Baixa de juros se contrapõe a medidas para conter o coronavírus
Os próximos dias serão marcados pelo ajuste do mercado brasileiro a circunstâncias desconhecidas. Não há, na História recente, registros de interrupção forçada das atividades do comércio, nem da permanência compulsória das pessoas em suas casas, trabalhando remotamente. Da mesma forma, não há memória recente de uma interrupção de todas as aulas em todas as escolas, das fundamentais às universidades. Os movimentos das autoridades e das empresas para enfrentar a pandemia do coronavírus não foram ensaiados antes, pois nunca houve nada semelhante. E como em todo terreno novo, é difícil mensurar os riscos e as oportunidades.
O que é possível saber? Em primeiro lugar, haverá uma forte retração da economia. Isso ficou claro na leitura do comunicado emitido pelo Comitê de Política Monetária (Copom), que reduziu os juros em meio ponto percentual em sua reunião da quarta-feira (18), baixando a taxa referencial Selic para 3,75 por cento ao ano.
Logo no início do comunicado, o Copom afirma que “a pandemia causada pelo novo coronavírus está provocando uma desaceleração significativa do crescimento global, queda nos preços das commodities e aumento da volatilidade nos preços de ativos financeiros”, e que “apesar da provisão adicional de estímulo monetário (…), o ambiente para as economias emergentes tornou-se desafiador”. E mesmo fazendo suas habituais advertências sobre os riscos de descontrole da inflação e sobre a necessidade de continuar com as reformas, a ata é clara. “O Copom reitera que a conjuntura econômica prescreve política monetária estimulativa, ou seja, com taxas de juros abaixo da taxa estrutural.” Tradução: será preciso manter os juros baixos, porque a economia deve desacelerar.
Isso já aparece nas estatísticas. A edição mais recente do boletim Focus, do Banco Central (BC), mostra que a estimativa de crescimento econômico recuou de 1,99 por cento em 9 de março para 1,66 por cento na segunda-feira (16). E multiplicam-se estimativas de crescimento zero, ou mesmo de recessão, para este ano. Dois bancos internacionais, coincidentemente suíços, divulgaram prognóstico pessimistas para o Produto Interno Bruto brasileiro. O Crédit Suisse informou na terça-feira (17) esperar um crescimento zero. No dia seguinte, o UBS reduziu sua projeção de crescimento para 2020 de 1,3 por cento para 0,5 por cento. Dias antes, o banco havia baixado sua estimativa, que era de 2,1 por cento.
Nos momentos em que a incerteza é tanta que coloca em xeque os próprios fundamentos da análise econômica e de empresas, as variações nos números têm de ser vistas com cautela. Nesta manhã, os contratos futuros de Ibovespa estão começando os negócios com queda superior a 6 por cento. Na ponta do lápis, a queda acumulada do índice até o dia 18 de março é de 42,16 por cento. É a segunda maior da história para esse período, só perde para os 44,42 por cento de retração registrados em 1968. Espera-se mais um dia de fortes solavancos e quedas para a bolsa, com o mercado testando se as medidas de estímulo à economia e o corte de juros pelo Copom serão suficientes para conter o pessimismo provocado pela decisão de fechar, compulsoriamente, boa parte das atividades comerciais.
MERCADOS – O comportamento dos mercados acionários na manhã desta quinta-feira mostra que a tensão continua. Na Ásia, o índice Nikkei, da bolsa de Tóquio, fechou com queda de 1,04 por cento. O índice Kospi, da bolsa de Seul, na Coreia do Sul, recuou 8,39 por cento. Na Europa o movimento foi menos linear. Ao passo que o índice britânico FTSE estava em baixa de 1,53 por cento, o alemão Dax mostrava um recuo de apenas 0,6 por cento. No entanto, os contratos futuros do índice americano Standard & Poor’s de 500 ações abriram com uma queda de 2,95 por cento.
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