Essa é a minha segunda coluna semanal para discutir temas de Investimento em Valor. Na primeira coluna, eu expliquei o conceito de preço justo de uma ação ou empresa. Nesta segunda coluna, vou trazer um exemplo prático de cálculo de preço justo de uma empresa e o cálculo do ganho do investidor ao investir em uma ação. Para se cadastrar e receber os textos no seu e-mail, é só acessar esse link.
Com certeza você, investidor, já deve ter ouvido a expressão preço justo (preço-alvo, do inglês “target price”) para uma ação na Bolsa de Valores ou até mesmo para o Ibovespa.
O que significa o preço justo ou preço alvo de uma ação?
De volta à vida real: Lojas Americanas (LAME4), a gigante do varejo brasileiro, tem um preço-alvo médio no mercado de cerca de R$ 21 por ação, segundo a Bloomberg. A empresa é analisada por cerca de 20 analistas de mercado e o preço atual da ação é de R$ 18,76 (fechamento de 18 de abril).
Cada analista de mercado e/ou investidor utiliza as suas próprias premissas de crescimento para a empresa analisada, preços de venda dos produtos e margens conforme o setor de atuação. O consenso de mercado é uma média de todos os analistas que acompanham a empresa e fazem projeções.
Aqui eu faço uma grande ressalva: o consenso de mercado está quase sempre atrasado. Em todos esses anos trabalhando com análise de empresas, eu aprendi que o modelo de projeção serve muito mais para “brincar com os números” e fazer análises de sensibilidade ao se mudar variáveis chave do que para acertar na mosca um preço justo de uma ação.
Exemplo prático de cálculo do potencial de valorização: ação das Lojas Americanas (LAME4)
Neste exemplo, irei assumir que o preço justo da empresa é o consenso de mercado, que atualmente está R$ 21 por ação (LAME4). Fazendo uma conta em papel de pão: se eu comprei a R$ 19 e vendi a R$ 21, o meu ganho será de 10,52%.
Mas como chegar neste preço justo de uma ação ou empresa?
O preço justo de uma empresa é o valor presente dos seus fluxos de caixa futuros descontados pelo seu custo de capital. O seu cálculo requer muito conhecimento técnico e experiência.
Na primeira coluna, eu expliquei como calcular o fluxo de caixa para empresa e o fluxo de caixa para o acionista. A principal diferença entre os dois tipos de fluxo de caixa é o endividamento, ou seja, a sua variação na dívida total e o seu custo em termos de despesas com juros.
A matemática utilizada para calcular o preço justo é simples, mas projetar o fluxo de uma empresa é complexo e envolve a projeção de 10 anos de fluxo de caixa no futuro, com o último fluxo sendo levado à perpetuidade e todos fluxos trazidos ao valor presente.
Aqui é muito importante a taxa de desconto ou custo de capital utilizado. O fluxo de caixa para a empresa é descontado pelo custo médio ponderado médio de capital (WACC) e o fluxo de caixa para o acionista é descontado pelo custo de capital próprio (Ke).
O custo médio ponderado de capital (WACC, do inglês weighted average cost of capital) é, como o próprio nome diz, uma média entre o custo da dívida (após impostos) e o custo do capital próprio. A ponderação entre os dois tipos de capital no WACC é feita pela estrutura de capital, ou seja, pela relação entre dívida e capital próprio (patrimônio líquido).
“O preço justo de um ativo é determinando pelo fluxo de caixa gerado ao longo da sua vida útil e pelo grau de (in)certeza que você tem sobre esses fluxos de caixa” (Aswath Damodaran)
Quando o assunto é custo de capital e avaliação de empresas, a referência é o indiano Aswath Damodaran, o “papa” do Valuation. Ele é especialista em finanças corporativas e avaliação de ações. Recomendo a leitura dos seus livros e análises sobre avaliação de empresas. O seu livro mais famoso é “Pequeno Livro Sobre Avaliação de Empresas” (The Little Book of Valuation). No site da Universidade de Nova York, você pode encontrar muita informação gratuita sobre o tema (http://pages.stern.nyu.edu/~adamodar/).
Nos próximos encontros, irei abordar mais sobre WACC e sobre o retorno total ao acionista.
Pretendo te ajudar a entender mais sobre Value Investing e análise fundamentalista de empresas.
Continue acompanhando a minha coluna e não esqueça: se você ficou com alguma dúvida, é só mandar um e-mail para o endereço [email protected].
Conte comigo e até breve!
Um grande abraço,
Eduardo Guimarães