A invasão da Ucrânia pela Rússia continua atropelando projeções e expectativas num cenário que, para o Brasil, já não era dos mais favoráveis. Já estávamos com dificuldades no controle da inflação, com previsão de mais um estouro da meta, como em 2021, tendência de um ciclo mais longo de elevação dos juros básicos, com expansão mais fraca da economia e aumento do risco fiscal. O mercado é que vinha dando uma trégua, favorecido pelo ingresso mais forte do capital externo que, de um lado, ajuda na recuperação da Bolsa e, de outro, faz o dólar testar pisos mais baixos, ao redor dos R$ 5,00. Agora tudo isso está sob revisão.
A guerra provocou disparada dos preços do petróleo, de alimentos, especialmente trigo e milho, além dos fertilizantes e outros insumos, seja por sanções, seja por questões de logística. E aí vêm os efeitos colaterais. Paralelamente às discussões sobre medidas pra minimizar o impacto da alta do petróleo, a Petrobras já anunciou reajustes pesados para o diesel, a gasolina e o gás, ainda insuficientes para corrigir integralmente as defasagens. No embalo vão subir os preços no varejo, com pressões sobre frete, que entra na composição de outros preços, além das tarifas de transporte. Alimentação também em alta, com acvanços dos preços dos derivados dos grãos, o que inclui as rações, com efeitos sobre as proteínas, em geral. Tudo isso leva a uma revisão das projeções para a inflação, já oscilando na faixa entre 6 e 7%. A dispersão das previsões também aumentou. O que reforça a dúvida quanto à posição do Copom na reunião da próxima semana e em todo o ciclo de elevação dos juros. Na calibragem da Selic é preciso considerar que esse cenário de inflação e juros em alta compromete o potencial de expansão da economia. Sendo que, independentemente das projeções, a atividade já não vem dando bons sinais, com perda de ritmo de vários ramos de atividade, como mostrou o IBGE nos levantamentos do começo de ano, junto com a piora dos índices de confiança.
Quanto aos juros básicos fica o questionamento quanto ao efeito que um aperto maior na política do Copom possa ter sobre a inflação, agora mais pressionada pelos reflexos da guerra e não pela demanda. Demanda que pode até perder força, com os consumidores tendo de destinar fatia maior da renda para despesas básicas. Situação que, aliás, já vem de um bom tempo. A inflação tem sido muito perversa, especialmente para os mais pobres. Nem a recuperação do mercado de trabalho tem trazido maior alívio, já que tem sido muito puxada pela informalidade, por vagas mais precárias, que não reforçam a renda média, a massa de rendimentos disponível para o consumo.Os bons números do Caged mostram apenas o que ocorre no segmento formal do mercado de trabalho. É aguardar o posicionamento do Copom diante desse cenário e as sinalizações quanto aos futuros passos da política monetária, que a curvar de juros continua tentando antecipar.
Para o mercado ainda há espaço para manter uma trajetória mais favorável. Na composição da Bolsa temos as ações favorecidas e as prejudicadas pelas mudanças de cenário impostas pela guerra e pelas condições domésticas. Isso exige maior atenção dos investidores para detectar as boas oportunidades e acompanhar as oscilações. Petrobras, por exemplo, tem oscilado muito, pra cima e para baixo, em função das variações do petróleo e das discussões de medidas para reduzir impactos sobre os combustíveis. O dólar apesar da volatilidade, permanece em patamar mais próximo dos R$ 5,00, diante do bom fluxo externo, que pode prosseguir mesmo com aumento das incertezas, pela atratividade dos juros elevados e retorno das exportações de produtos básicos. Já na na renda fixa o investidor tem, potencialmente, possibilidade de ganhos crescentes, embora a inflação possa pesar no ganho real. Também por aí é importante garimpar as melhores alternativas. É o que temos: a guerra afetando e prejudicando vários indicadores no Brasil, mesmo com o País não estando mais envolvido, sequer, nas discussões referentes ao conflito.