Política sem Aspas, por Felipe Berenguer

Diários da CPI | Política sem Aspas

Chegou ao fim a primeira semana de funcionamento da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19, instalada no Senado Federal para apurar eventuais irregularidades e omissões do governo federal no combate ao coronavírus.

Na coluna de hoje, vamos destrinchar os principais acontecimentos desta primeira semana de comissão – as polêmicas, os pontos relevantes e as estratégias adotadas pelos grupos políticos.

A primeira semana foi bastante movimentada e relevante para o cenário político. Senadores estão praticamente todos debruçados sobre a CPI e as declarações mais recentes dos ex-ministros da Saúde, Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS) e Nelson Teich – além do depoimento do atual ministro, Marcelo Queiroga – já dão algumas pistas sobre quais caminhos serão explorados pelos integrantes do colegiado.

O foco dos depoimentos ficou restrito, nesta semana, a nomes ligados à pasta da Saúde, mas a partir da semana que vem o escopo será ampliado, com a convocação do ex-secretário de Comunicação do governo, Fabio Wajngarten, do presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antônio Barra Torres, e de um representante da farmacêutica Pfizer.

Considerado o nome mais sensível dentre os convocados, o ex-ministro e general do Exército Eduardo Pazuello se esquivou da sua sessão e alegou ter tido contato com outras pessoas que testaram positivo para o vírus. Nesse cenário, sua presença na CPI foi adiada para a semana do dia 17 de maio.

Sujeito indeterminado

Primeiro ex-ministro a dar depoimento, Luiz Henrique Mandetta ficou cerca de sete horas e meia respondendo questionamentos dos integrantes da comissão, principalmente sobre a postura do ministério e do Planalto no início da pandemia.

Por ser político e dominar o dom da retórica, o médico colocou à mesa importantes informações, mas usou e abusou do sujeito indeterminado para evitar acusações sobre falso testemunho ou falta de provas para comprovar o que foi dito. No entanto, suas declarações foram interpretadas como uma espécie de orientação para senadores – como, por exemplo, o fato de que houve, no primeiro semestre de 2020, uma minuta de decreto presidencial para que a Anvisa alterasse a bula da cloroquina a fim de tornar o remédio recomendado contra a Covid-19.

Mandetta afirmou que deixou o cargo por não concordar com o uso do medicamento no tratamento contra a Covid e por divergências em relação às restrições de circulação, em uma época que havia discussões sobre quarentena horizontal, vertical, entre outras metodologias para frear a contaminação do vírus.

O ex-ministro também comentou que havia um assessoramento paralelo para a tomada de decisão – e que estranhava a atuação do presidente, que concordava com suas opiniões, mas em dois ou três dias mudava de ideia.

Por parte da ala governista, houve esforços para associar a postura de Mandetta às mortes registradas enquanto ele esteve à frente da Saúde. Senadores da base aliada relembraram que o ministro pedia para que pessoas com sintomas permanecessem em casa ao invés de procurar um hospital, ignorando, porém, o contexto por detrás da declaração (a recomendação valia para sintomas leves e era uma forma de prevenir novas contaminações).

Mandetta ainda mencionou uma carta enviada no dia 28 de março de 2020 para o presidente Bolsonaro, em que alertava sobre a possibilidade de um colapso no sistema de saúde do País e pedia maior apoio do governo federal. Dessa forma, com prova documental, o ex-ministro se abdica de qualquer eventual responsabilização administrativa ou criminal. A carta é clara nesse sentido: “Recomendamos, expressamente, que a Presidência da República reveja o posicionamento adotado, acompanhando as recomendações do Ministério da Saúde, uma vez que a adoção de medidas em sentido contrário poderá gerar colapso do sistema de saúde e gravíssimas consequências à saúde da população”.

Dos três grandes depoimentos, esse foi o que gerou mais impacto em termos políticos, muito por conta da familiaridade de Mandetta com o xadrez da CPI e sua vontade de contribuir para a responsabilização do atual governo pelos erros cometidos nestes últimos meses. O médico também aproveitou para atacar desafetos do governo, como o ex-ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, e o ministro da Economia, Paulo Guedes. Ambos devem ser convocados para depor.

Teich, o breve, e Queiroga, o safo

 Nos dias seguintes ao depoimento de Mandetta, foram ouvidos o ex-ministro Nelson Teich, que permaneceu no cargo por menos de um mês, e o atual ministro da Saúde, Marcelo Queiroga.

Durante as seis horas que esteve na CPI, Teich respondeu questionamentos de diversos senadores, tanto da base aliada quanto da oposição. Por ter tido uma atuação discreta à frente da pasta, o ministro não teve que dar muitas explicações sobre a gestão, mas admitiu que observou uma grande falta de coordenação no combate ao vírus.

O médico também aproveitou para dar explicações sobre seu pedido de demissão, indicando a “falta de autonomia” e divergências sobre a cloroquina como os dois principais fatores. Inclusive, sobre o remédio, Teich admitiu que a decisão de aumentar a produção – por meio do Exército brasileiro – não passou pelo seu crivo e que foi contrário à distribuição do medicamento para comunidades indígenas.

Senadores também lembraram da constrangedora entrevista do ex-ministro, na qual lhe faltaram palavras ao saber, durante as perguntas, que o governo havia incluído academias e salões de beleza como serviços essenciais. Segundo Teich, essa decisão passou ao largo de sua pasta. Ao fim da sessão, o médico – que nunca havia tido ligação com o mundo político – saiu exaurido e visivelmente abalado com a série de perguntas na comissão.

Quer receber diariamente as notícias que impactam seus investimentos? Então, inscreva-se agora gratuitamente em nossa Newsletter ‘E Eu Com Isso’ e fique por dentro do que há de mais importante no mercado!

Clique aqui e saiba mais!

Já o atual ministro, Marcelo Queiroga, teve de se esquivar sobre vários assuntos ligados ao combate à pandemia e defendidos pelo governo. Questionado sobre o uso de cloroquina, Queiroga respondeu que o tema exige orientação técnica, não opinativa, além de afirmar que não poderia fazer “juízo de valor” sobre a opinião de Bolsonaro.

A postura mais defensiva do atual ministro já era esperada, mas acabou irritando senadores independentes e de oposição, enquanto alguns senadores da base aliada fizeram coro ao presidente e defenderam o medicamento, mesmo com estudos provando que ele é ineficaz no combate ao vírus.

Outro ponto de atenção recaiu sobre a contratação de vacinas. Após consulta formal do deputado Gustavo Fruet (PDT-PR), o próprio ministério divulgou que o número de 560 milhões de doses já contratadas estava inflado, à medida que apenas metade desse montante já tem, de fato, contratos fechados.

Bateu em retirada

O episódio mais curioso desta semana, porém, envolveu o único ex-ministro que não compareceu à CPI: o general Eduardo Pazuello. No início da semana, Pazuello comunicou aos integrantes do colegiado que estava com suspeita de Covid, uma vez que dois outros colegas do Exército com os quais o ex-ministro teve contato recente testaram positivo.

Dessa forma, o general teria que fazer quarentena total por 14 dias e o seu depoimento foi remarcado para o dia 19 de maio. Ocorre que, nesta quinta (6), o ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Onyx Lorenzoni (DEM-RS), prestou uma visita fora de sua agenda oficial ao general, tendo sido flagrado pela imprensa no local onde mora Pazuello.

Diante do fato, senadores já se organizam para pedir um teste de Covid para o ex-ministro e, eventualmente, autorizar a condução coercitiva para seu depoimento. Parlamentares haviam dado um voto de confiança ao membro das Forças Armadas, já que ele estaria cumprindo as exigências sanitárias no caso de suspeita de infecção. O debate segue acalorado, mas a tendência é que Pazuello consiga adiar, de fato, seu depoimento para a segunda quinzena de maio. O episódio, contudo, foi mal visto pela sociedade e pelos políticos.

Quer aprofundar mais seus conhecimentos em assuntos como mercado e política? Então leia esta minha coluna: Renan Calheiros, raposas e galinheiros.

O conteúdo foi útil para você? Compartilhe!

Recomendado para você

Crypto 101

3 Criptos de Inteligência Artificial com alto potencial em 2024 | Crypto 101

Atualmente, é necessário ir além do Bitcoin e do Ethereum para conseguir lucrar de verdade no mercado Cripto, que já começa a se movimentar como uma indústria cada vez mais robusta.
Neste contexto, o setor de Inteligência Artifical em Criptomoedas se apresenta como um dos mais promissores na nova indústria, e projetos como $OCEAN (Ocean Protocol), $FET (Fetch.ai) e $PAAL (Pluto Protocol) emergem como líderes na integração dessas tecnologias de ponta.

Participe da Comunidade Levante Crypto agora mesmo e fique por dentro das principais notícias desse mercado: https://lvnt.app/uvwfup

Read More »
Crypto 101

Ganhe Criptomoedas DE GRAÇA: Conheça os Airdrops de Criptos | Crypto 101 

Airdrops de Criptomoedas é o assunto que vem parando o mercado cripto. Como assim, é possível ganhar criptomoedas DE GRAÇA?!

Basicamente, Airdrops são caracterizados pela distribuição gratuita de tokens para detentores de uma determinada criptomoeda ou membros de uma comunidade específica.

Pela importância que o assunto vem tomando, no Crypto 101 de hoje, vamos abordar as principais características dos airdrops em artigo exclusivo.

Read More »
Crypto 101

O que é Staking de Criptomoedas e como fazer na prática? | Crypto 101

Staking de criptomoedas é um processo pelo qual os detentores de determinadas moedas digitais participam da validação e do consenso das transações em suas respectivas redes blockchain. Em essência, é a prática de bloquear uma certa quantidade de criptomoedas em uma carteira específica para apoiar as operações da rede.

Hoje em dia, para quem busca novas maneiras de operar Cripto, o Staking de Criptomoedas é uma maneira inovadora e com alto potencial.

Participe da Comunidade Levante Crypto agora mesmo e fique por dentro das principais notícias desse mercado: https://lvnt.app/uvwfup

Read More »
Crypto 101

Como Montar uma Carteira de Criptomoedas | Crypto 101

Com o avanço do universo cripto, saber como montar uma Carteira de Criptomoedas se torna cada vez mais importante.
Afinal, não é só escolher qualquer moeda digital e investir, certo?
Por isso, no Crypto 101 desta semana, vamos passar pelos tópicos mais importantes sobre o assunto.

Read More »
Manual do Trader

Cruzamento de Tendências na Análise Técnica: Estratégias para Identificar Oportunidades de Trading

Descubra como potencializar seus ganhos no curto prazo com o poderoso conceito de cruzamento de tendências! 📈💡 Neste artigo do Manual do Trader, exploramos os fundamentos do cruzamento de médias móveis e suas aplicações práticas na identificação de oportunidades de trading. Aprenda estratégias simples e eficazes para interpretar os sinais de cruzamento e maximize seus lucros nos mercados financeiros digitais. Não perca esta oportunidade de aprimorar suas habilidades de trading e alcançar o sucesso! 💰✨

Read More »

Ajudamos você a investir melhor, de forma simples​

Inscreva-se para receber as principais notícias do mercado financeiro pela manhã.