais recomendável é ficar em casa, evitar aglomerações e manter distância segura (1,5 metro) de outras pessoas, sempre com higienização com álcool em gel.
Estou seguindo à risca a quarentena geral, ficando em casa e evitando contato. Confesso que estou ainda meio em choque com a velocidade do contágio e dispersão do Covid-19 pelo Brasil.
Nada mais será como antes
Uma crise sem precedentes, totalmente inesperada, um verdadeiro “cisne negro” que pegou todo mundo desprevenido, inclusive gestores de fundos de investimentos, economistas, analistas, especialistas no mercado financeiro em geral.
Quando o coronavírus surgiu na China, todos subestimaram o seu potencial de contágio e os seus impactos na economia global. Agora o momento é de pânico geral e não sabemos muito bem o que fazer com essa situação tão inusitada: todo mundo em casa, tudo fechado, o País parado e o crescimento do PIB em 2020 foi embora.
Não existe nenhum mal que dure para sempre, mas a pergunta que fica é: quando essa quarentena do coronavírus vai passar?
Antes de responder à pergunta pretendo mostrar os seis estágios de uma crise, por Tony Volpon, ex-diretor do Banco Central e atualmente economista chefe do banco suíço UBS Brasil.
Seis estágios de uma crise
Existem seis estágios clássicos de uma crise, algo meio simples, mas não trivial.
- Algo muito ruim acontece e ninguém reconhece
- Os mercados reconhecem, mas desprezam
- Os mercados entram em pânico, mas os governos não reconhecem e desprezam
- Os governos entram em pânico
- Os mercados não acreditam nos governos e se mantém em pânico
- As medidas começam a surtir efeito, o pânico domina, logo depois os mercados se recuperam
Atualmente estamos entre os estágios 4 e 5.
O estágio 1 aconteceu no final de janeiro, logo depois do ano novo lunar chinês, bolsas de valores nas máximas e nenhum problema.
Em fevereiro começaram a ser divulgadas informações sobre o coronavírus na China, o mercado reconheceu, mas desprezou (estágio 2) sem diminuir a exposição ao risco, bastante comprado em bolsa de valores.
A semana do dia 10 de março marcou o início do pânico, com forte queda nas bolsas (circuit breakers), mas os governos não fizeram muita coisa, o estágio 3.
O Federal Reserve (Fed, o Banco Central dos Estados Unidos) começou a reconhecer quando fez um corte emergencial na taxa de juros (0,5 ponto percentual), o que teve inicialmente efeito positivo no mercado, mas logo depois os mercados começaram a ficar preocupados (estágio 3 para 4).
Depois disso o Fed praticamente zerou a taxa de juros (corte de 1,0 ponto percentual), governos em pânico (estágio 4 puro), e ofereceu um pacote de recursos de 1,5 trilhão de dólares que não fez nem cócegas no mercado.
Os bancos centrais do mundo seguiram o exemplo e reduziram as taxas de juros e ofereceram auxílios monetários para aumentar a liquidez dos mercados.
Do ponto de vida de saúde, os Estados Unidos demoraram para reconhecer a gravidade do Covid-19, com medidas de prevenção à disseminação do coronavírus.
A Itália, com uma população mais idosa, foi bastante afetada e reagiu tardiamente no isolamento do país. O Brasil também está nessa curva: até a semana passada a vida era normal, todo mundo na rua e no trabalho e o Covid-19 sendo espalhado.
Finalmente essa semana o Governo brasileiro parece ter acordado para a gravidade da situação, as empresas reagiram (home-office) e as pessoas se conscientizaram que devem ficar em casa.
Tudo indica que estamos perto do fim do estágio 5, o mercado ainda continua em pânico e não acredita nos governos. Na bolsa de valores o movimento de correção foi bastante forte, com queda de 35,6% no Ibovespa em março e de 42,0% no acumulado de 2020. Parece que estamos chegando ao fim do poço, mas a volatilidade continua e no fundo do poço pode ter um alçapão.
Informações vindas da China
Eu não sou fã de teorias da conspiração, mas eu fico desconfiado com as informações sobre a economia chinesa. Um país continental que tem a maior população do globo, mas de alguma eles conseguem divulgar o resultado mensal das vendas totais do varejo no país inteiro no 5º dia do mês seguinte.
Assim, eu diria que o mundo todo acabou subestimando os impactos do coronavírus quando ele foi revelado na China. Todo mundo aceitou numa boa o isolamento total da província de Wuhan na China e pensamos que o Covid-19 não chegaria no Brasil e que os impactos na economia ficariam restritos à China.
Eu pensei que a economia brasileira seria afetada apenas na “segunda derivada”, ou seja, determinada pelo grau de desaceleração da economia chinesa, muito mais importante para as empresas brasileiras exportadoras de commodities (petróleo, minério de ferro, celulose, aço e até mesmo proteína animal).
Em nenhum momento imaginei que o Covid-19 iria afetar o consumo e o varejo brasileiro. Neste fim de semana, a cidade de São Paulo inteira deverá ficar em casa. Foram fechados shopping centers, academias, parques, cinemas, grandes eventos como shows e concertos, comércio de rua, bares e alguns restaurantes.
O que eu teria feito de diferente
Reduzir a parcela de ativos de risco, realizar posições com seguro (hedge) em ouro (ou dólar) e ficar com uma sólida posição de caixa. Além disso, reduzir participação de empresas de commodities e escolher empresas com menor nível de endividamento.
Assimetria no mercado
Tenho convicção de que as ações na Bolsa estão sendo negociadas com base no pânico/medo/emoção dos investidores e não levando em conta os fundamentos econômicos das empresas.
Podem contar comigo na hora do caos
Eu tenho 20 anos de experiência no mercado financeiro e pretendo ficar a seu lado durante esse período caótico no mercado financeiro, para explicar de maneira simples e direta sobre o que está acontecendo na bolsa de valores e quais os impactos para os seus investimentos.
Junto com os meus sócios na Levante Ideias de Investimento, prezamos muito pela educação financeira dos investidores e pela qualidade dos nossos conteúdos de análises financeiras.
Um abraço,
Eduardo Guimarães